Paraisópolis: divulgação de laudos visa tirar culpa da PM, dizem famílias
Resumo da notícia
- Divulgação parcial e não oficial sobre resultados de necropsias diz que vítimas usaram álcool e drogas
- Para familiares, divulgação é tentativa de atribuir culpa aos nove jovens mortos
- O Conselho de Direitos Humanos afirma que o importante é investigar a ação da PM
Familiares de vítimas fatais da ação policial no Baile da DZ7, em Paraisópolis, criticaram a divulgação parcial e não oficial de laudos dos exames dos corpos dos nove mortos. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo aponta que laudos informam que "todas as vítimas tinham substâncias tóxicas na corrente sanguínea". Até o momento, as famílias não tiveram acesso aos laudos. Elas acreditam que a informação de uso de drogas é para desviar o foco das investigações.
O UOL apurou com fontes ligadas à cúpula da Polícia Civil que nem todos os laudos estão finalizados. Membros da Corregedoria da PM (Polícia Militar) dizem que o governo só irá se pronunciar quando os exames estiverem concluídos.
A reportagem da Folha, publicada na manhã de hoje, diz que, "entre os elementos detectados" nos exames, estão "álcool, cocaína, loló [entorpecente à base de clorofórmio e éter], anfetamina [estimulante] e outros".
As famílias, junto com o Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), criticaram a divulgação extra-oficial. Para o advogado Dimitri Sales, presidente do Condepe, as informações parciais dos laudos são "uma forma de criminalizar as vítimas e de modificar o curso das investigações".
"O que se está tentando fazer é disputar a narrativa e dizer que algumas pessoas merecessem ser mortas. E o que estamos dizendo é que ninguém merece ser morto e que a polícia não está autorizada a praticar qualquer conduta fora da lei", disse Sales.
Laudos não estão conclusos
Nem o Condepe nem as famílias ouvidas pelo UOL tiveram acesso aos laudos. Familiares de vítimas de Paraisópolis se disseram revoltadas com a as informações divulgadas.
Se havia álcool e drogas nos jovens já era de se esperar. Eram jovens e o local era um baile funk. Isso não autoriza o estado e seus agentes a puni-los e exterminá-los. Só peritos e legistas poderiam expor a verdade dos laudos, a mesma que tentaram esconder das famílias, impedindo-as de examinar os corpos destes jovens no IML
Vagner dos Santos Oliveira, tio de Luara Victoria de Oliveira, 18
De acordo com o presidente do Condepe, os nove laudos ainda não estão prontos. "A informação que temos é que nem todos os laudos foram concluídos e entregues ao DHPP [Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa]", disse. "O que tem que ser apurado de fato é a conduta da PM, se ela contribuiu direta ou indiretamente para as mortes dessas pessoas", afirmou Sales.
Oliveira contou ao UOL no dia 2 que ele e sua filha não foram autorizados no IML a ver o corpo de Luara.
"A polícia está tentando tirar a culpa que ela própria tem e busca colocar os jovens como culpados de suas próprias mortes", disse Reinaldo Cabral de Moraes, pai de Gabriel Rogério de Moraes, de 20 anos, que saiu de Mogi das Cruzes, cidade na região metropolitana de São Paulo, para o Baile da DZ7, uma viagem de mais de 2 horas.
"As provas verdadeiras aparecerão, pois as imagens não deixam dúvidas da ação desastrosa da polícia. Se tinha alguém fora do normal psicológico no local eram esses indivíduos", disse Moraes.
Tio de Marcos Paulo Oliveira dos Santos, 16, também morto em Paraisópolis, o analista de sistemas Marcos Alquezare disse que a eventual ingestão de álcool pelas vítimas "não exime a polícia da responsabilidade pelas mortes. Passar panos quentes seria uma saída para os crimes praticados".
Retificação de atestado
A família de Marcos Paulo vai pleitear a retificação do atestado de óbito do jovem, no qual consta "causa da morte a determinar".
"Queremos que no atestado de óbito conste exatamente que ele morreu em virtude de múltiplas fraturas. Não concordamos com o que está escrito e vamos exigir a retificação deste atestado que foi entregue hoje para a família", disse Alquezare.
Secretário de Segurança Pública, o general João Camilo Pires de Campos diz ser prudente esperar a conclusão dos inquéritos do caso para comentar as mortes em Paraisópolis. O governador paulista, João Doria (PSDB), também não quis comentar.
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