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Morto com covid, técnico de enfermagem de 22 anos definiu arranjo de caixão

Klediston Kelps é o mais jovem profissional de saúde a morrer de covid-19 em Mato Grosso - Arquivo pessoal
Klediston Kelps é o mais jovem profissional de saúde a morrer de covid-19 em Mato Grosso Imagem: Arquivo pessoal

Bruna Barbosa Pereira

Colaboração para o UOL, em Cuiabá

29/07/2020 11h16Atualizada em 29/07/2020 19h52

Momentos antes de ser intubado, o técnico em enfermagem Klediston Kelps, 22, despediu-se da família em mensagens de WhatsApp, explicou a decoração que queria em sua cremação e parecia pressentir o pior. Ele morreu no sábado (25), após ficar um mês internado com covid-19.

Klediston tornou-se a mais jovem vítima da doença entre os profissionais da categoria em Mato Grosso, de acordo com o Coren-MT (Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso).

Klediston e o caixão - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Klediston mandou mensagem para mãe explicando como gostaria que caixão fosse decorado
Imagem: Arquivo pessoal

Em conversas com a mãe, Elisangela da Silva Faria, o jovem afirmava sentir que era "um adeus". Ele explicou também como gostaria que fosse a sua despedida. "Quero rosas brancas enfeitando meu caixão", disse e, em seguida, especificou outro pedido. "Apenas uma (rosa) vermelha".

Por causa da pandemia, o velório não pôde ser realizado, mas Elisangela montou o arranjo que o filho pediu e levou até o cemitério onde ele foi enterrado.

O jovem atuava na linha de frente dos atendimentos da doença, em Primavera do Leste (MT). De acordo com a mãe, a suspeita é de que ele tenha se contaminado no trabalho, já que atendia pacientes em um posto de saúde e fazia plantões na UPA do município.

Além da frase de despedida, Klediston ainda enviou as senhas dos seus cartões. Elisangela da Silva Faria, mãe do técnico em enfermagem, disse que ele teve o pulmão atingido pelo novo coronavírus, além de problemas no baço e no fígado.

Em áudios, o jovem de 22 anos revelou ter medo de ser intubado e "não voltar". Elisangela explicou ao UOL que o filho chegou a fazer dois testes rápidos da covid-19, que deram negativo. A doença foi comprovada através de uma tomografia e do RT-PCR. Ele chegou a apresentar melhora no quadro da doença, mas precisou ser intubado na semana passada.

Antes dele morrer, lembro que ajoelhei e pedi para Deus me levar, mas não levar ele. Sentia que ele ia morrer. A mãe sente a dor da morte quando o filho está morrendo. Ele aguentou até o último momento
Elisangela da Silva Faria, mãe de Klediston

O técnico em enfermagem dizia que a mãe foi sua inspiração para escolher a profissão. Elisangela é técnica em enfermagem do Samu.

Motivo de orgulho para a família, Klediston estava terminando a graduação em enfermagem.

"Ele já estava terminando o curso de enfermagem, fazia planos, queria fazer um doutorado. Ele amava essa profissão, era o sonho da vida dele. Sempre contava sobre o trabalho, dizia que não aguentava ver a equipe desfalcada sem ajudar", explicou Elisangela.

A mãe ainda desabafa que foi a "gripezinha", termo citado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no início da pandemia, que levou o filho. Ela conta que, desde a morte de Klediston, não consegue se alimentar, dormir e está afastada do trabalho para se recuperar.

"Fazia plantão em UTI também, mas pedi para não ir mais, não consigo mais ver tanto sofrimento. Desde o começo sempre fui contra as medidas que o governo tem tomado com relação à pandemia. Sempre fiz oposição a esse genocida que é o Bolsonaro. Essa doença tem levado crianças, jovens e idosos", desabafou.

Em nota de pesar, o Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso (Coren-MT) prestou condolências à família, amigos e colegas de trabalho pela morte de uma vida "tão jovem". No estado, 22 técnicos e enfermeiros estão entre as vítimas fatais da doença. Além disso, 734 casos de profissionais contaminados pelo novo coronavírus já foram notificados.