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Negro tem o dobro de chance de ser pobre no Brasil, diz Ipea

William West/AFP
Imagem: William West/AFP

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

26/07/2019 04h00Atualizada em 26/07/2019 07h38

No Brasil, a chance de um negro ser pobre é o dobro da de um branco. A conclusão é da pesquisa "A desigualdade racial da pobreza no país", divulgada nesta semana pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão de pesquisa do governo) com base em dados de 2004 a 2014.

Segundo o levantamento, a chance de um preto ser pobre era de 2,1 em relação a um branco em 2014. Para um pardo, essa relação chega a 2,6. O estudo aponta entretanto que a desigualdade racial entre os pobres foi reduzida nesse período. "Persiste elevada, a despeito de ter havido redução no período, tanto da desigualdade de brancos em relação a pretos e pardos quanto da desigualdade entre pretos e pardos", afirma o estudo.

Ao considerar dados até 2014, a pesquisa não reflete os possíveis impactos da crise econômica que atingiu o país a partir daquele ano, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Os dados-base para o estudo foram as PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Para o IBGE, a soma de pretos e pardos compõem o grupo de negros. A pesquisa do Ipea, entretanto, faz recorte dividido entre os dois subgrupos.

Autor do estudo, Rafael Guerreiro Osori explicou porque os pardos são mais vítimas da pobreza que os pretos. "No Brasil, a gente tem uma composição racial muito diferente ao longo do território. No Norte e no Nordeste, onde a população é mais pobre, você tem mais pretos e pardos. A proporção de pretos varia bastante de estado a estado, mas ela varia um pouco menos que a de pardos, ou seja: a proporção de pardos varia mais no Norte e no Nordeste. Como a pobreza está muito concentrada nas regiões, há essa diferença."

Osório acredita que, apesar de na década estudada ter existido redução da pobreza, as diferenças raciais poderiam ter sido mais reduzidas, e que a distância entre as raças ainda chama a atenção. "A queda foi de tal ordem que, em 2014, os pretos e pardos se aproximaram dos níveis de vida de um branco em 2004. O que aconteceu é que eles chegaram onde os brancos estavam no começo da década", relata.

O trabalho, entretanto, não investigou as causas dessa redução. Mas para o autor, há hipóteses de que a redução se deva a um conjunto de fatores econômicos. "É possível constatar que, tanto para pretos quanto para pardos, não houve apenas redução da pobreza, mas também da desigualdade de oportunidades de escapar da pobreza, em relação aos brancos."

O estudo mostra que, quanto mais pobre, maior foi a redução da desigualdade. Para quem vive com menos de US$ 1 ao dia, a desigualdade caiu de 20% a 40%. Para as linhas em torno de US$ 3, a queda foi menor, em torno de 10%. De US$ 4 em diante, nota-se maior redução da desigualdade entre pardos e brancos, aponta o estudo.

Os valores usados para o dólar têm como base dezembro de 2011, com valor corrigido hoje para R$ 5,05. O pesquisador conclui que o Brasil ainda é marcado por profundas desigualdades. "O mundo ideal é aquele em que todos têm a mesma chance de ser pobre e de escapar da pobreza, e isso está longe no Brasil. De um modo geral, ela continua muito maior entre pretos e pardos aqui", afirma.