Médico fica 23 dias na UTI com covid e faz rifa após dívida de R$ 180 mil
Para conseguir pagar uma dívida de cerca de R$ 180 mil com um hospital particular de Cuiabá (MT), onde ficou internado para tratar um quadro grave da covid-19, o médico Gildo Dimas Faria, de 50 anos, decidiu rifar um Iphone 10. Ele precisou ser internado às pressas após procurar uma unidade de saúde pública e constatar que já estava com cerca de 80% do pulmão comprometido pelo vírus.
Ele lembra que, quando procurou a Policlínica do Verdão, em Cuiabá, sentia muita dor de cabeça, falta de ar e cansaço. No local, descobriu que sua saturação de oxigênio do corpo estava em 74%. Faria decidiu ligar para amigos que trabalham no hospital particular onde ficou internado para pedir ajuda.
"Lá na policlínica mesmo já liguei para uns amigos e fui fazer a tomografia. Chegando lá [ao hospital particular], constaram que o comprometimento dos pulmões era de 75% a 80%. Nem me deixaram ir embora, já me internaram na hora. O pulmão esquerdo foi o mais afetado", conta.
Faria ficou 23 dias internado na UTI, com diária de R$ 8.000, e 12 dias em um leito de enfermaria. O médico ainda precisou passar por um procedimento cirúrgico, já que, por conta do longo período de internação em que ficava deitado a maior parte do tempo, adquiriu problemas para evacuar.
Ele acredita que pode ter sido contaminado pelo novo coronavírus durante plantões no Hospital Regional de Rondonópolis (MT), já que precisava lidar diariamente com pacientes com covid-19.
"Acho que peguei no trabalho mesmo, atendia pessoas com a doença, tinha que intubar pacientes, então o contato era muito próximo. Lá tínhamos os EPIs, mas, apesar disso, aconteceu. É uma doença muito nova", disse.
Também durante a internação, ele descobriu que estava com diabetes. Diagnóstico que foi recebido com surpresa, já que o médico afirma sempre ter tido uma boa saúde. De acordo com Faria, a doença pode ter desregulado seu metabolismo.
Tratamento em casa
Faria recebeu alta há 15 dias, mas ainda precisa utilizar o oxigênio e fazer fisioterapia, além do acompanhamento com om pneumologista. Por conta da gravidade com que a doença se manifestou, o médico chegou a emagrecer 25 kg e precisou reaprender atividades básicas, como ir ao banheiro sozinho e andar.
De acordo com ele, o tratamento ainda deve durar cerca de 90 dias. O médico afirmou que nunca imaginou passar por uma situação como essa, já que não tinha problemas de saúde. Apesar da pressão da esposa, nunca pensou em contratar um plano de saúde.
"Fiquei sem condições financeiras, mas é aquele ditado: 'casa de ferreiro, espeto é de pau'. Minha mulher sempre falava para eu fazer um plano de saúde e eu achava que não tinha necessidade, que não aconteceria nada. Mas é assim mesmo, só acreditamos que é possível quando adoecemos."
Faria tem dois filhos, uma menina de um ano e um menino de cinco anos. A mais nova chegou a ter febre, mas não apresentou outros sintomas graves, assim como a mulher dele, de 34 anos, que relatou ter tido apenas dores de cabeça.
Apesar da situação difícil, o médico pondera que agora não é o momento de se preocupar com dinheiro, e sim com a saúde.
"Tenho recebido bastante ajuda de amigos. Colegas da faculdade que se formaram comigo e eu não via há anos entraram em contato para contribuir. Conversei bastante com eles, me acalmei", disse.
O aparelho de celular será sorteado no dia 13 de dezembro e as rifas são vendidas por R$ 20. Para conseguir pagar a dívida, Faria espera conseguir vender ao menos 4 mil números.
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