Segurança suspeito de torturar jovem se contradiz sobre autoria de vídeo
O segurança David de Oliveira Fernandes, 37, suspeito de torturar um jovem negro de 17 anos em um mercado da zona sul de São Paulo, prestou depoimentos contraditórios no 80º DP (Distrito Policial), delegacia que investiga o caso, na Vila Joaniza.
Junto a Valdir Bispo dos Santos, 49, ele é suspeito de amordaçar, despir e chicotear o adolescente por este ter tentado furtar barras de chocolate do estabelecimento.
Enquanto Valdir, que foi preso no último final de semana, se negou a falar e afirmou que só prestará depoimento "em juízo", Fernandes deu duas declarações antagônicas: uma na última sexta-feira (6), quando foi preso, e outra na tarde de ontem.
No primeiro depoimento, logo após ser capturado por policiais civis, o funcionário disse ter gravado com seu celular as cenas de tortura. Enquanto Fernandes filmava, Santos chicoteava o jovem com fios elétricos.
No depoimento prestado ontem, com a presença de um advogado, todavia, Fernandes negou que tenha gravado qualquer cena ou que tenha presenciado agressões ou tortura.
Ele afirmou que abordou o estudante dentro do supermercado por suspeitar que ele estava furtando a loja. Segundo seu depoimento, ele pediu para o jovem levantar a camiseta e, quando foi atendido, constatou que havia entre 10 e 12 barras de chocolate com o adolescente. Depois, disse que chamou Valdir e falou para ele levar o menino na "sala da FLV".
Segundo o segurança, o local é um depósito onde são guardadas frutas, verduras e legumes. Após chamar o colega, o funcionário afirmou que não viu nenhuma agressão e que o jovem estava "sob posse de Santos [o outro segurança suspeito de tortura]".
A primeira declaração de Fernandes bate com o depoimento do jovem que fora torturado pelos seguranças. O adolescente afirmou, com convicção, que Fernandes gravava o vídeo das agressões enquanto Santos o chicoteava, exatamente como o segurança dissera em sua versão inicial.
Os depoimentos foram obtidos pelo UOL por meio de fontes ligadas à investigação. O delegado Pedro Luis de Souza, responsável pelo caso, e a Polícia Civil de São Paulo afirmaram à reportagem que não poderiam comentar o caso, pois, por envolver um menor, o processo corre em segredo de Justiça desde a última sexta-feira.
O celular do segurança foi apreendido pela polícia para análise, e os investigadores aguardam o resultado da perícia no aparelho e do laudo de lesão corporal sobre as agressões. Ambos estão detidos no 2º DP (Distrito Policial) no Bom Retiro.
Polícia indicia seguranças
Ontem, tanto Fernandes quanto Santos foram indiciados por tortura. O jovem reconheceu os seguranças suspeitos do crime, que trabalham para uma empresa terceirizada que presta serviços ao supermercado. Desde a última sexta, o estudante foi incluído no serviço de acolhimento da Prefeitura de São Paulo.
Segundo o advogado Ariel de Castro Alves, conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) e que acompanha o caso, o adolescente deve, nos próximos dias, ser incluído no PPCAAM (Programa de Proteção de Crianças e Adolescentes Ameaçados).
"Familiares do jovem reclamaram de ameaças e de que foram procurados por pessoas desconhecidas. O menino estava morando com um irmão dele, que foi favorável ao acolhimento dele num abrigo", relata o advogado.
Um dia antes de ser incluído no serviço de acolhimento da cidade, o adolescente foi atendido por quatro conselheiros do Conselho Tutelar da Cidade Ademar. Um relatório sobre a situação do estudante foi encaminhado para a Vara da Infância e Juventude de Santo Amaro, que também acompanha o caso.
"O pai do jovem faleceu no início desse ano e a mãe, conforme os familiares, sofre de alcoolismo e não foi localizada pelo Conselho Tutelar", diz o conselheiro do Condepe.
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