Ex-secretário suspeito de matar pré-candidato em MG se entrega, diz polícia
O ex-secretário do município de Patrocínio (MG) Jorge Marra (PTB), suspeito de matar a tiros na última quinta-feira (24) o pré-candidato a vereador Cássio Remis (PSDB), entregou-se na tarde de hoje à Polícia Civil de Minas Gerais.
Jorge Marra, que é irmão do prefeito de Patrocínio, Deiró Marra (DEM), apresentou-se acompanhado por advogados e foi ouvido por três horas e meia pelos delegados que comandam a investigação.
De acordo com a Polícia Civil, os advogados dele comunicaram informalmente na sexta-feira (25) que Jorge Marra iria se entregar espontaneamente após ter a prisão preventiva decretada pela Justiça um dia após o crime.
"Estávamos na tratativa desde sexta-feira com os familiares e advogados para que fosse feita essa apresentação espontânea a fim de que os policiais não precisassem ir atrás dele. Chegamos a um acordo com algumas regras, que por motivo de segurança, são mantidas em sigilo", comentou o delegado Valter André.
O carro do suspeito e a arma possivelmente utilizados no crime foram encontrados na sexta na garagem da casa de um político em Perdizes, a 64 km de Patrocínio. O veículo passa por perícia.
A Polícia Civil ainda busca saber se Jorge Marra teve ajuda de outras pessoas para fugir. O suspeito optou por ficar em silêncio quando questionado o motivo de não ter se entregado em flagrante e se teve auxílio de terceiros.
Todas as pessoas serão ouvidas e, ao final verificada a participação do homicídio e à fuga", comentou o delegado Valter André.
A princípio, a investigação trabalha com as hipóteses de indiciamento pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo, homicídio com a qualificação de motivo fútil e impossibilidade de defesa à vítima, e roubo, pois a confusão começou após Jorge Marra subtrair o celular do pré-candidato a vereador durante uma live com críticas a uma obra da prefeitura.
Suspeito alega legítima defesa
De acordo com a Polícia Civil, Jorge Marra alegou legítima defesa em depoimento. O ex-gestor revelou que atirou contra Cássio Remis após ser agredido fisicamente pela vítima no pátio da Secretaria de Obras, pasta que ocupava até então.
O suspeito ainda comentou que a ação não foi premeditada. Ele passava pela rua ao ver o pré-candidato fazendo a live. Após parar o carro e tomar o celular da vítima, ele teria tentado ir para casa, mas o político o perseguiu.
"Ele disse que estava passando pelo local e não que alguém ligou para ele. E que lá, a vítima teria apontado o dedo em direção a ele e se sentiu ofendido. O suspeito pediu para ser levado para casa para evitar problemas, mas devido à perseguição da vítima, foi para a Secretaria de obras, onde ele se sentiria seguro", relatou o delegado Renato Mendonça, que também cuida do caso.
A vítima chegou à Secretaria de Obras logo após o suspeito. Ela teria reivindicado o celular e em determinado momento, ambos entram em uma caminhonete, conforme mostram câmeras do circuito interno do órgão público.
A reportagem do UOL teve acesso às imagens, em que é possível ver uma confusão, até que o suspeito saca a arma e sai correndo atrás da vítima atirando.
"A vítima entrou no banco do passageiro. Segundo o relato do autor, ele sofreu agressões dentro da caminhonete e disse que não viu alternativa. Pegou a arma de fogo e disparou, com receio de que pudesse sofrer agressão da vitima que é maior e mais forte que ele", narrou o delegado Mendonça.
"Quem se defende não se arrepende", diz advogado
A defesa de Jorge Marra informou que o suspeito está muito abalado, mas não demonstra arrependimento por ter se defendido das supostas agressões sofridas da vítima.
"Ele agiu exclusivamente com o intuito de se defender de uma agressão injusta que sofria naquele momento, de forma física e verbal, de um homem mais jovem, de grande porte e transtornado. Arrependido, ele está da atitude de tomar o celular. Em relação ao fato principal, não tinha outra alternativa. Ou se defendia ou era agredida. Quem se defende não se arrepende, mas sofre pelo resultado. Nem sempre podemos analisar o vídeo sem o áudio", comentou ao UOL, o advogado Sérgio Leonardo.
A intenção da defesa é apresentar um pedido de habeas corpus à Justiça para conseguir a liberdade de Jorge Marra. Para a defesa, a apresentação à polícia torna sem efeito o mandado de prisão.
"A prisão foi decretada em virtude da fuga. Com a apresentação espontânea, este argumento se esvaiu. Vamos apresentar um pedido para que responda o inquérito em liberdade, pois é um cidadão com ocupação, família constituída, residência fixa, além de possuir 60 anos e sofrer de diabetes, hipertensão e por ainda cuidar de um câncer recente", avaliou.
Assassinato após live
Durante a tarde de 24 de setembro, enquanto fazia uma live denunciando uma obra realizada pela prefeitura de Patrocínio, Cássio Remis foi interrompido pelo secretário de obras, Jorge Marra, que chegou em uma caminhonete branca e tomou o celular do político.
"Tá aqui o secretário. Chegaram aqui para me agredir, entendeu? Não pega meu telefone!", falou o pré-candidato, antes de ter o celular tomado.
Em outro vídeo, é possível ver o secretário saindo com o veículo e Remis na frente do carro tentando impedir que o celular fosse levado. Depois disso, o político tentou entrar na secretaria de obras para recuperar o aparelho, momento no qual foi baleado.
O prefeito Deiró Marra se pronunciou no dia do crime. "Nós lamentamos tudo que aconteceu, essa sequência de fatos — absolutamente, eu diria, injustificáveis — que culminaram com a morte do vereador Cássio Remis", declarou Deiró.
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