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Hang, dono da Havan, é condenado por atacar reitor da Unicamp com fake news

Luciano Hang, empresário dono da Havan, entre funcionários em uma das suas lojas; em post divulgado em seu Twitter - Twitter/Reprodução
Luciano Hang, empresário dono da Havan, entre funcionários em uma das suas lojas; em post divulgado em seu Twitter Imagem: Twitter/Reprodução

Rogério Gentile

Colunista do UOL

25/05/2020 09h56

Resumo da notícia

  • Empresário pagará indenização de R$ 20,9 mil; cabe recurso
  • Hang disse que reitor havia gritado "Viva la Revolução" numa cerimônia
  • Defesa diz que ele apenas reproduziu fato que um amigo lhe contara

O empresário catarinense Luciano Hang, um dos mais engajados aliados do presidente Jair Bolsonaro, foi condenado pela Justiça de São Paulo a indenizar o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, em R$ 20,9 mil.

No dia 24 de julho de 2019, o proprietário da rede de lojas Havan, famoso pelos seu terno verde-bandeira, escreveu em seu twitter que o reitor da Universidade de Campinas havia, durante uma formatura, gritado "Viva la Revolução", conforme lhe contara um amigo.

Hang terminou o post com um comentário: "E depois dizem que nossas universidades não estão contaminadas? Vá pra Venezuela Reitor FDP".

Cinco mil e trezentas pessoas curtiram o tweet.

A história, no entanto, não era verdadeira, segundo constatou o juiz Mauro Iuji Fukumoto, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Campinas. "O reitor não gritou 'Viva la revolução' em uma cerimônia de colação de grau."

À Justiça, o reitor, que é professor de física, disse que nem mesmo participou da formatura. "Não compareci a nenhum evento de formatura no final do ano de 2018, e também não proferi o citado chavão em nenhuma ocasião", afirmou "Trata-se de evidente caso conhecido de fake news."

Em sua decisão, o juiz relatou que, durante a cerimônia, um dos integrantes da mesa deu algum grito, de acordo com relato de testemunhas. Explica, no entanto, que não houve entre elas consenso sobre o teor exato da manifestação. Uma delas disse que, na verdade, a frase correta seria "Viva a resistência", e não "Viva la revolução".

"Mas isso em nada modifica a situação", afirmou o magistrado. "O fato não ocorreu como narrou o empresário. O reitor não pode ser responsabilizado por tal manifestação, como se dele fosse".

De acordo com o juiz, o empresário, tentou atribuir ao reitor uma "pecha de radical e extremista, alguém que em um evento acadêmico manifesta uma posição política sem qualquer relação com o contexto, sendo incapaz de dissociar sua suposta opção ideológica dos deveres inerentes ao cargo que ocupa."

A defesa de Hang afirmou que ele apenas reproduzira na rede social um fato que um amigo lhe contara. "O senhor. Luciano Hang não cometeu nenhum ato ilícito, eis que a postagem está no âmbito de proteção da liberdade de manifestação do pensamento, ainda que fosse errônea", escreveram os advogados Murilo Varasquim e Victor Leal.

Os defensores do empresário afirmaram ainda que o "FDP" não foi utilizado com a finalidade de ofender o reitor, e que não devia ser interpretado em seu sentido literal. Segundo eles, o termo não gera dano moral, "não passando de mero dissabor cotidiano a que todos estão
sujeitos".

O juiz não aceitou a argumentação. Além da multa, condenou o empresário a se retratar na rede social com o mesmo número de linhas do tweet original.

Cabe recurso.