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Explosão e 2 quedas de luz: o que se sabe do incêndio no hospital do Rio

Igor Mello

Do UOL, do Rio

14/09/2019 04h00

Relatos de pacientes e acompanhantes que estavam no Hospital Badim, no Maracanã, revelam detalhes sobre os momentos que antecederam o incêndio, no final da tarde de quinta-feira (12). Até o momento, 11 pessoas morreram em decorrência da tragédia --segundo o IML (Instituto Médico-Legal), a maioria por asfixia pela fumaça ou por conta do desligamento dos aparelhos que as mantinham vivas.

Segundo as testemunhas, o incêndio começou por volta das 18h. Porém, antes disso, já havia indícios de problemas. Múltiplos relatos dão conta que meia hora antes —por volta das 17h30— houve uma queda de luz na unidade de saúde, acompanhada por fumaça e cheiro de queimado.

Falta de luz e fumaça

"Houve uma fumaça entre 17h15 e 17h30. Nós alertamos, eles falaram que era equipamento interno e já iam restabelecer, para ninguém se assustar", afirmou Emanuel Ricardo dos Santos Melo, que acompanhava a mãe Luzia dos Santos Melo, 88, uma das 11 vítimas fatais do incêndio.

Relato semelhante foi feito pelo advogado Carlos Outerelo, filho de Berta Gonçalves Berreiro Sousa, 93, outra das vítimas do incêndio. Segundo ele, após a primeira queda de luz, já era possível sentir cheiro de queimado.

"Faltou luz e em dado momento eles religaram. No momento em que religaram, comecei a sentir um cheiro de queimado, como se fosse um plástico. Depois esse cheiro foi modificando. O gerador era movido a diesel, altamente prejudicial. E a fumaça começou a se propagar", lembrou.

Funcionários negaram risco

Após a primeira queda de luz, parentes e funcionários chegaram a entrar em pânico por conta do cheiro de queimado, mas foram tranquilizados por funcionários do hospital.

Os acompanhantes contaram que reclamaram da fumaça no ambiente, mas foram informados que tudo já havia sido normalizado pelo setor de manutenção da unidade de saúde. Melo lembra que chegou a colocar em sua mãe uma máscara de oxigênio, que ele mesmo encontrou.

"Só falava com ela: Mãe, por favor, a senhora não tira essa máscara e não fala. Disse: não fala, só lá embaixo que a gente vai se falar. Infelizmente nessa vida não falo mais com ela", disse, aos prantos.

Com explosão, fumaça toma conta

Por volta das 18h, houve uma explosão e a fumaça se alastrou pelo prédio, prejudicando a visibilidade —Outerelo diz que no local onde sua mãe estava internada não era possível ver 2 m à frente.

Rômulo Moreira estava em contato com a mulher, Isabele Vieira, uma das pacientes do Badim. Segundo ele, a esposa contou que os médicos chegaram a tentar remover os pacientes após a explosão, mas foram impedidos pelo diretor do hospital.

"Ela falou de cheiro de queimado, a luz voltou e, neste momento, ela disse que teve explosão. O cheiro de fumaça começou a aumentar até que os médicos iriam retirar os pacientes, mas o diretor disse que não precisava, que estava tudo sob controle. Aí fecharam os leitos, deram máscaras, mas do lado de fora tudo já era desesperador: Fumaça preta do lado de fora. Quando eu fui lá dentro, não se enxergava mais nada. Enfermeiras indo e voltando naquela fumaça preta", relatou.

Melo diz que também ouviu a explosão e que a fumaça veio acompanhada de um cheiro forte de óleo diesel, combustível usado em geradores de energia.

"Cerca de 20 minutos depois [do primeiro apagão], no máximo, faltou luz de novo, houve uma explosão e começou uma fumaça muito densa e muito cheiro de diesel, muito forte. Os funcionários do Badim totalmente perdidos, batendo cabeça sem saber o que fazer. A enfermeira que era responsável pelo setor botou dez no burro [deixou o local] e sumiu".

Já Outerelo conta que começou a sentir cheiro de queimado assim que a energia foi religada. Ele também relata forte odor de diesel no local.

"Faltou luz e em dado momento eles religaram. No momento em que religaram, comecei a sentir um cheiro de queimado, como se fosse um plástico. Depois esse cheiro foi modificando. O gerador era movido a diesel, altamente prejudicial. E a fumaça começou a se propagar".

Perícia não conseguiu avaliar gerador

Um problema no gerador é uma das linhas de investigação da Polícia Civil, mas até o momento não há elementos técnicos que comprovem isso. Peritos fizeram uma análise preliminar do prédio ontem. Ao deixar o local, por volta das 14h30, eles disseram que a iluminação precária no edifício impossibilitou uma análise do gerador.

Pela manhã, o delegado Roberto Ramos, da 18ª DP (Praça da Bandeira), responsável pela investigação, havia afirmado que aferir o que causou o incêndio era "completamente prematuro".

O alagamento no subsolo, decorrente da ação do Corpo dos Bombeiros, também prejudicou o trabalho "de certa forma", pois impediu que os peritos vissem o que estava exposto no prédio. Uma bomba de sucção foi instalada para drenar a água e auxiliar os peritos no segundo dia de trabalho. Os peritos não informaram nenhum resultado preliminar da perícia.