"Blitz do Exército não é feita a pedido meu", diz governador do RJ
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afirmou hoje que não pediu para que o Exército fizesse nenhuma blitz no estado. Em entrevista à rádio CBN, ele falou sobre a ação dos militares em Guadalupe, na zona norte do Rio, que resultou nas mortes do músico, Evaldo Rosa, que teve o carro atingido por 82 disparos realizados por militares das Forças Armadas, e do catador de materiais recicláveis Luciano Macedo, ferido enquanto socorria Rosa --Macedo morreu hoje. Segundo Witzel, o policiamento ostensivo deve ser feito pela Polícia Militar, e não pelas Forças Armadas, que não têm treinamento para controle de distúrbios urbanos.
"Blitz do Exército não é feita a pedido meu. Não pedi GLO [Garantia da Lei e da Ordem], não pedi apoio", afirmou o governador.
Segundo ele, as Forças Armadas têm permissão para patrulhar áreas de segurança militar nos arredores de comandos, mas somente nestas regiões, e não por toda a cidade. O governador, entretanto, não explicou se o carro alvejado pelo Exército estava ou não em área de segurança militar.
"Existe, no entorno das áreas militares, uma área de patrulhamento legalmente permitido. O próprio soldado das Forças Armadas tem o treinamento para patrulhar o entorno da área de jurisdição militar. Essas ações são feitas em razão da defesa dessa área militar, para evitar ataques e eventualmente a subtração de armamento e material bélico das Forças Armadas. Esse é um patrulhamento orientado pelos comandos para evitar invasão a uma unidade militar. É por isso que eles estão ali na rua. Agora, fora desse patrulhamento para a defesa das estruturas militares, não há, da minha parte, nenhum pedido para as Forças Armadas para o patrulhamento nas ruas. Isso é feito pela Polícia Militar", afirmou.
Witzel disse ainda que, por ser egresso das Forças Armadas, conhece o treinamento recebido pelos militares, e que este não seria adequado para policiamento. "Policiamento ostensivo é uma situação absolutamente fora do domínio de conhecimento da formação dos oficiais das Forças Armadas. Eu, com todo o respeito, ressalto as Forças Armadas, mas o que nós precisamos é de polícia treinada na rua", defendeu o governador, lamentando o fato de não conseguir formar um número maior de policiais militares, que "passam por um treinamento de conhecimento da operação tática do terreno, da abordagem das pessoas, conhecimento de fatos anteriores que levaram a erros que não podem acontecer novamente".
"A formação do policial dura quase um ano, são dez meses de formação, mais o estágio no batalhão. Essa é uma formação que o soldado do Exército não recebe. Conheço a formação da infantaria, da artilharia. E, exceto na polícia do Exército, que tem minimamente uma formação de controle de distúrbios urbanos, isso não acontece. Então o que penso é que o trabalho de policiamento deve ser feito pelas unidades da polícia militar", disse o governador.
Ele comentou ainda sobre o uso de egressos das Forças Armadas para patrulhamento nas escolas. "Eles vão passar por um treinamento, vão ter aula de mediação de conflito, sobre o funcionamento da escola, o que é o segundo grau, como é o comportamento de um aluno, e o que fazer quando houver uma agressão a um professor", explicou Witzel.
Nove militares continuam presos
Quando o carro de Evaldo foi metralhado, ele estava com a família a caminho de um chá de bebê.
Inicialmente, o CML (Comando Militar do Leste) emitiu uma nota dizendo que a ação tinha sido uma resposta a um assalto e sugeriu que os militares haviam sido alvo de uma "agressão" por parte dos ocupantes do carro.
Depois que a família do músico contestou a versão dada pelo Exército, a instituição recuou e mandou prender 10 dos 12 militares envolvidos na ação.
Dias depois, a Justiça Militar determinou que nove militares permaneçam detidos. Um acabou solto após alegar que não fez nenhum disparo.
Todos os nove ouvidos disseram que alguns minutos antes, os militares haviam trocado tiros com um veículo de características similares, no bairro de Guadalupe.
*Com Marcela Lemos, colaboração para o UOL, no Rio
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