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PGR: chefe de cartel mexicano preso no Brasil deve ser extraditado aos EUA

O mexicano José González Valencia, 43, foi preso no Brasil em 27 dezembro de 2017. Ele portava documentos falsos - Divulgação/Polícia Federal
O mexicano José González Valencia, 43, foi preso no Brasil em 27 dezembro de 2017. Ele portava documentos falsos Imagem: Divulgação/Polícia Federal

Flávio Costa

Do UOL, em São Paulo

22/10/2019 04h01

Resumo da notícia

  • PGR afirma que chefe de cartel mexicano deve ser extraditado aos EUA
  • México também pede a extradição de Valencia, que foi preso no Brasil
  • Ele é um dos líderes do cartel "Los Cuinis", o mais rico do México

A PGR (Procuradoria-Geral da República) se manifestou pela extradição do traficante mexicano José González Valencia, preso no Brasil desde dezembro de 2017, para os Estados Unidos.

O parecer enviado ao ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), indica ainda que o pedido do governo do México, que também deseja a extradição do criminoso, deve ser recusado.

"O Ministério Público Federal manifesta-se pelo deferimento do pedido de extradição de José González Valencia, oriundo das autoridades dos Estados Unidos da América", afirmou o vice-procurador da República José Bonifácio Borges de Andrada, em documento datado em 11 de outubro.

Procurados pelo UOL, os advogados brasileiros de La Chepa não responderam os questionamentos da reportagem. Quando estiver pronto, o voto do ministro Celso de Mello sobre o caso será analisado pelo plenário do STF. Ainda não há previsão de data para este julgamento.

Cartel mais rico do México

Conhecido como La Chepa, o detento estrangeiro tem 43 anos e é tido pelas autoridades como um dos chefes do grupo criminoso mais rico do México, "Los Cuinis".

A gangue se tornou o braço financeiro do violento Cartel da Nova Geração de Jalisco (CJGN, na sigla em espanhol), alvo de uma campanha contra o narcotráfico promovida pelo presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador.

González Valencia teria enviado aos Estados Unidos pelo menos cinco toneladas de cocaína, de acordo com a Justiça americana.

Já em sua terra natal, além da mesma acusação, ele também foi denunciado por participar do assassinato de um funcionário público do governo do estado de Jalisco.

"Eu nunca participei de nenhum narcotráfico em nenhuma parte. Isso não é verdade", afirmou Valencia, em depoimento a um juiz federal no Brasil. Ele foi preso por agentes da PF (Polícia Federal) em Fortaleza, quando passava as festas de fim de ano com a família, e aguarda o desfecho do caso detido no presídio de segurança máxima de Mossoró (RN).

cartel de jalisco - Reprodução - Reprodução
Membros do Cartel da Nova Geração de Jalisco são considerados os mais violentos do México
Imagem: Reprodução

Os advogados de La Chepa defenderam, em petição ao STF, que o cliente seja extraditado ao México.

"Isso porque a Lei de Migração determina que quando mais de um Estado requerer a extradição da mesma pessoa em caso de crimes diversos terá preferência o Estado requerente em cujo território tenha sido cometido o crime mais grave, segundo a lei brasileira", afirmaram os defensores.

Porém, de acordo com análise da PGR, o pedido mexicano chegou com documentação incompleta. Já o do governo dos EUA atende os requisitos da legislação brasileira.

Foram os americanos os primeiros a pedirem a extradição de La Chepa. O pedido chegou ao STF em junho de 2017 — seis meses antes de sua prisão pela PF. Já o do México foi encaminhado à corte brasileira somente em março de 2018.

Riqueza e sangue

Comandados por ao menos sete irmãos da família González Valencia, Los Cuinis têm o domínio de rotas de tráfico que levam cocaína produzida na Bolívia e na Colômbia para o Canadá e países europeus e asiáticos.

Lavam dinheiro obtido com o narcotráfico em clínicas de rejuvenescimento, hotéis e restaurantes no México e outras empresas criadas nos Estados Unidos, Uruguai e Argentina, de acordo com investigações.

A associação de Los Cuinis com o CJGN tem uma raiz familiar. Rosalinda Gonzalez Valencia, irmã de La Chepa, é mulher de Nemesio Oseguera Cervantes, El Mencho, o chefe da nova geração de Jalisco.

guadalajara - Alejandro Acosta/Reuters - Alejandro Acosta/Reuters
Marcha pela paz em Guadalajara realizada em protesto pelo assassinato de estudantes cometido pelo CJGN
Imagem: Alejandro Acosta/Reuters

O CJGN foi formado por membros da antiga célula de proteção do Cartel de Sinaloa, comandado por Joaquín Guzmán, El Chapo, condenado nos Estados Unidos a prisão perpétua e a pagar uma indenização de US$ 12,6 bilhões.

O cartel é conhecido pela crueldade com que trata os inimigos. Seus ritos de iniciação incluem atos de canibalismo. Em abril do ano passado, autoridades mexicanas afirmaram que traficantes do cartel mataram três estudantes e dissolveram seus corpos em ácido. As vítimas foram confundidas com rivais. Eles também foram responsáveis pelo massacre de 35 membros do cartel de Veracruz, em 2015, e por derrubar um helicóptero do Exército mexicano, dois anos antes.

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