Dez militares são presos por metralharem carro e matarem músico no Rio
Dez militares foram presos em flagrante, na manhã de hoje, pelo assassinato do músico Evaldo Rosa dos Santos, na tarde de ontem, em Guadalupe, zona norte do Rio. O carro em que a vítima estava foi metralhado por militares. O Exército brasileiro assumiu as investigações sobre o caso.
Segundo a Polícia Civil, mais de 80 disparos foram realizados contra o veículo dirigido por Santos. Ele estava com a família a caminho de um chá de bebê quando foi abordado. O sogro dele, que estava no veículo, e um pedestre também ficaram feridos.
As primeiras informações divulgadas pelo Exército ainda ontem diziam que a tropa havia "reagido a uma agressão oriunda de criminosos a bordo de um veículo". Segundo a família, a vítima não tinha qualquer envolvimento com o crime.
Em um comunicado divulgado hoje, o CML (Comando Militar do Leste) informou que "com base em informações iniciais transmitidas pela patrulha, foi emitida nota segundo a qual a tropa teria reagido a uma agressão oriunda de criminosos a bordo de um veículo".
"Em virtude de inconsistências identificadas entre os fatos inicialmente reportados [pelo militares envolvidos na ação] e outras informações que chegaram posteriormente ao Comando Militar do Leste, foi determinado o afastamento imediato dos militares envolvidos, que foram encaminhados à Delegacia de Polícia Judiciária Militar para tomada de depoimentos individualizados", continua a nota.
Doze militares já foram ouvidos
De acordo com o CML, 12 militares já foram ouvidos pela Delegacia de Polícia Judiciária Militar desde a madrugada de ontem, tendo sido dez presos. Um integrante do Ministério Público (MP) acompanhou os depoimentos.
A partir de agora, esses militares ficam à disposição da Justiça Militar, a quem cabe realizar a Audiência de Custódia e determinar como será dado prosseguimento.
Investigações ficarão com o Exército
As investigações sobre a morte e os feridos ficarão a cargo do próprio Exército, que assumiu as investigações do caso com base em uma lei de 2017 sancionada pelo então presidente Michel Temer (MDB).
A legislação diz que crimes dolosos contra a vida, cometidos por militares das Forças Armadas, serão investigados pela Justiça Militar da União, em alguns casos. Os laudos já feitos pela Polícia Civil do Rio serão fornecidos ao exército para o prosseguimento dos trabalhos.
"Foram diversos disparos de arma de fogo efetuados, e tudo indica que os militares confundiram o veículo com um veículo de bandidos. Mas neste veículo estava uma família. Não foi encontrada nenhuma arma [no carro]. Tudo que foi apurado era que realmente era uma família normal, de bem, que acabou sendo vítima dos militares", afirmou na manhã de hoje o delegado Leonardo Salgado, da Delegacia de Homicídios da capital, que estava responsável pelo caso antes da transferência da investigação.
Morto na frente do filho de criação
"Imagina uma criança ver o pai baleado, tentando respirar? O Exército acabou com a minha família", desabafou o sobrinho e filho de criação de Santos. Daniel Rosa, 29, trabalha com entrega de móveis e é sobrinho da esposa da vítima, Lúcia Rosa dos Santos. Ele diz que tinha "uma relação de pai e filho" com a vítima.
"Ele me deu muito carinho. Foi mais que um pai para mim. Era ótimo, boa pessoa, me ajudava muito, me dava conselhos, dedicava a vida à família. Ele me empurrava pra frente e me dava puxão de orelha quando fazia algo de errado. Agora vou ficar sem meu pai?", questionou Daniel muito emocionado.
Santos foi o primeiro cavaquinhista do grupo de samba "Remelexo da cor". Neste domingo, o grupo publicou em sua página oficial no Facebook uma homenagem ao músico que era conhecido também como "Manduca".
"Olho pro céu e peço a Deus que mande a paz do sentimento verdadeiro dos mortais. Aqui embaixo o pesadelo está demais, demais, demais, demais, demais. Neste domingo, perdemos um grande amigo, o primeiro cavaquinista do Grupo Remelexo da Cor (Manduca). Deixamos aqui um abraço é nosso sentimento para todos familiares!", diz a homenagem.
Vascaíno e apaixonado por samba, o músico trabalhava também com ornamentação de cenários e como segurança. Um amigo de adolescência, Alexsander Conceição, 41, disse que estudou música por influência do amigo.
"Ele que me incentivou a estudar música. Integramos juntos o grupo Remelexo da Cor. Ele no cavaquinho, eu no violão. Ele era um cara muito trabalhador, trabalhava muito mesmo", contou o amigo ao UOL.
Santos era casado há 27 anos e tinha um filho de sete, outro de criação de 29 e uma afilhada de 13 anos. "Ele era um excelente pai, excelente marido. Nunca brigou. Não tinha desavença com ninguém. Por causa do grupo de samba era muito conhecido na região. Era um ser humano espetacular", definiu o amigo.
Nas redes sociais, o músico recebeu homenagens e o Exército foi criticado pela atuação. "Exército totalmente despreparado para lidar com a população. Vá com Deus Manduca, descanse em paz, que Deus conforte os familiares", disse a postagem de um amigo.
"Ou vivemos num país sério ou vivemos num país da impunidade onde criminosos militares podem matar qualquer um. Lamentável. Um crime cometido com aparatos estatais por quem na teoria deveria "servir e proteger", mas na prática é "ferir e nos matar", desabafou um internauta nas redes sociais.
Esposa ainda não conseguiu voltar em casa
Alexsander Conceição, amigo da família, contou ainda ao UOL que a esposa está muito abalada e não conseguiu voltar para a casa depois do ocorrido. "Ela não quis entrar em casa, precisou ir para o hospital porque estava passando muito mal. É um choque, né? O filho deles está aos cuidados dos avós"
O corpo de Santos segue no IML (Instituto Médico Legal) e deve ser enterrado ainda hoje. Ainda não foram definidos local e o horário do velório.
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