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Pastor é absolvido de acusação de abuso e move processo contra a ex-mulher

O pastor Felipe Garcia Heiderich - Reprodução/Facebook/Felipe Heiderich
O pastor Felipe Garcia Heiderich Imagem: Reprodução/Facebook/Felipe Heiderich

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

30/09/2020 13h42

O pastor Felipe Garcia Heiderich foi absolvido por falta de provas em segunda instância da acusação de abuso sexual contra o enteado em 2016, quando a criança tinha cinco anos de idade. O menino é filho de Bianca Toledo, pastora e ex-mulher de Heiderich.

Após ser absolvido da acusação, o pastor move uma queixa-crime na Justiça contra a ex-mulher. Ela é acusada de calúnia, difamação, injúria, denunciação caluniosa, sequestro e cárcere privado. Ele acredita ter sido vítima de uma trama para incriminá-lo.

Heiderich foi preso há quatro anos, após a pastora acusá-lo de ter cometido abuso sexual contra o filho, fruto de um casamento anterior. O pastor chegou a ser detido durante cinco dias no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro, e foi solto em seguida para aguardar em liberdade.

Ontem, ele venceu mais uma vez o processo na Justiça. A decisão a favor de Heiderich foi unânime e os recursos da acusação foram negados pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. O Ministério Público do Rio também foi a favor da absolvição devido a ausência de provas.

O advogado do pastor, Leandro Meiuser, disse que não vê possibilidade de a acusação recorrer ao Superior Tribunal de Justiça.

"Considero como praticamente nula a chance de reversão neste caso. Foi uma decisão unânime. Não há provas que indiquem o crime. A defesa pode até recorrer ao tribunal superior, mas nem vejo essa possibilidade. Não há mais o que se discutir", disse o advogado ao UOL.

No decorrer no processo, o MP chegou a pedir que Bianca Toledo fosse investigada por tentativa de coação das vítimas. No entanto, a apuração do crime não foi adiante.

Heiderich disse que se sente aliviado com a decisão da Justiça. "É um sonho isso acabar. O que eu mais ouvia de pessoas que me amavam era que a minha vida tinha acabado. Eu ouvia que, por mais que eu provasse a minha inocência, ninguém nunca ia acreditar, pois o massacre foi tão grande, foi milimetricamente armado que acabou com tudo", afirmou.

"Eu fui jogado em um hospício, fui para a cadeia, fui preso sem laudo, sem nada. Eu não pude voltar na minha casa para pegar nada. Fui jogado no meio de todo mundo. Foi um estrago absurdo. Não só físico, mas também emocional". Também hoje, Heiderich publicou um vídeo comemorando a absolvição.

Sequelas da acusação

Após as denúncias, o pastor Felipe Heiderich chegou a ficar preso cinco dias em Gericinó. Ele deixou a prisão no dia 10 de julho de 2016 e foi autorizado a responder o processo em liberdade. Desde a repercussão do fato, o pastor passou a conviver com ameaças de morte.

Em entrevista ao UOL na manhã de hoje, o pastor contou que desde que saiu da prisão, precisou viver de doações de amigos. Os bens — dois carros, dois apartamentos, joias, obras de artes e ações — foram vendidos pela ex-mulher. O prejuízo é estimado em milhões de reais.

Bianca ainda mora no apartamento que dividia com Heiderich. Uma ação do Juizado da Família decidiu pela divisão dos bens, mas segundo o pastor, Bianca Toledo alega não dispor mais dos recursos.

Além de perder todo o patrimônio, o pastor revelou ainda que chegou a perder 25 kg e a sofrer com atrofia muscular na face. Hoje, já recuperado, ele convive ainda com transtorno de estresse pós-traumático e reveza atendimentos entre psicólogos e fisioterapeutas.

Ex-mulher é acusada por seis crimes

Heiderich move na Justiça uma queixa-crime contra Bianca Toledo pelos crimes de sequestro, cárcere privado, injúria, difamação, calúnia e denunciação caluniosa. Ele conta que, antes da denúncia, foi dopado e internado à força em um hospital psiquiátrico com a falsa comunicação de tentativa de suicídio.

"Me doparam e me levaram para o hospício. Depois minha família me resgatou, mas já tinham feito a denúncia e já tinham solicitado a minha prisão", relatou.

O advogado do pastor, Leandro Meiuser, disse à reportagem que também vai mover uma ação na Justiça contra Toledo. A pastora alegou que o ex-marido era pedófilo.

"A Bianca chegou a dizer que eu sou envolvido em crime de pedofilia. Eu tenho um filho de três anos. Também estou preparando uma ação contra ela", disse o pastor. Meiuser vai acusá-la de difamação e calúnia.

Pastora desmente Heiderich

Em entrevista ao UOL, a pastora Bianca Toledo disse que Heiderich não foi declarado inocente no processo e reforçou que ele só foi absolvido por insuficiência de provas.

"A Justiça negou o recurso, onde ele solicitava que fosse reconhecido como inocente. A Justiça não concedeu isso a ele. Foi dado a ele o in dubio pro réu. Preferiram absolvê-lo por insuficiência de provas. Foi isso que ocorreu".

Bianca Toledo afirmou ainda que a história do pastor é fantasiosa e diz que prepara uma ação na Justiça contra ele por denunciação caluniosa.

"Não existe processo dele contra mim. Até hoje não recebi nada da Justiça. A verdade é que meus funcionários o encontraram em casa, até uma carta ele escreveu antes de ser internado. Os bombeiros foram acionados, existem laudos apontando isso. A mãe dele foi avisada sobre o caso".

Toledo negou ainda que tenha se desfeito do patrimônio. Segundo ela, Heiderich chegou a pedir na Justiça 13 bens, mas na verdade ele só teria direito a um deles — o apartamento onde o ex-casal morou no Recreio.

"Foi imóvel financiado em 60 meses, onde ele morou comigo e, mesmo assim, ele só teria direito a uma parte pequena dele. Os bens eram meus, tive herança de família e ele não tem direito. Ele inclusive se beneficia de doações contando essa história de que ficou sem nada".

Toledo diz que não formou patrimônio com o pastor.

Relembre o caso

O então senador e pastor Magno Malta (PR-ES) afirmou em plenário, no dia 6 de julho de 2016, que o pastor Felipe Garcia Heiderich foi preso após abusar do próprio enteado de cinco anos. Em seu pronunciamento, o político classificou Felipe como "falso pastor" e que foi pressionado por lideranças religiosas a denunciar o caso.

Felipe e Bianca eram líderes do Ministério AME (Aliança Mundial de Evangelização e Ensino), com sede no Rio de Janeiro.

O senador declarou ainda que o Heiderich tentou se matar após saber que a esposa estava ciente dos fatos e que havia tentado suicídio.

O pastor foi absolvido em primeira instância em abril do ano passado. A acusação recorreu da decisão. Ontem, ele foi novamente absolvido.