SP precisa ir além dos piscinões para absorver chuva, dizem especialistas
Resumo da notícia
- Para especialistas, SP precisa melhorar a drenagem da cidade
- Foco deveria ser em aumentar capacidade de reter a água da chuva
- Sozinhos, os piscinões não resolvem o problema, afirmam especialistas
- Parques lineares, jardins de chuva e expansão das áreas verdes devem ser incentivados
A cidade de São Paulo precisa absorver mais água para evitar enchentes como as que atingiram a capital paulista no início da semana, segundo especialistas consultados pelo UOL.
Para que isso aconteça, porém, o município vai ter que inverter a proporção atual da quantidade de água que escorre para seus principais rios e a que reservatórios e solos conseguem reter.
Atualmente, de 30% a 40% da água da chuva que atinge o centro expandido se infiltra no solo, segundo o urbanista Anderson Kazuo Nakano, professor do Instituto das Cidades, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Por outro lado, de de 60% a 70% da água vão para os quatro grandes rios da cidade: Tietê, Pinheiros, Tamanduateí e Aricanduva.
"É muito pouco. A chuva não teria causado a tragédia que a gente viveu na segunda se conseguíssemos que 50% da água das chuvas fossem absorvidas pelo solo e que outros 25% fossem retidas por mais tempo", diz Nakano. "Assim, só 25% escorreriam para os rios. E isso minimizaria bastante o problema."
E os piscinões?
Principal investimento da Prefeitura de São Paulo contra as enchentes, os piscinões não são a única solução para a drenagem na cidade, segundo os especialistas ouvidos pelo UOL.
"Sozinhos, eles não resolvem o problema", diz Nakano. "Os piscinões são indicados, mas não existe um método 100% eficaz para evitar as inundações", afirma o engenheiro Carlos Alberto de Moya, professor do Instituto Mauá de Tecnologia.
Nakano adverte que a solução é "questionável em si", pois os piscinões têm problemas de manutenção e projeto, e que falta integrá-los melhor à cidade. "Os piscinões que temos hoje não são projetados pela quantidade de água que poderão armazenar, mas de acordo com o tamanho do terreno disponível. Eles não são suficientes no tamanho nem na quantidade", afirma.
O prefeito Bruno Covas (PSDB), em entrevista à TV Bandeirantes, disse que a cidade precisa de mais piscinões para conter uma chuva como a do início da semana. Em vídeo gravado sobre as intervenções feitas pelo município, Covas afirmou que os piscinões funcionaram perfeitamente.
O que usar além de piscinões?
Para especialistas, existem outras medidas além dos piscinões, como:
- expansão das áreas verdes e da arborização urbana: quanto maior a cobertura vegetal, mais o solo absorve a água da chuva
- incentivo à captação de água da chuva em condomínios, comércios e indústrias para posterior reúso: lei municipal de 2002 obriga toda nova construção em São Paulo a ter um reservatório de água pluvial;
- construção de piscinões integrados à cidade como equipamento urbano e não apenas como reservatório: hoje, os piscinões são caixas impermeáveis em que é armazenada a água da chuva; a ideia é integrar esses reservatórios à cidade, envolvendo mais a população em seu cuidado e preservação;
- parques lineares: ampliação de áreas verdes da cidade com parques nas margens dos rios, recuperando essas áreas e aumentando a capacidade de absorção de água;
- jardins de chuva: ajardinamento de calçadas, canteiros centrais e outras áreas urbanas para aumentar a capacidade de absorção de água pelo solo;
- melhor controle de uso e ocupação do solo: quanto mais ordenada for a ocupação do solo, menores as chances de impermeabilização em excesso do solo;
Obras municipais
Até 2017, no início da gestão de Covas e de João Doria (PSDB), a capital tinha 24 piscinões. Nos primeiros três anos da gestão, foram entregues oito reservatórios. A promessa para 2020 é entregar mais cinco unidades. Há outros cinco em projeto.
A Secretaria de Infraestrutura Urbana aponta que, além dos piscinões, tem realizado obras como os jardins de chuva, a canalização de córrego e a recomposição de galerias.
Os jardins de chuva também visam aumentar a capacidade do solo para absorver a chuva, como os parques lineares, mas numa escala bem menor, e podem ser feitos em calçadas, rotatórias e canteiros centrais.
O maior jardim do tipo em construção na cidade está na rua Major Natanael, no Pacaembu, e terá 2.740 m². Há jardins prontos e obras em quatro das cinco regiões da cidade.
Parques ao longo dos rios
Parques lineares, grandes faixas arborizadas ao longo de rios, não foram listados pela secretaria no pacote de iniciativas municipais contra enchentes.
O principal parque do gênero previsto na região metropolitana é o projeto Parque Várzeas do Tietê, de responsabilidade do DAAE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), do governo do Estado, lançado em 2009 e sem previsão de conclusão.
Questionado sobre o andamento do parque, o DAAE não respondeu ao UOL. Urbanistas ligados ao tema disseram que o Estado já desapropriou as áreas para o parque, planejado para ligar o Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo, à Salesópolis, ao longo de 75 quilômetros às margens do rio Tietê.
"No começo do século 20, a cidade previa as vias parques", diz Nakano. "É preciso recuperar as grandes planícies das áreas dos rios da cidade."
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