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Aluno é apreendido por furtar material de R$ 8 e gera onda de doações em MG

Imagem das folhas do bloco de fichário roubado por um adolescente em Pato de Minas (MG) - Divulgação/Farley Rocha/Patos Hoje
Imagem das folhas do bloco de fichário roubado por um adolescente em Pato de Minas (MG) Imagem: Divulgação/Farley Rocha/Patos Hoje

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

13/02/2019 23h23

Um aluno de 14 anos da Escola Estadual Marcolino de Barros, em Patos de Minas (MG), a 415 km de Belo Horizonte, foi apreendido em plena sala de aula ontem à tarde após ser acusado de furtar um bloco de folhas de fichário de R$ 8 em uma papelaria próxima do colégio. Quando foi apreendido pelos policiais, o estudante do nono ano já havia utilizado três folhas do bloco.

De acordo com a PM (Polícia Militar), por volta de 12h30 de terça-feira (13), as câmeras de vigilância de uma papelaria no centro da cidade flagraram o menino furtando o bloco. Acionada, a PM constatou que o uniforme que o garoto usava era da Escola Estadual Marcolino de Barros e foi procurá-lo no colégio.

Após ser apreendido, o menino confessou o furto. Ele disse aos policiais que precisava do bloco para estudar e que sua mãe está desempregada - há sete meses.

O pai do garoto está preso, condenado por homicídio, e não paga pensão à mãe, cabeleira de 34 anos, que tem ainda outros três filhos: uma garota de 11, e dois meninos, de 9 e 5 anos.

"Vi anoitecer e clarear. Tomei um calmante, mas não consegui dormir nada essa noite", afirmou a mãe do menino ao UOL.

"Já gastei R$ 400 com o material (escolar) dos quatro meninos, mas ficou faltando algumas coisas", afirmou. "Estava faltando o bloco e eu falei pra ele esperar até sexta-feira (15). Mas ele não esperou. Bati nele na delegacia, fiquei muito chocada. Não era para ele ter feito isso."

Após a mãe ser chamada à delegacia, o menino foi orientado pelos militares a não cometer delitos. Ele se desculpou e depois foi liberado.

"Agora ele está aí, nervoso, sem falar nada e sem saber se volta pra escola. Todo mundo ficou sabendo por causa da internet", disse a mãe. "Tirei tudo dele. Não vai poder usar celular, televisão, nada dessas coisas que ele gosta."

Renda per capita de R$ 183

Material escolar de adolescente que furtou bloco de fichário em Pato de Minas (MG) e seus irmãos - Divulgação/Arquivo pessoal - Divulgação/Arquivo pessoal
Material escolar do garoto e de seus irmãos comprado pela mãe
Imagem: Divulgação/Arquivo pessoal
A cabeleireira se separou há dez anos do primeiro marido, pai de três dos seus quatro filhos. Casou-se com um servente de pedreiro e se mudou para uma casa nova há sete meses, financiada pela CEF (Caixa Econômica Federal), com prestação mensal de R$ 80. O salário do marido, pai de seu filho caçula, é atualmente de R$ 1.100, o que dá uma renda per capita (por pessoa) para a família de R$ 183.

"Não dá pra tudo. Mas eu não consigo começar a trabalhar, porque a casa é muito pequena. Temos de construir mais um cômodo", contou ela.

A residência da família, no bairro Pizzolato, tem quatro cômodos: dois quartos, banheiro e sala conjugada com cozinha. "Tive de gastar muito com a construção do muro e do portão. Como eu ia deixar quatro meninos soltos?"

Doações

Rapidamente, a notícia do furto se espalhou pelo município mineiro de 150 mil habitantes. E as pessoas se mobilizaram para ajudar a família.

Moradora de Patos de Minas, a engenheira civil Jennifer Magalhães criou um grupo no WhatsApp que, na manhã de hoje, já tinha a adesão de dezenas de pessoas. "Não apoiamos, lógico, o que ele fez. Mas por qual motivo ele fez isso?", afirmou a engenheira.

"Não vamos mexer com dinheiro, mas material escolar e de higiene. O primeiro objetivo é repassar à família do adolescente, mas como as escolas de Patos de Minas estão precárias, vamos distribuir também a outras escolas que têm alunos em situação de vulnerabilidade social", disse ela. "São aceitos materiais escolares novos ou usados em bom estado de conservação, e de higiene pessoal, como desodorante, escova, pasta de dente e sabonete."

"Foi um pesadelo. Foi péssimo. O que ele fez foi muito errado. Mas através desse erro, agora estão vindo as bênçãos: todo mundo querendo ajudar", declarou a mãe do menino.

A reportagem do UOL não localizou representantes da Escola Estadual Marcolino de Barros para comentar o fato.

Errata: este conteúdo foi atualizado
O UOL Notícias e a home-page do UOL erraram ao informar que o aluno foi detido no caso. Como é menor de idade, ele foi apreendido. A informação foi corrigida.