Ferido em ação do Exército é operado após Justiça ordenar transferência
A família do catador de materiais recicláveis Luciano Macedo, baleado ao tentar ajudar a família do músico Evaldo Santos Rosa, morto em ação do Exército, conseguiu uma ordem judicial para transferi-lo, mas terá de esperar. Luciano foi submetido a uma cirurgia no Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, onde está internado, na tarde de hoje, e agora seu estado de saúde é crítico.
"Tão logo a condição clínica do paciente permita, a transferência poderá ser realizada", informou a Secretaria Municipal de Saúde, responsável pela transferência.
A solicitação da transferência foi feita pelos advogados de Macedo, que pediram que ele fosse transferido para uma unidade da rede privada com as despesas pagas pelo governo, o que ainda não foi aceito. A juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do plantão judiciário do Tribunal de Justiça do Rio, determinou a transferência do paciente para o hospital Moacyr do Carmo, em Duque de Caxias.
Segundo os advogados, porém, mesmo com a autorização judicial de transferência, Luciano foi submetido à cirurgia de hoje sem que a família fosse consultada, e seu estado de saúde passou de grave para crítico.
"Luciano está sendo destroçado por todos as esferas do Estado. Foi baleado pelo Exército, foi levado para hospital estadual sem condições de realizar todos os procedimentos necessários e foi impedido de ser atendido em hospital municipal por falta de vagas", afirmou a advogada dos familiares do catador, Maria Isabel Tancredo.
Além da transferência, que ainda não ocorreu, a ação determinou ainda multa em caso de descumprimento de R$ 2 mil por hora nas primeiras 24 horas, após a notificação, e R$ 5 mil a partir deste período.
Nova decisão reitera necessidade de transferência
Uma nova decisão da Justiça do Rio, concedida no fim da tarde de hoje, ordenou a transferência do paciente a um hospital privado, no caso de ausência de vagas na rede pública. A decisão é da juíza Erica de Paula Rodrigues da Cunha, do 3° Juizado Especial Fazendário do TJ-RJ
A decisão ordenou que oficiais de Justiça verificassem imediatamente a existência de vagas em três hospitais particulares, considerados adequados para o tratamento: São Vicente de Paulo, no bairro da Tijuca, Rede Samaritano, em Botafogo, na zona sul e Quinta D'Or, em São Cristóvão, também na zona norte.
A nova decisão da juíza ocorreu após os órgãos públicos descumprirem a primeira decisão judicial, que determinava um prazo de seis horas para transferência de Luciano para o Hospital Municipal Moacyr do Carmo
Nove militares seguem presos
Luciano Macedo foi ferido por militares do Exército que disparam 82 tiros contra o carro da família de Evaldo Rosa, que morreu no local. Sérgio Guimarães de Araújo, sogro de Rosa, também ficou ferido na ação ocorrida no último dia 7 de abril e continua internado no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. O estado de saúde dele é estável. A mulher de Evaldo, a filha dele e uma outra mulher que também estava no veículo, no banco traseiro, não se feriram.
As primeiras informações divulgadas pelo Exército diziam que a tropa havia "reagido a uma agressão oriunda de criminosos a bordo de um veículo". Segundo a família, a vítima não tinha qualquer envolvimento com o crime.
A Justiça Militar determinou há uma semana que permaneçam detidos nove dos dez militares que foram presos em flagrante pelo assassinato do músico. As prisões em flagrantes foram convertidas em preventivas durante audiência de custódia.
O soldado Leonardo Delfino Costa alegou não ter atirado e por isso foi liberado - apesar disto ele segue sendo investigado pelo Exército.
O pedido para liberação de Delfino Costa foi feito pelo MPM (Ministério Público Militar), que afirma não haver provas de participação efetiva no assassinato. O procurador de Justiça Militar Luciano Moreira Gorrilhas informou que o pedido para as prisões teve como fundamento os crimes de homicídio e tentativa de homicídio que teriam sido cometidos pelos militares. As penas para o crime de homicídio previstas no Código Penal Militar variam entre seis e vinte anos de reclusão.
Para a Procuradoria de Justiça Militar, que pediu a prisão preventiva dos envolvidos, foram descumpridos os princípios e regras que regulamentam o uso da força pelos militares em ações de segurança.
Veja quem são os 9 militares presos:
- Ítalo da Silva Nunes Romualdo - 2º tenente do Exército
- Fábio Henrique Souza Braz da Silva - 3ª sargento do Exército
- Gabriel Christian Honorato - Soldado do Exército
- Matheus Santanna Claudino - Soldado do Exército
- Marlon Conceição da Silva - Soldado do Exército
- João Lucas da Costa Gonçalo - Soldado do Exército
- Leonardo Oliveira de Souza - Soldado do Exército
- Gabriel da Silva Barros Lins - Soldado do Exército
- Vitor Borges de Oliveira - Soldado do Exército
O 2º tenente do Exército Ítalo da Silva Romualdo disse, durante a audiência, ter sido o autor do primeiro disparo em direção ao veículo dirigido por Rosa. No entanto, ele nega ter dado a ordem para que os outros militares atirassem. Nas palavras dele, os outros militares dispararam "espontaneamente" na mesma direção ao vê-lo atirando.
Todos os ouvidos disseram que alguns minutos antes, os militares haviam trocado tiros com um veículo de características similares, no bairro de Guadalupe. Ao ver o carro de Evaldo e ouvir um disparo realizado na região, o tenente deu o primeiro tiro.
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