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Não tinha colchão, diz jovem que ficou preso por engano por 55 dias

Danillo Félix Vicente de Oliveira ficou preso por 55 dias após ter sido identificado por engano - Arquivo Pessoal/Danillo Oliveira
Danillo Félix Vicente de Oliveira ficou preso por 55 dias após ter sido identificado por engano Imagem: Arquivo Pessoal/Danillo Oliveira

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

30/09/2020 09h39

O auxiliar administrativo Danilo Felix de Oliveira, 25, encerrou um pesadelo ao deixar a cadeia ontem. Ele ficou preso por quase dois meses após ter sido identificado por engano como autor de um roubo. Danilo foi absolvido ontem e deixou o Presídio Evaristo de Moraes.

Ele afirmou que enfrentou os dias mais difíceis da vida. Em entrevista ao jornal O Globo, o auxiliar administrativo recordou que o período mais difícil foi no Presídio Tiago Teles, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, um dos três presídios por onde passou nos 55 dias em que ficou preso. Lá, ele teve febre e dor de garganta por cinco dias, chegando a cogitar ter sido contaminado por covid-19.

"Foi o pior lugar por onde eu passei. Não tinha coberta e nem colchão. Fiquei cinco dias com febre. Fiquei com medo de ter sido contaminado pela covid, mas graças a Deus fiquei bem depois. Também fazia muito calor durante o dia. Já durante a noite, era frio. Aqui no Evaristo de Moraes [presídio localizado na zona norte do Rio], fiquei até bem mesmo com muita gente na cela", disse. Ele explicou que dividiu cela com mais de 100 pessoas no último local onde esteve preso.

Durante os 55 dias que ficou preso, Danilo ainda passou pelo presídio José Frederico Marques, em Benfica (zona norte da capital) e pela carceragem da 76ª DP em Niterói. O auxiliar administrativo precisou cortar as tranças que usava havia mais de um ano assim que entrou no sistema carcerário, em Benfica.

Na saída do presídio, o jovem foi recebido com um beijo pela mulher, Ana Beatriz Sobral, 21, e pelo irmão Diogo Felix, de acordo com o jornal O Globo. Antes de voltar para casa, ele afirmou estar ansioso para o reencontro com o filho de um ano. "Tudo o que eu quero é abraçar meu filho, ir com ele para quadra, correr com menino e botar ele para chutar bola comigo", afirmou.

Oliveira é negro e foi condenado após ser reconhecido como autor de um roubo ocorrido em Niterói no mês de julho. A única prova no processo era o reconhecimento da vítima que ocorreu por fotos extraídas das redes sociais dele. As imagens eram de 2017 quando tinha características diferentes das atuais.

À polícia, a vítima descreveu o assaltante como um jovem pardo, com cabelo baixo. Na época do assalto, Oliveira usava tranças no cabelo, além de ser negro. As diferenças nas características do assaltante e do auxiliar administrativo foram destacadas pela defesa do jovem.

Foto usada em outras ocorrências

A fotografia retirada das redes sociais do auxiliar administrativo foi usada também pela Polícia Civil em outros dois inquéritos da delegacia de Niterói. As imagens também foram exibidas às vítimas de outros dois assaltos também ocorridos em julho deste ano. As vítimas também reconheceram Danilo como autor do crime. Um deles, ocorreu no mesmo dia do assalto pelo qual foi preso. O último roubo ocorreu em 14 de julho.

A advogada de defesa de Danilo, Cristiane Lemos, lamentou o método usado para definir a prisão do auxiliar administrativo. "As vítimas fizeram o reconhecimento desta foto, de 2017, na qual ocorre o mesmo erro do processo que a gente teve audiência e que designou a absolvição do Danilo. Os outros processos também versam sobre isso, sobre esse reconhecimento, sobre essa foto. Óbvio que tudo preocupa, mas a gente tem muita certeza da inocência do Danilo", disse.