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Polícia investiga mensagem de facção com ameaça de atacar mais pontes no CE

Viaduto da Caucaia, na BR- 020, foi alvo de explosão em ataque criminoso ocorrido na última quinta-feira (3) - 04.jan.2019 - Jarbas Oliveira/Folhapress
Viaduto da Caucaia, na BR- 020, foi alvo de explosão em ataque criminoso ocorrido na última quinta-feira (3) Imagem: 04.jan.2019 - Jarbas Oliveira/Folhapress

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

05/01/2019 14h17Atualizada em 05/01/2019 16h57

Investigadores estaduais e federais interceptaram uma série de mensagens que estariam sendo divulgadas entre criminosos das três principais facções criminosas atuantes no Ceará -- PCC (Primeiro Comando da Capital), GDE (Guardiões do Estado) e CV (Comando Vermelho) com ameaças de novos ataques e instruções para os membros dos grupos. Em uma delas, os criminosos ameaçam atacar mais pontes e viadutos do estado e fazem críticas ao novo secretário de Administração Penitenciária.

Desde quarta-feira (2), mais de 70 ataques realizados pelo crime organizado foram registrados no estado. Suspeitos não identificados incendiaram veículos, atacaram estabelecimentos comerciais e tentaram explodir a coluna de sustentação de um viaduto - que acabou sendo interditado. Durante os ataques, o governo registrou apenas um morto, em um suposto confronto com a polícia.

Segundo mensagem divulgada pelo governador Camilo Santana (PT) em suas redes sociais na tarde deste sábado, o número de presos chegava a 86.

Ao menos 300 homens da Força Nacional foram enviados ao Ceará para tentar conter a crise. Além da Força Nacional, cujo efetivo composto por policiais e militares desembarcou no estado entre a tarde de sexta-feira (4) e a madrugada de sábado (5), o governador Camilo Santana (PT) colocou em serviço quase 600 novos agentes. Como medida de emergência, turmas de 220 novos agentes penitenciários e 373 novos policiais militares que ainda não haviam começado a trabalhar foram mobilizadas e integradas ao esquema de segurança.

De acordo com a secretaria estadual de Segurança Pública, o policiamento está reforçado nos terminais de ônibus e nos principais corredores comerciais e bancários. "Os coletivos são acompanhados e monitorados. Além do policiamento ostensivo geral, equipes especializadas integram o patrulhamento", informou a pasta, por meio de nota oficial.

De 1.810 ônibus urbanos e 350 ônibus metropolitanos, apenas 108 estão operando neste sábado (5). Em cada um deles, há três policiais. 

Pichação em posto de saúde de Fortaleza com ameaças - 05.jan.2019 - Arquivo pessoal - 05.jan.2019 - Arquivo pessoal
Pichação em posto de saúde de Fortaleza com ameaças
Imagem: 05.jan.2019 - Arquivo pessoal

Mensagens

A polícia quer identificar e responsabilizar os autores das mensagens interceptadas. Há indícios de que elas partiram das facções criminosas, mas a comprovação da suspeita ainda depende de investigação. As mensagens estão sob posse de membros das polícias Civil, Militar, além de homens da Força Nacional e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), segundo a reportagem apurou.

Trata-se de mensagens em papel apreendidas em unidades prisionais e mensagens eletrônicas difundidas pela internet. Nelas, os supostos integrantes do crime organizado pregam união momentânea entre as facções para que, juntas, combatam o estado.

A união das facções, de acordo com as investigações, teria como principal objetivo retaliar a declaração do secretário da Administração Penitenciária estadual, Luis Mauro Albuquerque, que afirmou durante sua posse não reconhecer o poder das facções no estado e disse que o Ceará passaria a deixar de dividir presos de facções rivais em unidades prisionais diferentes. 

Até o fim do ano passado, membros do PCC ficavam reclusos dentro da CPPL 3 (Casa de Privação Provisória de Liberdade 3). Integrantes da GDE, que são aliados do PCC no Ceará, eram levados para a CPPL 2. E os criminosos ligados ao CV, nas CPPLs 1 e 4. Nas quatro unidades também existem presos que não têm ligação com nenhuma facção criminosa. 

Uma das mensagens apreendidas em presídios e que estão sob análise diz que "este último ataque ao viaduto foi só para mostrar que não estamos aqui de brincadeira". O viaduto em questão é o da Caucaia, na BR-020, no Ceará. Criminosos explodiram uma pilastra na quinta-feira (3). O Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) iniciou um trabalho de escoramento na estrutura, que teve risco de desabar. 

A explosão chamou a atenção do presidente Jair Bolsonaro, que escreveu em seu Twitter que é "importante sempre que possível frisarmos a necessidade de conversar com seu deputado ou senador da necessidade de se aprovar leis que permitam que as Forças de Segurança Pública possam atuar para efetivamente combatermos os criminosos que aterrorizam os cidadãos de bem no Brasil.

Bolsonaro defende que sejam aprovadas leis que garantam que agentes de segurança que se envolverem em tiroteios com criminosos não sejam punidos se os suspeitos morrerem.

Segundo a mensages, porém, a ação no viaduto poderia ser entendida apenas como um aviso. "Não queremos ser oprimidos dentro do sistema. Desta vez, demos um pequeno arranhão numa coluna do viaduto. Na próxima vez, iremos derrubar". 

"Já temos em vista mais de 20 pontes para nós explodir, vamos continuar os ataques, até que esse novo secretário seja exonerado do cargo", informa a mensagem, que é apelidada pelos criminosos como "salve".

Até ontem, a Polícia Civil do estado fazia averiguações no presídio onde estão presos ligados ao PCC. 52 foram indiciados. Outros 250 poderiam ser indiciados nos próximos dias, segundo a Secretaria da Segurança Pública. 

"As autuações [indiciamentos] impactarão negativamente na progressão de regime dos indiciados. Toda ação dentro do sistema será devidamente formalizada pela Polícia Civil, para que esses internos respondam por novos crimes praticados", afirmou o secretário da Segurança Pública, André Costa.