Professor de jiu-jítsu morre ao ser baleado em confronto de facções no Rio

O professor de jiu-jítsu Samuel Peixoto e outras duas pessoas morreram na tarde de ontem vítimas de um confronto de facções rivais no Complexo do São Carlos, na região Central da cidade. Samuca, como era conhecido, dava aula para crianças e adolescentes em um projeto social na comunidade e trabalhava também como mototaxista. O professor dele, que se apresentou como mestre Carlão e conhecia o jovem havia dez anos, disse que Samuel receberia sua faixa preta no fim do ano.

"Ele doou a vida dele para fazer o bem para as crianças. Para as crianças ele era um pai. As crianças perderem um pai. A comunidade está de luto, alunos estão chorando, muitos pais estão dizendo que os filhos querem dar o último adeus [ao Samuel]. Ele é um rapaz excelente, pessoa iluminada, que nasceu para isso aqui. São dez anos do meu lado a fazer o bem para a comunidade".

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Samuel também trabalhava dando aulas em outro projeto da comunidade evangélica na Cidade Nova. Nas redes sociais, amigos postaram homenagem ao lutador.

"CT2 em luto. Hoje, infelizmente perdemos um irmão querido, nosso professor e ovelha amada Samuel Peixoto. Vítima dessa guerra desenfreada do tráfico em nossas comunidades. Um pai de família, trabalhador, homem de Deus e um jovem brincalhão, que esbanjava alegria e motivação por onde passava. Não perdemos um membro, perdemos um irmão", postou a comunidade no Facebook.

"Queria dormir e acordar e ver que tudo não passou de um engano, que você estará na quarta-feira nos recepcionado com aquele sorrisão na nossa casa Adecin CT2. Nos erguer vai ser muito difícil, a saudade será muito grande, mas o que nos conforta é a certeza da sua salvação, grande Samuel (...) A dor tá muito grande, parece que arrancaram um pedaço de nós, mas sabemos que o nosso consolador está conosco", comentou uma amiga.

Samuel foi baleado nas costas na tarde de ontem. Ele estava com a moto dele no momento que foi atingido. Segundo parentes, ele será enterrado nesta tarde vestindo seu quimono. Ele será sepultado no Cemitério do Catumbi, na zona norte do Rio.

O professor era o mais velho de um total de cinco irmãos e deixa um bebê de três meses.

O pai dele, Edimar Peixoto, 69, que trabalha como balconista, contou que todos os filhos são lutadores e foram criados na igreja. No IML (Instituto Médico Legal), onde esteve na manhã de hoje para liberar o corpo, ele contou como recebeu a notícia de perder o filho mais velho.

"Algumas pessoas bateram na minha porta dizendo que o David, irmão de Samuel, tinha morrido, mas o David estava em casa e pensei logo do Samuel. Saí de casa no meio daquele tiroteio e quando cheguei lá me avisaram que meu filho já tinha sido levado para o hospital. Chegando lá foi uma confusão, pois não nos deixavam entrar. Meu outro filho se descontrolou e levou um soco no nariz do policial. Abriu o nariz dele. Quando me deparei com o corpo do meu filho, tive um surto. Abracei, tirei aqueles panos, beijei meu filho, esfreguei meu rosto. A dor é na alma", disse, emocionado.

Guerra de facções

Samuel foi baleado nas costas quando fazia um trabalho extra como mototaxista. Ele foi socorrido por moradores da comunidade para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, mas não resistiu aos ferimentos. A Polícia investiga se no momento houve uma tentativa de invasão ao Morro do São Carlos por traficantes do Morro da Coroa.

Outras pessoas foram baleadas. Elas foram identificadas como Yanca Lorrana Marques Rodrigues dos Santos e Fernando da Costa Cavalcante. Outras quatro pessoas ficaram feridas.

Procurada, a Polícia Civil disso que um inquérito foi instaurado para apurar o caso. "Diligências estão em andamento para esclarecer o caso".

Já a PM ressaltou que não havia operação policial na região. "A vítima teria sido ferida por disparos de arma de fogo na comunidade da Mineira, sendo socorrida pelos militares ao Hospital Municipal Souza Aguiar. Na unidade hospitalar, a equipe foi informada que deram entrada outras três pessoas feridas, oriundas da mesma comunidade. Cabe ressaltar que a Polícia Militar não realizava operação na comunidade."