Topo

Flordelis foi 'mãe', 'sogra' e esposa de Anderson; entenda relações do clã

Anderson do Carmo e Flordelis - Reprodução/Facebook
Anderson do Carmo e Flordelis Imagem: Reprodução/Facebook

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

26/08/2020 18h54Atualizada em 27/08/2020 12h32

Denunciada como mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, a deputada federal e cantora gospel Flordelis (PSD-RJ) chegou a ser mãe de criação e "sogra" dele antes de se casarem. As relações familiares do clã, que reunia 55 filhos (51 deles adotivos), foram investigadas e, segundo a Polícia Civil do Rio, estão por trás do assassinato.

Nos anos 90, quando adolescente, Anderson começou a frequentar a casa onde Flordelis morava na favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio. À época, ele conviveu com os três filhos biológicos do primeiro casamento dela e outras quatro crianças adotadas —segundo a polícia, de forma ilegal (sem autorização da Justiça). A partir desse convívio, Anderson logo passou à condição de filho de criação de Flordelis e, mais tarde, assumiu a posição de genro da futura parlamentar.

Isso porque Anderson namorou Simone dos Santos Rodrigues —filha biológica do primeiro casamento de Flordelis, que também foi presa na segunda-feira (24) acusada de envolvimento na morte do pastor.

Posteriormente, Flordelis e Anderson engataram um relacionamento e, em seguida, um casamento que durou até o assassinato dele no ano passado. O pastor era uma espécie de gerente da família —além do dinheiro, administrava as relações do clã. Ao lado de Flordelis, Anderson se tornou pastor.

O casal dizia ter 55 filhos —três do primeiro casamento de Flordelis; outro, fruto da segunda união, e mais 51 adotivos.

Ao todo, foram detidos na segunda-feira passada cinco filhos e uma neta de Flordelis. A deputada não pôde ser presa porque tem imunidade parlamentar. Dois outros filhos já se encontravam detidos.

Anderson do Carmos e Flordelis - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Anderson do Carmos e Flordelis
Imagem: Reprodução/Facebook

Família dividida: grupo de filhos tinha regalias

Sob os holofotes, Flordelis e Anderson cultivavam a imagem de um casal cristão e caridoso. No entanto, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio revelaram controvérsias entre o discurso e a vida da numerosa família.

Segundo o delegado Allan Duarte, as investigações mostraram que os filhos eram tratados de formas diferentes. Os privilegiados eram chamados de "primeira geração" —neste grupo, estavam incluídos os filhos biológicos e mais quatro filhos adotivos que contavam com regalias na casa.

"No cômodo que ela dormia, havia uma despensa e uma geladeira própria com produtos absolutamente diferentes com que havia no restante da casa. Ela privilegiava uns [filhos] em detrimentos de outros, e o pastor atuava como fiel da balança para restabelecer o equilíbrio entre todos. Isso também gerava a ira da deputada", afirmou o investigador.

Para a Polícia Civil e o MP, o assassinato do pastor ocorreu em decorrência da insatisfação de Flordelis com a forma como Anderson levava a vida e geria os recursos da família obtidos com a carreira artística dela, o cargo de deputada federal e os recursos oriundos da administração de igrejas.

Ao longo das investigações, a gente observa que a vítima era gestor da família, o cabeça da família. Ele [Anderson] geria a carreira política, religiosa e artística da deputada. Todo lucro que essa família auferia, seja em shows, cultos, era ele que fazia a gestão, era a pessoa que também solucionava conflitos intrafamiliares

Allan Duarte, delegado

"Essa gestão financeira e essa forma rigorosa de solucionar os conflitos, gerou revolta na primeira geração da família, que foi presa. Arquitetaram esse plano tendo em vista essa indignação com a gestão financeira", explicou o delegado.

Flordelis adotou 37 crianças de uma só vez, após uma chacina na Central do Brasil, no Rio - Celia Viana / Câmara - Celia Viana / Câmara
Flordelis na Câmara dos Deputados em Brasília
Imagem: Celia Viana / Câmara

Casa de Swing

As investigações apuram ainda onde a deputada e o pastor estiveram na noite do crime. Segundo reportagem do jornal O Globo, a polícia já identificou que o casal não esteve no bairro de Copacabana, como alegado pela deputada, e sim no bairro vizinho, em Botafogo, na zona sul da cidade.

Segundo as investigações, o último ponto que o carro do casal foi visto foi a 500 m de uma casa de swing.

Depoimento dado à polícia em setembro, e revelado pelo jornal, diz que o pastor e a deputada já tinham sido vistos em uma casa de swing na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, onde ocorria troca de casais.

A testemunha relatou que soube do caso após levar a supervisora a um culto no Ministério Flordelis, em 2007, e a amiga ficou surpresa ao reconhecer o casal. De acordo com ela, a pastora usava um número de identificação no lugar do nome.

Ainda segundo frequentadora, Flordelis tinha um quarto exclusivo no local e que a filha dela Simone e o marido, que era diácono na época, também frequentavam a casa. Flordelis e o pastor estiveram um fim de semana anterior ao culto, no local, de acordo com o relato.

A amiga chegou a confrontar Anderson e Simone sobre a história. Anderson negou que estivesse na Barra da Tijuca na data. Já Simone confirmou que estiveram no bairro e também a roupa que Flordelis usava na ocasião.

A deputada negou frequentar casas de swing.

O que dizem Flordelis e outros acusados

Desde o início das investigações, a deputada nega participação no assassinato de Anderson. Na segunda, dia em que a denúncia foi apresenta e os filhos de Flordelis, presos, a defesa da deputada se disse "surpresa" com a operação.

"Preciso ainda apurar o que consideraram como provas e o que permitiu o indiciamento e as prisões. Preciso ainda ter acesso a essas informações, mas digo que ficamos surpresos com essa ação hoje", afirmou o advogado Anderson Rollemberg, por meio de nota.

O advogado Maurício Mayr enfatizou que a parlamentar fora ouvida pela polícia na condição de testemunha e disse acreditar na inocência dela.

"A deputada desde o início desse segundo inquérito foi tratada como testemunha, vindo a ser indiciada agora no final e denunciada. Tivemos acesso hoje [segunda-feira] ao processo, vamos fazer análise e estudo do caso. Ela figurava como testemunha na ocasião e não atrapalhou as investigações. Todos foram encontrados, as pessoas que tiveram a prisão em seu desfavor."

O defensor disse ainda que "a juíza da Vara acertadamente falou da desnecessidade de prisão preventiva da deputada, apesar de ter a imunidade parlamentar, ela entendeu ser desnecessário prendê-la neste momento até por causa do lapso temporal que se passou desde o fato até o presente momento".

O advogado dos cinco filhos e da neta da parlamentar presos, Luiz Felipe Alves, disse que o processo está em segredo de Justiça, o que implicou na demora da leitura dos autos.

Segundo ele, já é possível afirmar que os argumentos da decisão são genéricos "sem qualquer individualização quanto à real e efetiva necessidade de prisão cautelar para cada um dos acusados".

Em nota, a defesa enfatizou que os filhos e a neta da parlamentar são "pessoas íntegras, primárias, detentoras de ótimos antecedentes, com residência fixa e trabalho lícito".