Novo vídeo mostra PM de folga arrastando médica agredida no Rio
Resumo da notícia
- Ticyana Azambuja desmaiou após ser contida por um mata-leão
- PM também terá que mostrar se renda é compatível para ter um Mini Cooper
- Defesa diz que todas as documentações foram encaminhadas à Polícia Civil
- Sargento também irá responder por infração sanitária em meio à pandemia
Um novo vídeo obtido pelo UOL mostra o policial militar Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro arrastando a médica Ticyana Azambuja pelo braço no meio da rua, na tarde de 30 de maio no Grajaú, zona norte do Rio, após a vítima desmaiar ao ser contida por um mata-leão, golpe de imobilização aplicado pelo comerciante Rafael Presta.
O PM, que estava de folga, é o dono de um carro importado estacionado irregularmente em frente a uma festa clandestina, que teve o retrovisor e o vidro traseiro depredados pela médica. Agora, a Polícia Civil passa a investigar a participação dele no espancamento. Ticyana sofreu duas fraturas no joelho esquerdo e teve lesões nas mãos. Outras imagens já mostravam que Luiz Eduardo havia presenciado, mas não impedido as agressões.
Afastado das suas funções no Batalhão de Choque, o sargento, que recebeu salário líquido de R$ 5.700 em maio, também precisará comprovar se a sua renda é compatível com o valor de mercado de seu Mini Cooper Paceman de 2014, avaliada em R$ 100 mil.
Câmeras de segurança e vídeos gravados por moradores registraram o espancamento, que começou em frente ao Hospital Italiano, quando Ticyana foi alcançada pelos agressores. Vídeo publicado pelo UOL mostrou que ela desmaiou ao ser agredida por um mata-leão aplicado por Rafael Presta, o anfitrião da festa clandestina.
As novas imagens mostram um outro momento das agressões. Agora, com a presença do PM Luiz Eduardo, que também participava da festa clandestina em meio à pandemia. Às 17h05, ele puxa Ticyana pelo braço —a vítima aparentava ainda estar desacordada— no meio da rua. O sargento tenta levantá-la, mas a médica cai no chão. Nesse momento, Rafael se aproxima e a puxa pelo tronco, com violência.
A obrigação dele, como policial, é proteger pessoas. Se a pessoa está desacordada [como ocorreu com Ticyana no momento da ação], um agente da lei precisa checar os sinais vitais e chamar uma ambulância. E não puxá-la pelo braço
Paulo Storani, antropólogo e capitão veterano do Bope, a tropa de elite da PM-RJ
As agressões a Ticyana também foram registradas em outros vídeos. Enquanto era carregada por Rafael Presta, ela também foi agredida a tapas, puxões de cabelo e até com o cabo de um martelo, usado anteriormente pela médica para depredar o veículo. Em seguida, foi jogada no chão por Rafael. Na queda, fraturou dois ossos do joelho esquerdo.
A Polícia Civil abriu inquérito pelo crime de lesão corporal grave, com pena de até cinco anos de prisão.
Fotos registram as agressões sofridas pela médica Ticyana Azambuja
PM terá que mostrar se renda é compatível com Mini Cooper
Procurado, o advogado Roger Couto Doyle Ferreira, que representa o policial militar, disse que já se manifestou sobre o vídeo no inquérito. Ele afirmou ainda ter encaminhado a documentação de renda e bens do PM ontem (15) para a 20ª DP (Vila Isabel), que investiga o caso. O material será analisado pelos investigadores.
Ele rebate a informação de que Luiz Eduardo seja proprietário de um petshop na Tijuca, também na zona norte da capital fluminense. "A esposa dele que é dona do petshop. O carro sempre esteve declarado no Imposto de Renda", disse. O advogado também contesta o valor de mercado do veículo, estimado com base em cotações em sites de compra e venda na internet. Segundo o defensor, o carro custa R$ 50 mil.
O PM ainda vai responder pelo artigo 268 do Código Penal por infração de medida sanitária preventiva em meio à pandemia, com pena de até um ano de detenção —ele estava sem máscara de proteção no local.
O sargento também será investigado pelo crime de lesão corporal. Mesmo que não tenha agredido a vítima, o PM poderá responder pelos mesmos crimes cometidos pelos agressores, caso fique constatada a omissão.
'Nem se meta nisso', diz agressor sobre valor do carro
Em entrevista ao UOL, o defensor público Marco Antônio Guimarães Cardoso, que levou um soco no rosto quando disse que chamaria a polícia, informou ter tido uma rápida conversa com Luiz Eduardo após as agressões.
"Ele se aproxima depois de eu ter levado um soco. Aparentemente, chegou até mais calmo, como se fosse explicar alguma coisa. Mas quando eu digo que estou chamando a polícia, ele fala, berrando: 'Eu sou polícia! O que você acha que eu estou fazendo?'", lembra.
Um vídeo obtido pela reportagem registra a conversa entre Marco Antônio e um dos agressores de Ticyana.
"O carro do cara vale duzentos e tal mil [na verdade, o carro custa cerca de R$ 100 mil] e a mulher pegar de martelo", disse o homem de bermuda e camisa amarela.
"Policial com carro de duzentos e tal mil?", questionou Marco Antônio.
"Nem se meta nisso que eu falei, mermão", respondeu.
Preocupação com o carro
A servidora pública Bruna Werneck, que socorreu Ticyana após as agressões, também relatou ter tido uma conversa com o PM em meio à confusão. "Ele ficava falando do prejuízo financeiro dele. Aí, eu disse: 'Mas olha o que fizeram com ela'", lembra.
Em outro momento, Bruna disse ter falado ao PM sobre as festas clandestinas em meio à pandemia. "Ele disse que não tinha nada com aquilo. Eu perguntei: 'Como não, se você estava na festa?'".
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