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Família procura corpo de homem vítima da covid e crê em enterro errado

Alfredo Freitas de Moura está com o corpo desaparecido no RJ; família crê em enterro por engano - Arquivo pessoal
Alfredo Freitas de Moura está com o corpo desaparecido no RJ; família crê em enterro por engano Imagem: Arquivo pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

14/07/2020 10h20Atualizada em 14/07/2020 14h19

A família de um homem que morreu por coronavírus na sexta-feira (10) no Instituto Nacional de Cardiologia, em Laranjeiras, na zona sul do Rio, está em busca do corpo dele, acredita que houve um erro de identificação, crê que outra família enterrou o corpo por engano e acionou a Justiça para conseguir a exumação do corpo que seria o dele e já foi enterrado.

Alfredo Freitas de Moura, 58, morreu no dia 10 e até hoje os filhos não conseguiram realizar o enterro. Segundo a família, o corpo que foi apresentado pelo hospital como sendo do Alfredo não é dele. Felipe de Moura, filho de Alfredo, acredita que o pai foi enterrado no lugar de outra pessoa e tenta na Justiça a exumação. No entanto, as decisões foram desfavoráveis à solicitação sob a justificativa de risco de infecção por covid-19.

Ele alega que outra família tem um parente internado no mesmo hospital e teria reconhecido o corpo de Alfredo. Porém, este parente segue internado no hospital, segundo a família de Afonso.

"Chegamos no hospital para fazer o reconhecimento e o médico veio com uma foto que não era do meu pai. Depois, mostraram a foto dele. Quis reconhecer o corpo pessoalmente e na hora que abriram o saco não era o meu pai que estava lá. Ele foi enterrado por outra família, sendo que o pai dessa outra família está no hospital", explica Felipe.

Para ele, o erro foi do hospital que trocou a identificação dos corpos. "Foi falha do hospital. A outra família só reconheceu o corpo por foto e se a foto estava no corpo do meu pai, a falha é do hospital", afirmou Felipe.

Era para ser um momento de luto da família, nossas vidas pararam tentando resolver isso. Tenho o direito de enterrar meu pai
Felipe de Moura, que busca o corpo do pai

O filho teme ainda a demora pela decisão de exumação. "Meu pai está enterrado há cinco dias já. Em que estado o corpo dele vai estar para fazer esse reconhecimento? E o meu psicológico como fica?" questiona.

A família teve dois pedidos de exumação recusados pela Justiça. De acordo com o processo, a exumação foi negada sob alegação que os elementos apresentados na ação não são suficientes para liberar o procedimento. A decisão é do desembargador, Antonio Carlos Paes.

"Quanto ao pedido de liminar, tem-se a inexistência de elementos satisfatórios nestes autos capazes de demonstrar que a maneira pela qual pretende exumar o cadáver não colocará em risco a saúde dos familiares que pretendem reconhecer o corpo e das demais pessoas necessárias na exumação do cadáver", explica o desembargador.

Na decisão, Paes também afirma não haver provas da alegação de enterro por engano. "Além disso, (...) não há prova suficiente de que realmente houve equívoco na identificação dos corpos, troca das fotos e até mesmo dos cadáveres (...) A exumação e remoção dos restos mortais pode gerar risco de contaminação dos familiares e de contactantes", avalia.

Felipe explicou que o Instituto de Cardiologia está prestando apoio à família e se comprometeu a fornecer os equipamentos de segurança para realização da exumação. Procurado, o instituto afirmou através de nota que "está dando suporte às famílias para que tudo seja resolvido o mais breve possível".

De acordo ainda com o filho, Alfredo contraiu a doença dentro do hospital, pois chegou a ser testado para covid-19 no momento da internação e o resultado foi negativo. Porém, outro exame realizado dias depois deu teste positivo para a doença.

O paciente deu entrada no Instituto de Cardiologia, após passar mal no dia 25 de abril. Alfredo foi atendido primeiramente na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Ricardo de Albuquerque, na zona norte, e no dia seguinte foi internado no Instituto de Cardiologia para realizar uma cirurgia no coração - a colocação de quatro pontes de safena.

Segundo a família, a intervenção ocorreu sem problemas e a recuperação do paciente ocorria sem imprevistos até ele começar a apresentar falta de ar.

No dia 2 deste mês, Alfredo precisou ser intubado e morreu no dia 10, após ter teste positivo para covid-19. "Estamos vivendo um filme de terror, além da perda, a gente lida com a dor de não poder enterrá-lo. Nem bicho se trata assim", lamenta Felipe.

Questionado sobre a denúncia de Felipe que o pai teria contraído coronavírus no hospital, o Instituto Nacional de Cardiologia não respondeu à reportagem do UOL.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do publicado no título e na matéria, a vítima não era idosa. A informação foi corrigida.