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Vídeo: médica agredida no Rio desmaia após agressor aplicar mata-leão

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

10/06/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Câmera mostra Ticyana sendo arrastada pela rua por agressor
  • Médica foi recebida pelo governador Wilson Witzel
  • Por omissão, PM e bombeiros serão investigados por lesão corporal

Um novo vídeo, obtido com exclusividade pelo UOL, mostra o momento em que a médica Ticyana Azambuja começou a ser agredida por frequentadores de uma festa clandestina no Grajaú, zona norte do Rio, após quebrar o retrovisor e o vidro traseiro do carro do policial militar Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro. As imagens flagram o comerciante Rafael Martins Presta aplicando um mata-leão (golpe de estrangulamento) na vítima, que desmaia.

A médica aparece correndo no meio da rua. Em seguida, tenta subir na garupa de um motoboy na rua Marechal Jofre, mas é alcançada por dois dos agressores. O vídeo foi registrado pela câmera de segurança do Hospital Italiano na tarde de 30 de maio. Após ser carregada e jogada no chão por Rafael Presta, Ticyana sofreu uma fratura em dois ossos do joelho esquerdo.

Nas imagens, é possível ver quando a médica aborda o motoboy, que permanece parado até a chegada de dois agressores. Contida por Presta com um mata-leão, ela se agarra no guidão da moto, mas o motociclista dá três socos na sua mão. Nesse instante, Ticyana é arrastada pelo comerciante e desmaia no meio da rua. Presta parece pisar nas suas mãos.

O outro agressor, de camisa amarela e calça jeans, tira o martelo das mãos da médica e acompanha a ação. Ainda não identificado, ele é o mesmo que usa o objeto para agredi-la e que ataca uma testemunha com um soco pelas costas.

30.mai.2020 - Câmera de segurança do Hospital Italiano, no Grajaú, zona norte do Rio, mostra momento em que a médica Ticyana Azambuja desmaia após ser contida por um mata-leão aplicado pelo comerciante Rafael Presta - Reprodução - Reprodução
30.mai.2020 - Câmera de segurança do Hospital Italiano, no Grajaú, zona norte do Rio, mostra momento em que a médica Ticyana Azambuja desmaia após ser contida por um mata-leão aplicado pelo comerciante Rafael Presta
Imagem: Reprodução

A cena é acompanhada por um rapaz, que estava em frente a um carro. Um sujeito para de bicicleta e só observa. Outro homem passa pelos agressores. Uma mulher, de mãos dadas com uma criança, caminha pela calçada e presencia as agressões, mas continua caminhando. Em seguida, dois seguranças do Hospital Italiano se aproximam do portão para ver o que estava acontecendo.

30.mai.2020 - Nessa imagem, é possível ver Ticyana sendo arrastada por Rafael, inconsciente. A cena é presenciada por moradores - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Imagens confirmam versão de médica

O vídeo confirma a versão apresentada por Ticyana em entrevista ao UOL.

Pedi ajuda a um motoqueiro. Disse: 'Moço, pelo amor de Deus. Esses homens estão tentando me matar, me tira daqui'. Mas um deles disse: 'Não se mete, que ela já tá morta'

Ticyana Azambuja, médica agredida

Em seguida, Ticyana contou ter levado um mata-leão por trás em frente ao Hospital Italiano, onde informou ter visto um segurança, que nada fez. Tentou gritar, pedindo por socorro. Mas acabou desmaiando.

30.mai.2020 - Rafael fica em cima de Ticyana, desmaiada no meio da rua. A cena é observada à distância por um segurança do Hospital Italiano, no Grajaú, zona norte do Rio - Reprodução - Reprodução
30.mai.2020 - Rafael fica em cima de Ticyana, desmaiada no meio da rua. A cena é observada à distância por um segurança do Hospital Italiano, no Grajaú, zona norte do Rio
Imagem: Reprodução

Quando acordou, lembra que um homem estava com o pé em cima do seu peito e disse, segundo a sua versão: "Ué, vagabunda? Não tinha desmaiado? Era fingimento?". As imagens mostram Presta em pé, com o corpo da médica entre as suas pernas, nos instantes em que ela ficou desacordada.

9.jun.2020 - Acompanhada pela advogada Maíra Fernandes, a médica Ticyana Azambuja foi recebida pelo governador Wilson Witzel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
9.jun.2020 - Acompanhada pela advogada Maíra Fernandes, a médica Ticyana Azambuja foi recebida pelo governador Wilson Witzel
Imagem: Arquivo pessoal

Ticyana foi recebida ontem pelo governador Wilson Witzel (PSC) no Palácio Guanabara. "O governador falou que vai disponibilizar toda a estrutura do estado para que Ticyana se sinta segura e agradeceu ao empenho dela no combate ao coronavírus", contou a advogada Maíra Fernandes, que representa a médica.

PM e bombeiros serão investigados por lesão corporal

O delegado André Luiz de Souza Neves, que assume hoje a investigação do caso pela 20ª DP (Vila Isabel), disse que o PM de folga e os bombeiros na cena do crime também serão investigados pelo crime de lesão corporal.

Mesmo que não tenham agredido a vítima, explica o delegado, eles poderão responder pelos mesmos crimes cometidos pelos agressores caso fique constatada a omissão. "Se ficar comprovado que os agentes públicos no local poderiam ter impedido as agressões, eles passam a responder pelo mesmo delito, porque são agentes garantidores e possuem o dever legal de agir", disse o delegado.

Ele disse ainda que, se o laudo pericial comprovar necessidade de afastamento de Ticyana de suas atividades profissionais por mais de 30 dias, o caso passará a ser enquadrado pelo crime de lesão corporal grave, com pena de até cinco anos de prisão.

É um caso grave, de extrema covardia e brutalidade

André Luiz de Souza Neves, delegado

O que dizem os envolvidos

A defesa de Rafael Presta disse que Ticyana teria se machucado ao tentar fugir após depredar o carro. Imagens contrapõem essa versão.

O advogado Roger Doyle Couto Ferreira, que representa Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro, negou que o PM tenha presenciado as agressões ou se omitido de agir —o UOL teve acesso a fotos que mostram que o policial de folga presenciou, mas não impediu os ataques.

O agressor que aparece na imagem ao lado de Rafael Presta não foi identificado. E, por isso, não foi localizado para contar a sua versão do caso.