Protesto em Paraisópolis elege Doria e PM como responsáveis pelas 9 mortes
Resumo da notícia
- Famílias de mortos em Paraisópolis protestaram contra Doria e PM ontem
- Declarações do governador elogiando a polícia incomodaram os familiares
- Após protestos, Doria prometeu receber as famílias na próxima semana
- Também ficou acertada a criação de uma comissão externa para acompanhar investigações
Danilo pegou o microfone, e Paraisópolis parou para ouvir. Irmão de Denys Henrique Quirino, 16, morto no baile domingo, ele começou o discurso com um tom desafiador e cobrando investigação. Em meio minuto, estava chorando. As pessoas começaram a gritar "justiça", e Danilo foi abraçado por parentes de outras vítimas.
A passeata realizada ontem a partir da viela onde nove pessoas morreram domingo (1º) até o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, começou emotiva. Mas o desenrolar foi de protestos e o governador João Doria (PSDB) foi o principal alvo. Na primeira esquina já eram repetidas palavras de ordem.
"A luta continua. Doria a culpa é sua".
Grito de parentes de jovens mortos após ação policial em Paraisópolis
Outros coros eram menos polidos e dirigiam palavrões ao governador. A irritação era consequência das declarações de Doria. Na segunda-feira, dia seguinte às mortes, ele elogiou a Polícia Militar e disse que não houve erro operacional.
"A letalidade não foi provocada pela PM e sim por bandidos que invadiram a área onde estava acontecendo o baile funk. É preciso ter muito cuidado para não inverter o processo", afirmou.
As declarações incomodaram parte dos moradores de Paraisópolis. Débora Pereira, 32, reclamou que o governador nunca escuta a periferia. Lembrou que Doria se elegeu com discurso de polícia na rua e sem condenar ações violentas em comunidades carentes.
"Esta forma de ação da PM precisa ser revista. A gente não pode achar que todo mundo que questiona uma ação violenta é bandido", disse.
Os manifestantes também lembravam a visita de Doria com Alckmin durante as eleições e que a dupla tomou até café na comunidade. A promessa de vingança nas urnas nas próximas eleições era geral.
'Por quê?'
Raquel Cruz, é mãe de Gustavo Cruz, 14, uma das vítimas e partilhava das críticas.
"Quero saber por quê. Qual o motivo? Por que num baile funk [age assim], mas não fecha rave que dura três dias. Quero respostas. Eles eram jovens".
O sentimento de revolta com a PM era generalizado entre os familiares. Danilo gritava justiça a toda hora e fez questão de estar na comissão que entregou uma carta ao governador pedindo mais atenção às periferias e uma investigação imparcial, entre outros pontos.
PM impede que passeata chegue a palácio
Durante a passeata, houve tensão quando duas motos da PM foram vistas acompanhando os manifestantes. A vaia foi geral. Quando os integrantes da passeata se aproximavam do Palácio dos Bandeirantes havia uma coluna de policiais impedindo a passagem.
O cordão tinha carros, homens com escudos e outros armados com espingardas de balas de borracha. Os participantes da passeata pararam a cerca de 30 metros. Fogos de artifício foram disparados pelos manifestantes, mais policiais chegaram e começou uma negociação para receber uma comissão.
A atitude irritou ainda mais os moradores de Paraisópolis e logo surtiu um coro. Outra vez o governador foi o principal alvo. "Quem deu a ordem para matar? Doria".
Os policiais militares que estavam na barreira passaram a ouvir coros hostis contra eles e o governador. Até o jogo do São Paulo virou motivo de protesto. Torcedores foram impedidos de seguir ao estádio do Morumbi, e os participantes da passeata chamaram a atitude de truculência. Por fim, quem tinha camisa do time pôde passar.
O recebimento de uma comissão de moradores, entidades sociais e parentes das vítimas não diminuiu a revolta de Paraisópolis. Eles querem retratação do governador e que Doria admita que as mortes foram consequência da ação policial.
Ao fim da noite, o governador se comprometeu a receber as nove famílias na próxima semana e anunciou que criaria uma comissão externa para acompanhar a investigação do caso.
"Deveria ter acontecido antes e deveria ter sido iniciativa do governador João Doria", disse Danilo à reportagem após o anúncio do encontro.
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