Asfixia, dia de visita, reação: o que significam as mortes de presos no AM
Especialistas consultados pelo UOL afirmaram que as 40 novas mortes de presos no sistema prisional do Amazonas ocorreram por asfixia devido à falta de armas dos detentos. Segundo o secretário de Administração Penitenciária do Amazonas, Vinicius Almeida, os presos começaram a matar colegas de cela à medida que a polícia avançava.
Ainda de acordo com o governo, os assassinatos ocorreram dentro das celas de quatro unidades diferentes. Por conta desses violentos episódios, as ruas de Manaus tiveram reforço no policiamento.
O major Alessandro Frankie foi secretário-adjunto de Segurança Penitenciária no Maranhão e responsável pela pacificação do complexo prisional de Pedrinhas, entre 2014 e 2015. Hoje à frente da segurança dos centros socioeducativos da Paraíba, ele afirma não ter dúvidas de que a falta de opção foi determinante aos assassinatos.
"As mortes se deram por asfixia porque era o meio de que dispunham os presos, por eles não estarem armados. Além disso, esse tipo de morte evita que o preso grite por socorro", afirma.
"Na ausência de meios hábeis para a decapitação, eles fizeram os enforcamentos. Com lâminas, haveria decapitações. Degolar o rival é mostrar capacidade de execução", afirma o advogado criminalista Cláudio Justa, que também é ex-presidente do Conselho Penitenciário do Ceará.
Para Justa, os ataques são uma provável continuação da guerra entre membros de facções criminosas.
"O conflito das facções continua latente no sistema penitenciário. Até porque o conflito não tem origem nas unidades, mas fora, nos territórios de comércio. O sistema penitenciário é apenas um espaço reativo. Eu acredito numa repetição de 2017, de que se trate de conflito de facções com comando externo. Conflitos internos das prisões não geram uma matança dessa magnitude", afirma.
Em 2017, 56 presos foram mortos em rebelião no Compaj, em Manaus. Poucos dias depois, presídios em Roraima e Rio Grande do Norte também registraram mortes em série.
Já o major Frankie lembra que nem o dia de visitas foi respeitado pelos presos amazonenses desta vez. "Como estão sem celulares, as visitas é que trazem as decisões tomadas nas ruas e o desacerto deve ter surgido após os posicionamentos de algumas lideranças das ruas terem chegado aos presos nos pavilhões", diz.
"Você tem aí dois fatores: as respostas ou decisões vindas das ruas, trazidas pelos visitantes e o momento oportuno em que os presos --vítimas e algozes-- estavam juntos", completa.
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