Vídeo mostra PMs agredindo homem em Planaltina; inquérito será instaurado
Um vídeo que circula pelas redes sociais mostra dois policiais militares agredindo um homem de 30 anos em um estacionamento de um supermercado em Planaltina, a 50 km de distância do centro de Brasília. As imagens foram gravadas ontem, por volta de 22h. Segundo o advogado de Weliton Luiz Maganha, a vítima sofreu uma lesão na clavícula, no crânio e diversas escoriações pelo corpo. A PM diz que não se tratou de um caso de racismo.
O caso é investigado pela 16ª Delegacia de Polícia. Nas imagens, os agentes de segurança aparecem dando golpes no homem - que está sentado e não reage. Ele chora e pede os policiais parem com as agressores.
"Me trataram como bicho"
Abalado, Weliton Luiz Maganha contou ao UOL que durante as agressões pensou que iria morrer. Segundo ele, houve racismo por parte dos policiais.
"Me trataram como bicho, como um qualquer. Eu respeitei a abordagem, fiz o que pediram. Não acharam nada e começaram a me bater. Se eu fosse branco, não passaria por esse tipo. Me deram pancada no corpo todo. Na cabeça e nas costelas. Estou com muita dor", relata.
Weliton não é morador de rua, como divulgado anteriormente. Nasceu no Rio de Janeiro e mora atualmente em Planaltina com a esposa. A renda da família vem dele, que trabalha como vendedor ambulante.
"Eu sou trabalhador. Espero que ninguém passe pelo que passei. Senti muito medo. Caí no chão, mesmo assim me jogaram pedra e spray de pimenta também na minha cara. Quero justiça. Quero que isso não saia impune", desabafou.
Agressão filmada
O rapaz que presenciou e gravou as agressões publicou o vídeo no Twitter. Ele conta que aguardava um amigo no estacionamento, dentro do carro, quando começaram as agressões.
"Ele estava apenas sentado. Uma amiga minha disse que ele pediu moeda, foi tranquilo e atencioso. Era um flanelinha, não tem culpa de nada. Um dos policiais ficou com raiva por alguma coisa que o morador falou, jogou spray de pimenta com ele rendido, sem ter feito nada", disse ao UOL.
O jovem relata que os agentes deram quatro golpes de cassetete em Weliton e, quando ele estava tentando correr, pegaram uma pedra e jogaram nele.
"Tinha família lá, cheio de criança vendo isso. Ele era o único negro no local, além de mim. Negro pobre. É muito despreparo da polícia. É um sentimento de impotência tão grande. Fiquei paralisado. Poderia ser meu avô, meu tio ou eu. Somos todos negros", desabafa.
PM nega atitude racista
Em nota, a Polícia Militar informou que foi acionada pela população para atender inúmeras denúncias de perturbação da tranquilidade e da ordem pública.
"Não há que se falar em atitude racista, mas de excesso na ação policial. A PMDF informa que foi instaurado IPM (Inquérito Policial Militar). As filmagens foram recolhidas como objeto de investigação", disse.
Segundo a corporação, os servidores policiais militares serão ouvidos ainda hoje, assim como possíveis testemunhas. Os policiais foram afastados do serviço operacional. No Twitter, a PM também se manifestou.
"APMDF não compactua com desvios de conduta. Não se trata de racismo. Somos uma instituição bicentenária multiétnica e consciente das suas responsabilidades junto à sociedade. Os policiais do vídeo estão na Corregedoria e nada será impune aos rigores da lei. #allLivesMatters"
O tuíte da PM incluiu a hashtag #allLivesMatters, que significa "todas as vidas importam". Internautas lembraram que a frase vem de um movimento que confronta a hashtag #BlackLivesMatter, que diz "as vidas negras importam" e é usado para ressaltar a forma como o racismo coloca mais a vida dos negros em perigo.
Já a Secretaria de Segurança Pública do DF disse que está adotando todas as providências legais de apuração dos fatos ocorridos em vídeo que circula desde esta madrugada nas redes sociais.
"Já está em curso a instauração de Inquérito Policial Militar, e deixamos claro, desde já, que as atitudes dos policiais em questão em nada correspondem às diretrizes de abordagem e conduta preconizadas pela corporação", pontuou.
Vítima estava fazendo compras, afirma defesa
De acordo com Anderson Tiago Campos, a vítima é vendedora e foi ao supermercado fazer compras com o dinheiro do auxílio emergencial.
"Ao sair, ele foi abordado pelos policiais que já o agrediram. Ele foi ao hospital, fez exames no IML e registrou boletim de ocorrência", explicou o advogado.
Segundo o boletim de ocorrência, a qual o UOL teve acesso, a vítima informou que que estava saindo do mercado, após comprar um refrigerante e duas cervejas e que foi abordado por três policiais no estacionamento.
"A vítima conta que foi solicitada que ela colocasse as mãos na parede. Foi feito busca pessoal, porém não encontraram nenhum ilícito. Após isso um dos policiais desferiu um soco na costela da vítima, disseram para ele calar a boca, deram socos da cabeça e golpes de cassetete nas costas e braços", diz o texto.
O boletim ainda relata que a vítima caiu e o chão e em seguida, os policiais utilizaram gás de pimenta.
O UOL tenta contato com o supermercado.
"Isso aconteceu em um momento muito significativo, por toda mobilização contra a morte de George Floyd e pelo menino João Pedro. Serve pra galera ver que isso acontece em todo o país, inclusive em Planaltina", concluiu o rapaz que presenciou as agressões.
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