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Médica que apanhou diz que vai se mudar: 'Boto o pé na rua e fico com medo'

A médica Ticyana Azambuja em entrevista para o "Fantástico" - Reprodução
A médica Ticyana Azambuja em entrevista para o "Fantástico" Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

07/06/2020 21h32Atualizada em 08/06/2020 08h44

A médica Ticyana Azambuja se emocionou em entrevista exibida hoje no "Fantástico" e disse que vai se mudar. Ela foi espancada por frequentadores de uma festa clandestina na tarde de 30 de maio no Grajaú, zona norte do Rio, e sofreu várias lesões pelo corpo.

"Era meu refúgio, meu lugar de descanso. Estou muito triste de me mudar. Mas quando boto o pé na rua, fico com medo", disse Ticyana.

No sábado (30) à tarde, Ticyana disse ter tocado a campainha do imóvel onde ocorria uma balada para pedir que o som alto acabasse. Segundo ela, não era a primeira vez que os vizinhos promoviam uma festa com aglomeração e som alto durante a pandemia do novo coronavírus. Após ouvir um palavrão como resposta, usou um martelo para quebrar o retrovisor e o vidro traseiro de um carro estacionado irregularmente em frente à calçada.

Em seguida, participantes da festa correram atrás dela, carregaram-na pela rua e a agrediram diversas vezes, chegando a jogá-la no chão. Imagens de câmeras de segurança da rua mostraram ao menos quatro agressores - três homens e uma mulher. Também foi possível ver o dono do carro que ela quebrou.

A médica teve o joelho esquerdo fraturado, ligamentos rompidos e sofreu lesões nas duas mãos, pisoteadas pelos agressores. Ela também denunciou a omissão de bombeiros, que estavam em um batalhão ao lado da festa e apenas observaram as agressões. A corregedoria do Corpo de Bombeiros abriu procedimento interno para apurar o caso.

Ainda na entrevista para o programa da Globo, a médica disse que não quebraria o carro novamente. "Me arrependo, foi um ato inconsequente, porque eu poderia ter morrido. Foi errado", afirmou.

Vídeo flagra médicA sendo jogada no chão

30.mai.2020 - A médica Ticyana é agredida no Rio de Janeiro - Reprodução - Reprodução
30.mai.2020 - A médica Ticyana é agredida no Rio de Janeiro
Imagem: Reprodução

Um dos vídeos da agressão sofrida por Ticyana mostra o momento em que ela é jogada no chão pelo comerciante Rafael Martins Presta, que comemorava o seu aniversário. Com a queda, ela fraturou o joelho esquerdo. Ticyana também teve lesões nas mãos, pisoteadas pelos agressores.

Um laudo da ressonância magnética obtido com exclusividade pelo UOL mostra que ela sofreu fratura no fêmur, tíbia e ainda sofreu rompimento no ligamento colateral medial do joelho ferido.

A advogada Maíra Fernandes, que representa Ticyana, disse que o vídeo e o resultado do laudo do exame comprovam a gravidade das agressões. "Os vídeos mostram que Ticyana foi jogada no chão, o que lhe causou graves lesões no joelho", disse. No fim do mês, será feito um novo exame no IML.

Nas imagens, feitas por uma moradora do prédio em frente à balada que desrespeitava as regras de isolamento social em meio à pandemia, também é possível ver a agressão sofrida por uma testemunha, um homem, agredido com um soco no rosto pelas costas enquanto tentava chamar a polícia. O agressor, de camisa amarela e calça jeans, é o mesmo que usou um martelo para agredir a médica enquanto ela era carregada.

Com 5 minutos e 33 segundos de duração, o vídeo mostra pela primeira vez a movimentação do policial militar Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro, dono do Mini Cooper estacionado irregularmente em frente à festa, que teve o retrovisor e o espelho traseiro quebrados por Ticyana.

O PM cruza pelo homem de camisa amarela, que exibe o martelo que ele próprio usou para agredir Ticyana —foi o mesmo usado pela médica para depredar o veículo. Luiz Eduardo caminha em direção a Ticyana para falar algo e apontar em direção ao carro. Em seguida, Rafael a atira no chão.

É possível ouvir a reação de moradores: "Vocês estão malucos?", grita uma mulher. "Jogou ela no chão", diz outra. "Tava todo mundo na festa lá e não tem ninguém com máscara. Todo mundo bebendo", reclama um homem.

O caso está sendo investigado em sigilo pela 20ª DP (Vila Isabel). A corregedoria da PM-RJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro) investiga a possível omissão do sargento Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro, afastado das suas funções no Batalhão de Choque.