Comerciantes burlam ordem da prefeitura e reabrem comércio no centro de SP
O comércio amanheceu movimentado hoje na cidade de São Paulo. Enquanto na zona norte a abertura coube aos pequenos comerciantes, na região central algumas lojas de grande porte burlaram as regras da prefeitura e retomaram as vendas.
A partir de hoje começa a valer o plano de flexibilização da quarentena anunciado pelo governo do estado. Na capital, a permissão de funcionamento depende do envio de um protocolo de segurança pelos setores econômicos, que precisará ser aprovado pela Vigilância Sanitária.
Apesar de o prefeito Bruno Covas ter afirmado que "na cidade, nada reabre a partir de 1º de junho", nem todos respeitaram a ordem na região central. Por ali, as famosas galerias das ruas 24 de Maio e 7 de Abril e o Shopping Light, na Praça Ramos de Azevedo, permaneceram de portas fechadas.
Enquanto bares e restaurantes bloqueiam a entrada principal com cadeiras e mesas e só vendem para viagem, algumas bancas de jornal enfrentam a proibição e comercializam de revistas a doces na rua Líbero Badaró.
Mas alguns estabelecimentos de grande porte enfrentam a prefeitura e mesmo a presença da polícia. O UOL encontrou funcionando uma loja de chocolates, duas de calçados e o principal ponto de vendas da rua 25 de Março, conhecida pelo comércio popular.
A Chocolates Brasil Cacau, na rua Barão de Itapetininga, a 200 metros da prefeitura, lacrou a entrada da porta com uma faixa plástica, subiu metade da porta e passou a oferecer seus produtos a quem passava na rua. Ao avistar a reportagem, uma atendente perguntou: "Quer comprar algum presente da loja?".
Após a identificação do UOL, as vendedoras negaram que vendam os produtos a quem passa na rua. Sem autorização para dar entrevista, elas disseram que a loja recebe as encomendas por aplicativo de mensagens e apenas realiza a entrega através da porta de aço entreaberta. A gerência não quis falar com o UOL.
Armarinhos Fernando vende pelos fundos
Apesar de a Rua 25 de Março estar praticamente fechada, o UOL flagrou duas grandes redes de calçados vendendo seus produtos. De máscaras, os funcionários montaram um balcão na entrada das lojas, puseram sobre ele um frasco com álcool em gel e ali mesmo traziam tênis e sapatos a quem estivesse disposto a experimentar na calçada.
"Não posso falar por ordens do patrão", disse o gerente da Global Shoes, que contava com três funcionários para atender os clientes, que preferiram não conversar com a reportagem.
Perto dali, o gerente da Clovis Calçados, Raimundo Mendes, disse que aquele era o primeiro dia atendendo na porta da loja. "Vendemos por WhatsApp e as pessoas vêm pegar aqui. Não pode entrar na loja", afirmou ao dizer que apenas cinco dos 20 funcionários estavam na ativa.
Mas o movimento é surpreendente na maior loja da rua 25 de Março, a Armarinhos Fernando. Embora suas portas estejam cerradas na famosa rua comercial, 40 pessoas se espremiam em uma fila atrás da loja, na rua Comendador Abdo Schahin.
Por volta das 11h30, um dos organizadores avisou assim que a reportagem se aproximou: "Só entrar logo na fila porque logo eu vou encerrar", disse.
Em uma porta estreita, um homem permite a entrada de cinco fregueses por vez, autorizados a comprar na loja assim que outros cinco deixam o prédio por outra porta. Embora os organizadores tenham feito marcas no chão com um metrô de distância entre elas para separar os clientes, todos se amontoavam.
Ao UOL, o gerente da loja, Ondamar Ferreira, garantiu que na fila só havia compradores de atacado. "Não atendemos no varejo. Os atacadistas formalizam o pedido por WhatsApp, pagam e vêm aqui para retirar", afirmou. Sobre a aglomeração, disse que seus funcionários organizam as filas e recomendam as lojas na periferia, "com autorização para funcionar".
A vigilante Jeane Faria, 43, estava há 10 minutos na fila. "Não sou atacadista, sou cliente normal. Vim comprar algumas coisas pra artesanato e unha", disse. "Se já tivesse lockdown na cidade, o comércio todo estaria reaberto."
Camelôs
Outros que sofrem com o pouco movimento são os vendedores ambulantes. Márcio (nome fictício), 23, apareceu na região pela primeira vez nesta segunda desde que a quarentena foi decretada.
"Pego trem de Poá, levo uma hora e meia até a estação da Luz e chego aqui às 8h", diz o rapaz, casado e pai de um garoto de 7 anos. "Até agora não vendi nada. Em uma segunda-feira normal, já teria vendido uns R$ 300 até essa hora (11h)."
Brasilândia e Casa Verde
Poucos estabelecimentos de Brasilândia, distrito na zona norte de São Paulo, voltaram a abrir as portas no primeiro dia de flexibilização da quarentena no estado. O bairro sofre com alta de óbitos em decorrência do novo coronavírus.
Principal ponto comercial da subprefeitura, que engloba, ainda, Freguesia do Ó, a Avenida Itaberaba amanhece pouco movimentada nesta segunda-feira (1º). Ainda assim, o movimento é maior do que o observado pelo UOL nas últimas semanas.
Nas ruas, a maior parte das pessoas usa máscara — o que não acontecia com frequência. Procurada pela reportagem, a subprefeitura local afirma que tem feito campanhas de conscientização nas ruas para estimular os moradores a ficarem em casa e a se proteger quando precisarem sair.
Dentro da comunidade Jardim Paulistano, o movimento aumenta. Além de estabelecimentos essenciais, alguns bares funcionam com as portas de ferro entreabertas — outros nem fazem questão de se esconder. Dono de um bar que recebia três clientes às 11h, Zé diz que decidiu abrir o espaço depois de muita insistência dos clientes.
À reportagem, ele pediu que não fosse divulgado seu nome completo por medo da fiscalização. "Todo dia, os clientes vinham aqui e bebiam no portão. No fim, dava no mesmo, então decidi abrir de novo." Segundo o comerciante, esse foi o primeiro dia em que o bar foi aberto desde o decreto de quarentena, em março.
Ainda em Brasilândia, salões de cabeleireiro acanhados voltam a receber clientes. Segundo um funcionário da limpeza urbana de São Paulo, que trabalha na região às segundas e quartas, o dia de hoje é o mais movimentado desde o início do isolamento.
Casa Verde tem rua comercial lotada
Na vizinha Casa Verde, também na zona norte, o movimento é maior. Poucos carros passam pelas ruas do bairro, mas o ponto principal do comércio, a rua Zilda, está abarrotada de gente. As lojas, desde cabeleireiros até lojas de roupa, estão abertas.
Em muitos estabelecimentos, a regra de distanciamento faz parte da abertura — pessoas são permitidas desde que a 1,5 metrô de distância.
A regra não vale para a casa lotérica na mesma rua: pessoas enfileiradas — todas de máscara, mas muito próximas uma da outra — aguardam o atendimento.
Os restaurantes continuam a oferecer apenas delivery — as entradas estão bloqueadas com mesas e, nos portões, foram pregados avisos que trazem o cardápio do dia e a informação de que os pedidos só valem para levar para casa.
Em Casa Verde, igrejas e academias continuam fechadas. Na parte residencial do bairro, o movimento é menor. Ainda assim, são poucos os moradores que abrem mão da máscara de proteção.
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