Sargento preso atendeu ligação da avó de Guilherme: 'devolve o meu neto'
Resumo da notícia
- Acusado pela polícia de envolvimento na morte de Guilherme, o sargento Adriano atendeu uma ligação da avó do garoto
- "Devolve o meu neto", disse Vera Guedes. O policial não respondeu e depois bloqueou o número
- Família afirma que PMs rondam o local e informam à OAB, que pede providências
- Advogado alega que PM Adriano é inocente
O sargento da PM Adriano Fernandes de Campos, 41, que está preso sob suspeita de ter participado do sequestro, tortura e morte do adolescente negro Guilherme Silva Guedes, 15 anos, atendeu um telefonema da avó paterna do jovem, Vera Guedes. "Devolve o meu neto", disse ela. A resposta do policial foi o silêncio.
A informação de que a família de Guilherme tinha convicção do envolvimento de policiais com o sequestro do garoto era conhecida, mas os detalhes de como ela colaborou com informações que ajudaram a desvendar o caso surgiram aos poucos.
A família, com ajuda de vizinhos, obteve a filmagem que mostra o sargento Adriano, armado e à paisana, na travessa da Vila Clara, ao lado da casa em que Guilherme vivia com a avó, local de onde ele foi levado pelo policial. Eles identificaram que o homem que aparecia na imagem era segurança de um terreno na rua de trás da casa do adolescente.
A família, então, conforme o pedido de prisão feito pelo Ministério Público de São Paulo, foi até o terreno perguntar por Adriano e recebeu a informação de que ele havia desaparecido. O responsável pelo local deu o telefone do policial, que fazia bico de segurança, para a família. A avó de Guilherme foi a primeira a ligar para ele.
"Ela falou para ele: 'devolve o meu neto'. Ele não disse nada e desligou. Aí começaram a mandar mensagens, ele não respondeu mais e bloqueou contato. Aí a tia começou a ligar e ele também bloqueou contato", confirmou ao UOL Fabio Pinheiro Lopes, delegado diretor do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa). Em seguida, o sargento bloqueou o contato de Vera e de outros familiares do jovem que mandaram mensagens para ele.
Família não consegue dormir, diz a OAB
A Comissão de Direitos Humanos da OAB confirmou hoje, em visita à casa em que Guilherme vivia com a avó, que a família não consegue mais dormir devido a uma série de atos intimidatórios praticados por PMs e guardas municipais na região desde o sequestro e assassinato do jovem na madrugada de domingo (14).
"A PM, que nunca foi muito assídua na região, agora ronda direto a casa deles. A Guarda Civil Metropolitana também. São motos da Rocam passando durante toda a madrugada, viaturas do BAEP (Adriano é integrante desse batalhão em São Bernardo do Campo), que de repente param em frente à casa", disse o advogado Arnóbio Rocha, integrante da comissão.
Ontem, foi realizada na travessa em que Guilherme foi sequestrado uma homenagem à vítima. Na ocasião, policiais militares abordaram a mãe de Guilherme, Joyce, e outros familiares.
Carro e motos da PM estiveram no local enquanto OAB estava com a família
Hoje, enquanto a OAB atendia a família, o advogado testemunhou a chegada de uma viatura do BAEP na rua, que parou um carro de luxo em que estavam três jovens negros e fizeram uma revista minuciosa.
"Minutos depois, quando deixávamos o local, seis motos da Rocam, em duas equipes de três, passaram na rua onde fica o terreno em que o PM Adriano fazia bico de segurança e depois subiram até a rua de Guilherme, onde abordaram uma motocicleta perto da casa da família", contou o advogado.
Durante a reunião com a família, Rocha telefonou para o secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública, coronel Álvaro Batista Camilo, e pediu moderação à PM, uma vez que a família está traumatizada. "Devido ao envolvimento de um policial no caso, a família tem medo de represálias", disse o advogado.
Segundo Rocha, Camilo disse que pediria ao comando da PM para não fazer rondas ostensivamente, "respeitando a privacidade da família".
Família traumatizada
Na última terça-feira (16), a reportagem do UOL testemunhou como a família está traumatizada. Uma bomba explodiu no muro que separa a casa do córrego do Cardoso. O barulho e o cheiro de pólvora amedrontaram as moradoras e outros parentes de Guilherme que estavam ali naquele momento.
Em seguida, um carro da PM parou em frente à casa, com as luzes ligadas, e os policiais olhavam para dentro do imóvel. "Eles vão entrar e nos levar", disse uma tia de Guilherme, desesperada.
'Preferia meu neto vivo'
Vera Guedes, a avó paterna de Guilherme, disse a Rocha que foi procurada por um advogado que propôs processar o Estado. "Ela me contou que recusou a proposta e me disse que preferia o neto vivo e que não queria o dinheiro, pois acaba sendo um dinheiro maldito, por ser indiretamente oriundo de um crime".
A Comissão de Direitos Humanos da OAB também questionou o coronel Camilo sobre o fato de que oficiais da corregedoria da PM foram à casa e fizeram diligências acompanhados de familiares da vítima, que ainda não constituiu advogado, sem acompanhamento de um profissional da área.
"Soubemos que a família era ouvida sem a presença de advogados e pedimos a um membro da comissão para atendê-los", disse Rocha. A comissão não pode advogar para a família, mas contata os órgãos de investigação e exige a preservação dos direitos humanos dos familiares das vítimas e a correta aplicação da lei.
'Sargento é inocente', diz advogado de Adriano
Segundo o advogado Renato Soares, que defende o PM, "o sargento Adriano é inocente". De acordo com a defesa do policial, o advogado ainda não teve acesso ao conteúdo das investigações. "Assim que tivermos conteúdo sobre as apurações nós manifestaremos", disse.
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