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O que se sabe sobre o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG)?

Do UOL, em São Paulo

26/01/2019 09h53Atualizada em 26/01/2019 19h15

Três anos após o desastre em Mariana (MG), o maior da história da mineração, uma barragem da Vale se rompeu e pelo menos outra transbordou na sequência, em Brumadinho (MG), a cerca de 60 km de Belo Horizonte. A tragédia aconteceu na região do córrego do Feijão, que deságua no rio Paraopeba, na Bacia do Rio São Francisco. 

Veja tudo o que se sabe até agora sobre a tragédia ambiental em Brumadinho (MG):

Quantos morreram?

O Corpo de Bombeiros confirmou na tarde deste sábado que 34 pessoas morreram em decorrência da queda da barragem. 

Com essa informação, a queda da barragem em Brumadinho já fez mais vítimas que o desastre ambiental de Mariana, em 2015, que deixou 19 mortos. Os oficiais informaram ainda que 296 pessoas continuam desaparecidas. Há também 81 desabrigados e 23 pessoas hospitalizadas.

Mapa Brumadinho  - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Quantas barragens se romperam?

Vale e bombeiros divergem quanto ao número de barragens rompidas. A empresa diz que uma barragem, a de número 1, se rompeu, e uma outra pode ter transbordado ao receber o excesso de material da primeira. Já o Corpo de Bombeiros afirma que foram três barragens, e não apenas uma, que se romperam.

Segundo o tenente Pedro Aihara, porta-voz dos Bombeiros, o rompimento da primeira barragem acabou sobrecarregando as outras duas, que romperam em seguida.

A chamada Barragem 1, epicentro do acidente, foi construída em 1976 e não receberia material há pelo menos três anos. Segundo o site da Vale, o beneficiamento do minério na unidade é feito a seco.

O que causou o acidente?

Ainda não sabe as causas do rompimento da primeira barragem, mas o presidente da Sociedade Brasileira de Geologia, Fábio Braz Machado, tem uma hipótese. Para ele, uma combinação de pequenos tremores de terra e problemas na conservação das barragens pode ter sido a raiz do desastre.

Os moradores da região foram avisados do rompimento?

Segundo uma moradora da região, não houve aviso. "Há poucos meses, técnicos estiveram aqui na cidade para passar instruções da sirene. Falaram que, em caso de emergência, iria tocar. Mas não foi bem assim", disse Maria Aparecida dos Santos.

O presidente da Vale, Fabio Schvartsman disse à imprensa que não sabia "se sirene funcionou".

Até onde a lama pode chegar?

Segundo o governo federal, a ANA (Agência Nacional de Águas) estima que a onda de rejeitos poderá ser amortecida na Barragem da Usina Hidrelétrica do Retiro Baixo, a 220 km do local do rompimento inicial. Mas, neste sábado, o governador de MG, Romeu Zema, afirmou que não é possível estimar o alcance da lama.

Vai faltar água na região?

A Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) informa que o abastecimento de água da região metropolitana de Belo Horizonte não será prejudicado com o rompimento da barragem. Autoridades disseram ainda que os reservatórios de água da região estão com boa capacidade e darão conta do fornecimento para a área.

Quais medidas foram adotadas pelo governo Bolsonaro?

Após dizer que a questão da Vale não tem nada a ver com o governo federal, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) criou um conselho e um comitê para monitorar os desdobramentos da tragédia.

O conselho será composto por dez ministros e será chefiado por Onyx Lorenzoni (Casa Civil). O órgão terá como objetivo "acompanhar e fiscalizar as atividades a serem executadas em decorrência da ruptura da barragem".

Já o comitê fará a gestão e a avaliação das respostas ao desastre. O grupo fará reuniões semanais e contará com representantes dos mesmos dez ministérios.

O objetivo do comitê será "acompanhar as ações de socorro, de assistência, de reestabelecimento de serviços essenciais afetados, de recuperação de ecossistemas e de reconstrução decorrentes do desastre", diz decreto assinado por Bolsonaro.

Quais medidas foram adotadas pelo governo de MG?

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), declarou que o governo do estado instalou um gabinete de gestão de crise para avaliar o incidente com as três barragens. 

"Todo o aparato do Governo de Minas foi enviado para prestar os primeiros socorros às vítimas e o suporte necessário para os moradores da região. Nossa atenção neste momento está direcionada para socorrer as pessoas atingidas", afirmou Zema.

O governo disse em nota que uma força-tarefa do estado está no local e que designou a formação de um gabinete estratégico de crise para acompanhar de perto as ações.

A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais determinou a "suspensão imediata" de todas as atividades da Vale em Brumadinho (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte, a cerca de 60 km da capital. A decisão foi tomada em reunião extraordinária no fim da noite desta sexta-feira (25), na sede do órgão, na capital do estado.

O estado também abriu uma ação contra a mineradora, e um juiz de plantão decidiu, na noite de sexta (25), bloquear R$ 1 bilhão em contas bancárias da Vale. 

O que disse a Vale?

Fabio Schvarstman, presidente da mineradora Vale, responsável pela barragem, afirmou que cerca de 427 funcionários estavam trabalhando próximo ao local no momento do rompimento da estrutura. Desses, 279 teriam sido localizados.

Segundo Schvartsman, a estrutura eclodida nesta sexta-feira estava dentro das normas e amparada por "auditorias externas, feitas com empresas internacionais". A lama que despencou da barragem no começo da tarde soterrou o centro administrativo da Vale e o restaurante onde funcionários almoçavam. 

O CEO também foi questionado sobre a revelação da Folha de S. Paulo de que a barragem de Feijão faz parte de um complexo que foi ampliado no final de 2018. "Não sei te responder, mas deve ter sido para ampliar outra barragem", afirmou.

O que dizem as agências reguladoras

principal barragem da mineradora Vale que se rompeu não estava em situação de risco, de acordo com a ANA (Agência Nacional de Águas).

Em um comunicado divulgado na noite de sexta (25), a ANA informou que a barragem não foi classificada como "crítica" pela ANM (Agência Nacional de Mineração), responsável pelas informações das barragens de rejeito de minério, para a elaboração do Relatório de Segurança de Barragens 2017.

O documento é consolidado pela ANA a partir de informações disponibilizadas pelos órgãos responsáveis pela fiscalização de barragens, a depender de seu tipo de uso (produção de energia elétrica, contenção de rejeitos de mineração ou usos múltiplos da água).

Quais as semelhanças com Mariana?

O caso de Brumadinho acontece três anos e dois meses após o rompimento de uma barragem da Samarco em um distrito de Mariana, também em Minas Gerais. A Vale é uma das controladoras da Samarco. Dezenove pessoas morreram na ocasião e milhares perderam as casas em função do vazamento de 40 bilhões de litros de lama.

Segundo o site da mineradora Vale, a barragem principal que rompeu nesta sexta-feira tinha capacidade de 12,7 milhões de metros cúbicos. Para efeito de comparação, a barragem da Samarco, operada pela Vale com a australiana BHP, tinha 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos.