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Obstinado e aventureiro: quem era o alpinista que morreu atingido por pedra

O alpinista Lucas de Zorzi começou ainda adolescente a praticar esportes radicais - Arquivo Pessoal
O alpinista Lucas de Zorzi começou ainda adolescente a praticar esportes radicais Imagem: Arquivo Pessoal

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

13/10/2020 18h16

O alpinista Lucas de Zorzi, morto no último domingo (11) após ser atingido por uma pedra durante um rapel, começou nos esportes radicais cedo. Com apenas 15 anos, ele iniciava a escalada em rocha e três anos depois já se equilibrava na prancha de snowboard. Aos 31 anos iniciou no paraquedismo e nunca mais parou.

A paixão pelos esportes radicais o levou a diferentes lugares do mundo — e com temperaturas extremas, como o Monte Cho Oyu no Himalaya, a sexta maior montanha do mundo com 8,2 mil metros. Na lista das escaladas também estão o Monte Aconcágua, maior montanha das Américas com 6.945 metros, e o Monte McKinley no Alaska, maior montanha da América do Norte.

Por onde passava fazia amizade. O piloto de linhas aéreas Kennio Domingues, 41 anos, conheceu De Zorzi no paraquedismo, há seis anos. Em 2015, bateram o recorde no wingsuit (traje planador) por formação, ao agrupar 13 pessoas nos ares de Boituva, no interior de São Paulo.

"Ele era um amigo muito leal, um cara brincalhão. Tentava pacificar as relações dos amigos. Era um cara muito comprometido com objetivos e sonhos, muito disciplinado, um sonhador", enumera Kennio. "O Lucas era mais que amigo, era um atleta parceiro do esporte que eu considerava como irmão. A sensação é como se perdesse um familiar", complementa o amigo.

Domingues estava na região serrana do Rio de Janeiro quando recebeu um telefonema da esposa de Lucas, que o avisou do acidente. No caminho para Lages (SC), onde a família dele mora, acabou encontrado outros colegas dos esportes radicais que iam fazer as últimas homenagens.

"Dá uma maneirada", recomendou primo

Lucas de Zorzi e amigos bateram o recorde no wingsuit (traje planador) por formação em Boituva, no interior de São Paulo, em 2015  - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Lucas de Zorzi e amigos bateram o recorde no wingsuit (traje planador) por formação em Boituva, no interior de São Paulo, em 2015
Imagem: Arquivo Pessoal

De Zorzi era empresário do setor metalúrgico. Há cerca de três meses, ele foi até Cambará do Sul (RS) foi fazer uma visita técnica e acabou pousando na casa do primo Cassiano De Zorzi, 45 anos, que trabalha no setor madeireiro. Ali, acabou levando um puxão de orelha.

"A morte estava sempre do lado dele. Óbvio, ele sabia dos riscos. Quando ele veio na minha casa, eu e minha esposa conversamos com ele. A gente pediu: 'dá uma maneirada, daqui a pouco acontece tragédia e vai deixar esposa e filho pequeno'. Ele só dava risada. Mas a situação em que ele morreu não teve nada a ver com imprudência, foi uma fatalidade", conta o primo.

Os dois nasceram em Caxias do Sul, na serra gaúcha. Mas, com cinco anos, a família de Lucas se mudou para Bom Jesus (RS) e aos 12 anos foram para Lages, onde residem até hoje. Mesmo distantes, os dois acabavam se encontrando em aniversários e festas de final de ano.

"O Lucas era um guri extremamente obstinado, ótimo profissional, extremamente inteligente, muito perfeccionista em tudo que fazia, sempre fazer as coisas de forma o mais perfeito possível. No próprio esporte era obstinado e perfeccionista. Nos negócios era bastante exigente."

Segundo o primo, na família Lucas era considerado um ídolo. "Ele fazia tudo aquilo que a gente queria, mas não tinha coragem."