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Irmã gêmea é suspeita em crime por herança de R$ 25 milhões da contravenção

Shanna Harouche Garcia Lopes, filha do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, conhecido como Maninho - Reprodução/Facebook
Shanna Harouche Garcia Lopes, filha do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, conhecido como Maninho Imagem: Reprodução/Facebook

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

16/06/2020 11h15

Resumo da notícia

  • Filhas de bicheiro cortaram relações por desavenças sobre gestão de bens
  • Polícia Civil prendeu dois ex-policiais em mandados de busca e apreensão
  • Ex-presidente de escola de samba do Rio também foi alvo de ação
  • Shanna foi baleada em frente a um shopping em outubro de 2019

Uma disputa familiar por uma fortuna avaliada em R$ 25 milhões deixada pelo bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, morto em 2004, é apontada pela Polícia Civil como a motivação pela tentativa de assassinato contra Shanna Harouche Garcia Lopes, filha do contraventor, baleada em outubro do ano passado em frente a um shopping na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

Hoje, os agentes também cumpriram mandado de busca e apreensão na casa de Tamara Harouche Garcia Lopes, irmã gêmea de Shanna e ex-mulher do empresário Bernardo Bello, também alvo da investigação e ex-presidente da escola de samba Unidos de Vila Isabel. Ao todo, foram 22 alvos da ação, em endereços ligados a 11 suspeitos investigados no inquérito da DH Capital (Delegacia de Homicídios da Capital), feita em conjunto com o Ministério Público e a Polícia Militar.

As gêmeas Shanna e Tamara cortaram relações em meio a desavenças relacionadas à gestão do patrimônio deixado por Maninho. Shanna já foi a encarregada de administrar os bens da família. Mas chegou a ser acusada pelos próprios irmãos, que alegaram que ela estava se desfazendo de propriedades sem autorização judicial. Tamara também exerceu a função. Mas a Justiça acatou um pedido feito por Shanna —ela alegou que o processo de partilha de bens estava mais lento do que o previsto. Com isso, um advogado acabou sendo designado para a função.

Na luxuosa casa de Bello, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, havia academia, campo de futebol, sauna e mais de 20 cômodos. O advogado do ex-marido de Tamara, que acompanhou a ação, disse aos agentes que Bello havia viajado a São Paulo. A polícia irá investigar se houve vazamento de informações sobre a operação.

A DH não revela a identidade dos alvos, mas confirma que todos estão sendo investigados pelo crime.

Os nomes não serão revelados. Todos os alvos dos mandados estão sendo investigados diretamente pela tentativa de homicídio contra a Shanna. Desde a morte do Maninho, há um histórico longo de assassinatos em decorrência da disputa dentro da organização criminosa pelo espólio da família

Daniel Rosa, delegado da DH responsável pela investigação

Dois ex-policiais foram presos

Entre os alvos da operação policial, havia dois ex-PMs, dois PMs reformados, dois ex-policiais civis e um fiscal da Fazenda. Dois ex-policiais foram presos em flagrante por posse ilegal de arma. Na casa de Roberto Cunha de Araújo, expulso da Polícia Civil, os agentes apreenderam uma pistola 45 sem registro. O ex-PM Glaucio George dos Santos Silva tinha uma pistola 9 milímetros com numeração raspada e munição de fuzil na sua residência.

Outro alvo da ação, o ex-policial civil Nestor Maganinho, expulso da corporação por extorsão e corrupção, era ligado ao contraventor Castor de Andrade. Na década de 1990, a polícia chegou a apreender um arsenal de armas e munições na sua casa, supostamente ligada ao bicheiro.

Em um dos imóveis, uma casa de três andares com elevador privativo, os policiais encontraram mais de dez armas com registro de colecionador.

O UOL não localizou os advogados dos suspeitos para que eles se manifestassem.

Polícia investiga ligação de mortes com disputa por herança

Os agentes apreenderam celulares, computadores, dinheiro em espécie e documentos. "É um núcleo familiar que foi alvo de vários assassinatos. Com a apreensão do material, vamos ver se é possível identificar outros crimes", disse o promotor Bruno Gangone.

Além do patrimônio milionário, também está em jogo o controle dos pontos de jogos de contravenção, que pode estar por trás de uma série de assassinatos de membros da família.

Mortes em série na família

O mais recente dos assassinatos foi o de Alcebíades Paes Garcia, o Bid, irmão de Maninho, morto a tiros na madrugada de 25 de fevereiro deste ano após descer de uma van na porta de um condomínio na Barra da Tijuca. A vítima voltava do sambódromo, onde tinha assistido ao desfile de escolas de samba do Carnaval do Rio.

O bicheiro Maninho foi morto a tiros de fuzil em setembro de 2004 na saída de uma academia, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio. Em janeiro de 2009, Rogério Mesquita, homem de confiança do contraventor, foi assassinado por homens que estavam em uma moto em plena luz do dia, em Ipanema, zona sul da capital fluminense.

Em setembro de 2011, José Luiz Barros Lopes, o Zé Personal, marido de Shanna, foi morto a tiros enquanto conversava com um pai de santo na Praça Seca, na zona oeste. Um outro homem também foi executado na ação. Irmão de Shanna e Tamara, Waldomiro Paes Garcia Júnior, o Mirinho, foi sequestrado e assassinado em abril de 2017.