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SP precisa ir além dos piscinões para absorver chuva, dizem especialistas

Vista da Marginal do Rio Tietê, sentido Rodovia Ayrton Senna, da Ponte Julio de Mesquita Neto, em São Paulo,  - FELIPE RAU/ESTADÃO CONTEÚDO
Vista da Marginal do Rio Tietê, sentido Rodovia Ayrton Senna, da Ponte Julio de Mesquita Neto, em São Paulo, Imagem: FELIPE RAU/ESTADÃO CONTEÚDO

Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

12/02/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Para especialistas, SP precisa melhorar a drenagem da cidade
  • Foco deveria ser em aumentar capacidade de reter a água da chuva
  • Sozinhos, os piscinões não resolvem o problema, afirmam especialistas
  • Parques lineares, jardins de chuva e expansão das áreas verdes devem ser incentivados

A cidade de São Paulo precisa absorver mais água para evitar enchentes como as que atingiram a capital paulista no início da semana, segundo especialistas consultados pelo UOL.

Para que isso aconteça, porém, o município vai ter que inverter a proporção atual da quantidade de água que escorre para seus principais rios e a que reservatórios e solos conseguem reter.

Atualmente, de 30% a 40% da água da chuva que atinge o centro expandido se infiltra no solo, segundo o urbanista Anderson Kazuo Nakano, professor do Instituto das Cidades, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Por outro lado, de de 60% a 70% da água vão para os quatro grandes rios da cidade: Tietê, Pinheiros, Tamanduateí e Aricanduva.

"É muito pouco. A chuva não teria causado a tragédia que a gente viveu na segunda se conseguíssemos que 50% da água das chuvas fossem absorvidas pelo solo e que outros 25% fossem retidas por mais tempo", diz Nakano. "Assim, só 25% escorreriam para os rios. E isso minimizaria bastante o problema."

E os piscinões?

Principal investimento da Prefeitura de São Paulo contra as enchentes, os piscinões não são a única solução para a drenagem na cidade, segundo os especialistas ouvidos pelo UOL.

"Sozinhos, eles não resolvem o problema", diz Nakano. "Os piscinões são indicados, mas não existe um método 100% eficaz para evitar as inundações", afirma o engenheiro Carlos Alberto de Moya, professor do Instituto Mauá de Tecnologia.

Nakano adverte que a solução é "questionável em si", pois os piscinões têm problemas de manutenção e projeto, e que falta integrá-los melhor à cidade. "Os piscinões que temos hoje não são projetados pela quantidade de água que poderão armazenar, mas de acordo com o tamanho do terreno disponível. Eles não são suficientes no tamanho nem na quantidade", afirma.

O prefeito Bruno Covas (PSDB), em entrevista à TV Bandeirantes, disse que a cidade precisa de mais piscinões para conter uma chuva como a do início da semana. Em vídeo gravado sobre as intervenções feitas pelo município, Covas afirmou que os piscinões funcionaram perfeitamente.

Bruno Covas diz que SP precisa de mais piscinões

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O que usar além de piscinões?

Para especialistas, existem outras medidas além dos piscinões, como:

  • expansão das áreas verdes e da arborização urbana: quanto maior a cobertura vegetal, mais o solo absorve a água da chuva
  • incentivo à captação de água da chuva em condomínios, comércios e indústrias para posterior reúso: lei municipal de 2002 obriga toda nova construção em São Paulo a ter um reservatório de água pluvial;
  • construção de piscinões integrados à cidade como equipamento urbano e não apenas como reservatório: hoje, os piscinões são caixas impermeáveis em que é armazenada a água da chuva; a ideia é integrar esses reservatórios à cidade, envolvendo mais a população em seu cuidado e preservação;
  • parques lineares: ampliação de áreas verdes da cidade com parques nas margens dos rios, recuperando essas áreas e aumentando a capacidade de absorção de água;
  • jardins de chuva: ajardinamento de calçadas, canteiros centrais e outras áreas urbanas para aumentar a capacidade de absorção de água pelo solo;
  • melhor controle de uso e ocupação do solo: quanto mais ordenada for a ocupação do solo, menores as chances de impermeabilização em excesso do solo;

Obras do jardim de chuva no canteiro central da rua Major Natanael, no bairro do Pacaembu, em São Paulo - Prefeitura de São Paulo/Divulgação - Prefeitura de São Paulo/Divulgação
Obras do jardim de chuva no canteiro central da rua Major Natanael, no bairro do Pacaembu, em São Paulo
Imagem: Prefeitura de São Paulo/Divulgação

Obras municipais

Até 2017, no início da gestão de Covas e de João Doria (PSDB), a capital tinha 24 piscinões. Nos primeiros três anos da gestão, foram entregues oito reservatórios. A promessa para 2020 é entregar mais cinco unidades. Há outros cinco em projeto.

A Secretaria de Infraestrutura Urbana aponta que, além dos piscinões, tem realizado obras como os jardins de chuva, a canalização de córrego e a recomposição de galerias.

Os jardins de chuva também visam aumentar a capacidade do solo para absorver a chuva, como os parques lineares, mas numa escala bem menor, e podem ser feitos em calçadas, rotatórias e canteiros centrais.

O maior jardim do tipo em construção na cidade está na rua Major Natanael, no Pacaembu, e terá 2.740 m². Há jardins prontos e obras em quatro das cinco regiões da cidade.

28/03/2018. Equipamentos de ginástica do parque linear do Rio Verde, na zona leste de São Paulo, que requeriam manutenção em 2018 - Rubens Cavallari - 28.mar.2018/Folhapress - Rubens Cavallari - 28.mar.2018/Folhapress
Equipamentos de ginástica do parque linear do Rio Verde, na zona leste de São Paulo, que requeriam manutenção em 2018
Imagem: Rubens Cavallari - 28.mar.2018/Folhapress

Parques ao longo dos rios

Parques lineares, grandes faixas arborizadas ao longo de rios, não foram listados pela secretaria no pacote de iniciativas municipais contra enchentes.

O principal parque do gênero previsto na região metropolitana é o projeto Parque Várzeas do Tietê, de responsabilidade do DAAE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), do governo do Estado, lançado em 2009 e sem previsão de conclusão.

Questionado sobre o andamento do parque, o DAAE não respondeu ao UOL. Urbanistas ligados ao tema disseram que o Estado já desapropriou as áreas para o parque, planejado para ligar o Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo, à Salesópolis, ao longo de 75 quilômetros às margens do rio Tietê.

"No começo do século 20, a cidade previa as vias parques", diz Nakano. "É preciso recuperar as grandes planícies das áreas dos rios da cidade."