Caso Ághata: reconstituição muda rotina de comunidade e divide moradores
Principal via de comércio e transporte de passageiros da comunidade da Fazendinha, uma das que compõem o Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, a rua Antônio Austregésilo ficou praticamente deserta hoje, ao ter sua rotina modificada pela reconstituição da morte de Ághata Félix. A garota de oito anos foi atingida por um tiro de fuzil na noite de 20 de setembro.
O comércio variado, de barbearia a hortifrúti, que costuma ficar aberto até 20h ou 21h, fechou as portas antes das 17h.
O fluxo intenso de vans e kombis que levam os moradores da "pista" às comunidades da Fazendinha e Alvorada - a segunda na parte mais alta - foram impedidas de circular.
Com sacolas de supermercado, uma senhora foi impedida de seguir caminho pelos policiais. "Mas como eu vou chegar em casa, vou ter que dar a maior volta? Em um lugar que nem luz tem?", questionou à reportagem.
Vários moradores reclamaram, mas não chegaram a ser registradas confusões. Alguns se aglomeraram com os vizinhos, comentando a reconstituição e aguardando o final. Outros partiram para a segunda opção de caminho, a da "maior volta". "Bem na hora que o morador chega do trabalho, cheio de fome", comentou um homem que acompanhava de longe o trabalho da polícia.
Três veículos blindados, os chamados "caveirões", fecharam os principais acessos ao Largo do Birosca, onde passava a Kombi quando Ághata recebeu o tiro nas costas.
Segundo moradores que conversaram com a reportagem do UOL, mas preferiram não se identificar, é justamente neste ponto onde costumam ficar equipes da Unidade de Polícia Pacificadora da Fazendinha. Por isso, a via mais movimentada da comunidade é também uma das campeãs de confrontos.
As marcas de tiros nas fachadas dos comércios comprovam. "Quando a UPP chegou aqui, era outra vida. Mas é porque só tinha polícia. Agora são duas forças, é igual gato e rato", disse um dos comerciantes que têm a fachada de seu negócio cravejada de tiros.
Os moradores contam que a relação com os policiais é difícil. "Alguns são gente boa. Outros, se olham a gente, jovem, já esculacham. Dá raiva", declarou um.
Durante a reconstituição do caso Ághata, dos 11 policiais militares que prestaram depoimento à Polícia Civil, apenas dois compareceram para auxiliar.
A relação complexa entre policiais militares e comunidade aparece nas expectativas sobre os resultados da reconstituição. "Não significa nada. Eles tinham que ter apreendido as armas na hora. Eu não espero nada disso", bradou um senhor.
Já um rapaz, que se diz "cria do Alemão" e conhecia Ághata de vista é mais otimista. "Eu espero que traga respostas, sim" disse.
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