Plano de Flordelis era envenenar marido gradualmente até a morte, diz MP
Resumo da notícia
- Pastor foi internado seis vezes por envenenamento antes de morrer, diz MP
- Ação contou com a participação de quatro filhos do casal, aponta investigação
- Flordelis foi denunciada pelo MP como mandante do assassinato
O plano para matar o pastor Anderson do Carmo, marido da deputada federal Flordelis (PSD-RJ), era envenená-lo gradualmente até a morte, segundo afirmou o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) em denúncia apresentada à Justiça. Ele foi internado ao menos seis vezes entre maio de 2018 e junho de 2019 depois de ingerir veneno colocado na sua comida, aponta a investigação.
Anderson foi morto a tiros dentro de casa na madrugada de 16 de junho de 2019 em Niterói, região metropolitana do Rio. Denunciada hoje de manhã pelo MP como mandante do assassinato do próprio marido, Flordelis só não foi presa porque tem imunidade parlamentar. Cinco filhos e uma neta da parlamentar foram presos preventivamente por envolvimento no crime. Outros dois filhos —um biológico e outro adotivo— já se encontravam detidos após assassinato.
O UOL teve acesso à denúncia do MP-RJ, que detalha o plano de envenenamento articulado para matar Anderson. De acordo com o documento, Anderson ingeriu alimentos envenenados que provocaram intoxicações. Na investigação, foram anexados pareceres médicos de internações no Hospital Niterói D'Or.
"O crime de homicídio não se consumou por circunstâncias alheias à vontade dos agentes, eis que a vítima contou com eficiente socorro médico-hospitalar (...), impedindo o resultado morte", diz um dos trechos da denúncia do MP-RJ.
De acordo com a denúncia, Flordelis arquitetou o crime, que contou com a participação de outros quatro comparsas. Entre eles, Marzi Teixeira da Silva e Simone dos Santos Rodrigues, presas preventivamente hoje. Marzi é uma das filhas adotivas da parlamentar. Simone é filha biológica de Flordelis.
Segundo as investigações, elas ministravam o veneno nas comidas e bebidas da vítima. As acusadas também auxiliaram na escolha e aquisição da substância tóxica com base em pesquisas na internet sobre tipos de venenos letais e possíveis de adquirir "com o objetivo de envenenar a vítima gradualmente e produzir a sua morte".
A ação ainda contou com a participação de outros dois filhos adotivos do casal, também presos preventivamente hoje. André Luiz de Oliveira foi flagrado em conversas com Flordelis combinando o envenenamento, de acordo com as investigações. Segundo a denúncia, ele convenceu Anderson a ingerir alimentos e bebidas com veneno. Já o pastor Carlos Ubiraci Francisco da Silva ficou encarregado de se certificar de que os alimentos só seriam consumidos pela vítima.
Segundo a investigação, Anderson ingeriu doses consideradas letais de veneno. Ele chegou a ficar internado ao menos uma vez. O último envenenamento ocorreu dias antes do seu assassinato.
Os boletins de atendimento médico foram submetidos a perícias feitas por legistas da Polícia Civil e do MP-RJ, que constataram o envenenamento.
"Há uma absoluta certeza de que ele foi envenenado em doses letais. E só não veio a óbito porque recebeu atendimento médico", disse o delegado Allan Duarte, responsável pela investigação.
Pela participação no envenenamento, Flordelis foi denunciada por tentativa de homicídio. Mas ela também irá responder por homicídio triplamente qualificado, já que foi acusada pelo MP-RJ de ter sido a mandante do assassinato.
O delegado disse ainda que Flordelis chegou a contratar um matador de aluguel, que simularia uma tentativa de assalto para cometer o crime. Segundo ele, o crime só não foi cometido na ocasião porque ocorreu uma troca de veículos, o que confundiu o matador de aluguel.
"Foi quando ele [Anderson] foi efetuar a compra de um veículo na Barra da Tijuca acompanhado de outros filhos. Ela, juntamente com outras pessoas, arquitetou, planejou e deliberadamente falou para que o executor o matasse simulando latrocínio, se cercando para que demais pessoas não fossem atingidas", disse o delegado.
R$ 2.000 por carta falsa
A investigação ainda apontou a participação dela em outros três crimes: associação criminosa, falsidade ideológica e uso de documento falso. De acordo com a denúncia, a parlamentar prestou informações falsas sobre a autoria do crime. Em setembro de 2019, ela entregou à polícia uma carta escrita a mão por Lucas Cezar dos Santos de Souza, um dos seus filhos adotivos, que já estava preso.
Apontado como o responsável por arranjar a arma de calibre 9 mm usada no crime, Lucas redigiu um texto dentro do presídio, assumindo a autoria do crime. Na carta, ele ainda apontou falsos mandantes, para despistar as investigações. De acordo com a denúncia, ele foi coagido a redigir o texto a mando de Flordelis.
Ela teria pago R$ 2.000 para que Andrea Santos Maia, também presa hoje, entregasse a carta ao seu marido, Marcos Siqueira Costa, que se encontrava detido. Ele, então, fez com que o conteúdo chegasse às mãos de Lucas e de Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis também preso, acusado de ser o autor dos disparos que mataram Anderson. Segundo a investigação, Flávio e Marcos coagiram Lucas para que ele redigisse o texto e assumisse a autoria do crime.
PSD: medidas para suspensão de filiação
Em nota, Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, disse que o partido adotará as medidas para a suspensão imediata da filiação por causa do indiciamento da parlamentar.
"O PSD esclarece que desde o início acompanhou o caso da deputada Flordelis e sempre defendeu o andamento e aprofundamentos das investigações."
O que diz Flordelis e outros acusados
Desde o início das investigações, a deputada nega participação no assassinato de Anderson. Hoje a defesa dela se disse "surpresa" com a operação.
"Preciso ainda apurar o que consideraram como provas e o que permitiu o indiciamento e as prisões. Preciso ainda ter acesso a essas informações, mas digo que ficamos surpresos com essa ação hoje", afirmou o advogado Anderson Rollemberg, por meio de nota.
O advogado dos cinco filhos e da neta da parlamentar presos hoje, Luiz Felipe Alves, disse que o processo está em segredo de Justiça, o que implicou na demora da leitura dos autos. Segundo ele, já é possível afirmar que os argumentos da decisão são genéricos "sem qualquer individualização quanto a real e efetiva necessidade de prisão cautelar para cada um dos acusados".
Em nota, a defesa enfatizou que os filhos e a neta da parlamentar são "pessoas íntegras, primárias, detentoras de ótimos antecedentes, com residência fixa e trabalho lícito". "Ademais, ressalta-se que permaneceram em liberdade durante toda a tramitação do inquérito policial que perdurou cerca de um ano e dois meses, inclusive colaborando com a investigação, não sendo demonstrado, de forma concreta, a efetiva necessidade de agora se verem presos preventivamente".
A nota termina dizendo que a defesa aguardará o amplo acesso a todo conteúdo do inquérito policial junto à Justiça "para tomar as medidas jurídicas cabíveis na busca da revogação da desnecessária prisão preventiva decretada em desfavor dos mesmos". A defesa do ex-PM Marcos Siqueira Costa e da sua mulher não foi localizada.
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