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Baile funk é encerrado com tiro e paulada em SP; moradores veem ação do PCC

Paulo Eduardo Dias

Colaboração para o UOL, de São Paulo

10/09/2020 04h00

Um tradicional baile funk que ocorria na rua Rolando Curti, na Vila Clara, zona Sul de São Paulo, foi encerrado no último final de semana ao som de tiros, golpes de madeira e veículos depredados. A ação seria uma resposta de traficantes da região, que haviam proibido o pancadão, segundo moradores.

A reportagem do UOL teve acesso a vídeos que mostram o baile cheio de jovens, a grande maioria sem máscaras de proteção. Outro trecho mostra o final do pancadão, com veículos com os vidros quebrados, homens e mulheres com grandes pedaços de madeira agredindo algumas pessoas e sons de tiros.

Segundo moradores, a dispersão ocorreu entre a noite de sexta (4), e a madrugada de sábado (5). Ainda de acordo com pessoas ouvidas pelo UOL, as agressões ocorreram após jovens do baile desobedecerem a ordem de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) para que a reunião não ocorresse.

Como aglomerações podem chamar a atenção da polícia, o que ameaça o tráfico de drogas, traficantes da região proibiram o evento. Um grupo de jovens, não entanto, desobedeceu a orientação, o que teria motivado a reação violenta.

Os criminosos entraram em cena após muitos vizinhos se queixarem aos órgãos públicos da aglomeração em tempos de pandemia. Um deles, sob condição de anonimato, contou que a Prefeitura havia sido procurada "para reclamar sobre o barulho, a sujeira, e as brigas que estavam acontecendo por causa do pancadão".

"Você tá ligado. Se for a polícia a parar o baile, a molecada vai para cima, vai jogar pedra, garrafa. E, mesmo assim, cinco minutos após a polícia ir embora, a molecada volta a fazer o baile. Quando é o partido [como também é chamada a facção], a molecada não volta, não. Os caras embaçam mesmo. Teve cara que apanhou. Tem cara com a cabeça enfaixada na Vila Clara", disse o morador.

Outro morador, que também preferiu não se identificar com medo de represálias, contou como tudo se deu. "Foram uns caras e umas mulheres do PCC, que vieram para acabar com o pancadão. Deram tiro para cima, bateram no pessoal com pedaço de pau e começaram a quebrar os vidros dos carros que estavam lá", afirmou.

A reportagem não conseguiu confirmar se ação foi uma atitude isolada de traficantes locais ou se foi realmente orquestrada pela facção criminosa, como afirmou quem mora no bairro. Procurada, a Prefeitura informou que a questão deve ser resolvida com a Polícia Militar.

Como fica em frente à AMA (Assistência Médica Ambulatorial) Vila Clara, o baile atrapalha o funcionamento da unidade de saúde e, por se concentrar no ponto final de uma importante linha de transporte público, interfere no trajeto dos ônibus.

Um policial civil do 35° DP (Jabaquara), responsável pela região, afirmou não ter conhecimento se foi registrada alguma ocorrência. Procuradas pela reportagem, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) e a Polícia Militar não responderam os questionamentos enviados até a publicação do texto. Se enviados, eles serão incluídos nesta reportagem.