Topo

Morto no Rio, Rei da Umbanda foi recordista em cartas na Rádio Globo

Jair de Ogum, o Rei da Umbanda - Reprodução
Jair de Ogum, o Rei da Umbanda Imagem: Reprodução

Ellen Alves

Colaboração para o UOL, do Rio

02/09/2020 04h00

Conhecido como Rei da Umbanda no Brasil, o babalorixá Jair de Ogum morreu na manhã desta segunda-feira, 31, de insuficiência pulmonar, aos 76 anos. Apontado como um dos grandes difusores das religiões de matriz africana, o pai de santo atendia famosos e atuou por anos como colunista em jornais e programas de rádio.

Para o cantor Elymar Santos, o líder religioso deixa a generosidade como seu principal legado.

O maior legado é o que ele representa para a religião. Assim como Joãozinho da Gomeia, ele elevou a religião a outro patamar. Sempre foi muito generoso com seus filhos de santo, com as pessoas
Elymar Santos, cantor

O músico compara Jair de Ogum ao outro pai de santo, que foi apelidado de Rei do Candomblé após receber um convite da rainha da Inglaterra. Para Elymar, o pai de santo foi crucial no início de sua carreira. Os dois eram amigos há mais de 40 anos.

"O Jair esteve na minha vida desde sempre. Fui calouro do Programa do Chacrinha. Na primeira semana que fui participar, não tinha como ir, pois não tinha figurino. Ele me vestiu dos pés à cabeça para eu poder cantar. Ele foi um dos meus principais incentivadores"

Babalorixá de diversas personalidades, de políticos e artistas a jogadores de futebol, Jair de Ogum fazia questão de se lembrar das pessoas que passavam por sua vida. Não raro, agradecia a Silvinho Cabeleireiro, responsável pelo cabelo das estrelas nos anos 1970, por apresentar diversos famosos, como o ator Jece Valadão, a atriz Vera Gimenez e a modelo e apresentadora Elke Maravilha.

Para as religiões de matriz africana, ser babalorixá é um título atribuído a quem tem conhecimento e autoridade legítima para a condução das cerimônias sagradas.

Popularidade no rádio e nos jornais

Além do respeito entre seus seguidores, ele tentou popularizar a umbanda em suas participações em programas de rádio de grande audiência e em sua atuação como colunista de diversos jornais.

As portas dos meios de comunicação se abriram graças ao seu bom trânsito entre famosos e personalidades. Popular entre o público, ele chegou a ser recordista de cartas na Rádio Globo em 1995. O respeito por seu trabalho rendeu ao líder religioso menções honrosas entre políticos. Recebeu, por exemplo, as medalhas Tiradentes e Pedro Ernesto por sua obra em Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio.

"Meu pai foi um grande guerreiro na luta pela nossa religião, um dos maiores exemplos de dignidade e fé. Tenho muito orgulho pelo grande homem que foi. Honraremos sua memória por gratidão a tudo que representa e fez pela umbanda e pelo candomblé", afirmou a assessora administrativa Vanessa Fernandes, em declaração ao jornal Extra.

Ele atendeu cerca de 40 mil pessoas, segundo instituição

Nascido na cidade de Itabuna, na Bahia, Jaime Faislon Filho se mudou para o Rio nos anos de 1950. Em 1961, foi iniciado na Nação Ketu, sendo filho de Ogum Oares e Oxum Apará, aos 17 anos.

Em 1978, ele fundou em Itaguaí (RJ) o templo e Associação Beneficente Ilê da Oxum Apará, instituição espírita de caridade e utilidade pública. Segundo a organização do espaço religioso, ele atendeu cerca de 40 mil pessoas em sessões de cura espiritual ao longo de 40 anos.

O corpo de Jair de Ogum foi seputado no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, Rio de Janeiro, na terça-feira (1º).