Médica vítima da barragem completou 35 anos um dia antes da tragédia
Primeira vítima identificada após o rompimento de uma barragem em Brumadinho, Minas Gerais, a médica Marcelle Porto Cangussu completou 35 anos um dia antes da tragédia de sexta-feira (25). Especialista em medicina do trabalho, ela fez aniversário no último dia 24.
Funcionária da Vale desde 2015, Marcelle estava trabalhando no momento em que a barragem se rompeu. A onda de rejeitos que despencou destruiu a estrutura da área administrativa da empresa. A morte de Marcelle foi confirmada neste sábado (26) pela Polícia Civil. Segundo a corporação, a identificação foi realizada com a ajuda de familiares.
Em uma rede social, o pai de Marcelle, Rimarque Cangussu, lamentou a morte da filha. "Comunico o falecimento de minha filhinha Marcelle. Na tragédia de Brumadinho", escreveu.
Uma tia de Marcelle também foi às redes sociais. "Estamos devastados", escreveu.
Além de trabalhar na Vale, a médica também atuava no Hospital Público Regional de Betim (MG). Ela se formou na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Entre seus interesses no Facebook, constam páginas em defesa dos direitos dos animais, associações médicas e grupos musicais. Na sua última publicação na rede social, em 6 de janeiro, ela compartilhou uma notícia sobre uma apresentadora norte-americana contrária às vacinas que morreu de gripe suína aos 26 anos. "[Não] Vacina mesmo não", ironizou.
Em outra publicação, Marcelle compartilhou uma postagem em defesa do SUS (Sistema Único de Saúde), em crítica à série "Sob Pressão", da TV Globo. O texto faz referência a um suposto estereótipo que a série propagaria em relação ao sistema, mostrando a saúde pública como "suja". " Ela [a série] dá força para as pessoas falarem que "ainda bem que elas têm o plano de saúde x" em vez de "o SUS é um patrimônio nacional, vamos lutar por ele", diz o texto compartilhado pela médica.
Neste sábado, a conta de Marcelle na rede social já havia sido transformada em memorial. Em postagens antigas em seu perfil, internautas escrevem palavras de conforto aos familiares e também de indignação. "Que seja feita justiça por cada uma das vítimas", escreveu uma mulher.
Em nota, a ANAMT (Associação Nacional de Medicina do Trabalho) e a AMIMT (Associação Mineira de Medicina do Trabalho) lamentaram a morte de Marcelle. "Apresentamos nossas condolências à família e reforçamos nosso pedido de rigor na investigação desta tragédia e punição exemplar dos envolvidos", diz o comunicado.
Tragédia se repete
Na sexta-feira, uma barragem da Vale se rompeu em Brumadinho (MG), a cerca de 60 km de Belo Horizonte. A tragédia aconteceu na região do córrego do Feijão, que deságua no rio Paraopeba, na Bacia do Rio São Francisco.
O rompimento acontece três anos após a queda de uma barragem da Samarco também em Minas Gerais, em Mariana, o maior da história da mineração no Brasil. A Vale é uma das donas da Samarco. O número de mortos em Brumadinho já superou o de Mariana.
Até a tarde deste sábado (26), os Bombeiros confirmavam a morte de 34 pessoas. Outras 81 estão desabrigadas e 23 foram encaminhadas a hospitais da região.
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