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Gerador, SMS, dinheiro vivo: apagão no AP faz moradores voltarem no tempo

Helaine Cavalcante

Colaboração para o UOL, em Santo André (SP)

07/11/2020 04h00

Sem energia elétrica desde a noite da última terça-feira (3), moradores de 13 das 16 cidades do Amapá estão se adaptando ao cenário, o que, em alguns casos, significa utilizar costumes do passado.

No comércio, por exemplo, o problema fez que com os cartões dessem lugar ao dinheiro vivo, já que, sem energia, não estão conseguindo fazer com que as máquinas de pagamento funcionem.

"Os bancos estão fechados, poucos caixas eletrônicos funcionando", diz a servidora pública Juliana Coutinho, 41, moradora de Macapá, capital do estado. "As filas são enormes, uma verdadeira aglomeração para sacarmos dinheiro. Os postos de gasolina estão com filas gigantescas, rodando quarteirões."

Problemas em efeito cascata

A falta de energia foi causada por um incêndio em uma subestação localizada na capital. O problema de abastecimento compromete serviços essenciais, como distribuição de água e combustíveis, armazenamento de alimentos, operações bancárias, entre outros.

O básico já começa a ser racionado, como a água potável. "A água mineral está escassa. Ontem [quinta, 5], saí às 6h20 de casa. Fui direto para um supermercado grande que tem gerador. Consegui comprar garrafas de água de 1,5 litro para a minha casa e dos meus pais. Às 11h, só tinha garrafinhas. E fiquei sabendo agora que já estão limitando as compras, 3 garrafas por pessoa apenas", conta Juliana.

Sem energia, o medo também é de perder os alimentos que já estão nas residências. "Em casa, estou com a caixa d'água cheia e o tanque do carro cheio. A preocupação é com a comida que já está começando a estragar no freezer", diz o trabalhador autônomo Wilker Araújo, 41.

A empresária Arielle Uchôa, 31, convive com o apagão em sua residência em Macapá - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A empresária Arielle Uchôa, 31, convive com o apagão em sua residência em Macapá
Imagem: Arquivo Pessoal

"Não teremos nada em 15 dias"

A empresária Arielle Uchôa, 31, mora com a família em um prédio no centro de Macapá. Seu pai e seu marido arrumaram um gerador para ligar a bomba de água que abastece o prédio. Eles, porém, estão racionando o uso, já que a venda de combustível necessário para ele funcionar também foi limitada.

Hoje, o gerador parou de funcionar pela manhã. Minha irmã precisou ir de apartamento em apartamento pedir para usarem pouca água porque ela já estava perto do fim. Isso tudo já ocorreu em 3 dias. Em quinze, não teremos mais nada
Arielle Uchôa, empresária

A fala de Arielle é uma referência a um pronunciamento do secretário de energia elétrica do Ministério de Minas e Energia, Rodrigo Limp. Na última quinta-feira (05) ele disse que o fornecimento total da carga de energia elétrica no Amapá pode levar até 15 dias para ser restabelecido.

Ontem, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse que pretende restabelecer toda a energia no estado do Amapá em até dez dias. Ele ainda comentou que o plano inicial de restaurar a energia em 70% do Estado até ontem não deu certo porque a operação é "complexa".

Velhos hábitos

A falta de energia também afetou o serviço de internet no estado. Sem acesso à rede mundial de computadores, outros hábitos estão sendo retomados "A rede móvel está super instável. Vai e volta o tempo todo. Voltamos a usar SMS para nos comunicar porque a internet está bem difícil aqui", diz o jornalista Ewerton França, 34.

Com um familiar enfermo em casa, ele explica que contou com a solidariedade de vizinhos para dar um pouco de conforto ao avô, de 97 anos, que, após sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral), perdeu a visão e alguns movimentos do corpo. "Ontem à noite, um vizinho emprestou um pequeno gerador, e conseguiram ligar um ventilador paro meu avô conseguir dormir pelo menos".

O gerador também foi a alternativa encontrado por empresários tentarem retomar seus negócios. Edson Pinheiro, 40, adquiriu o equipamento para manter a produção em sua empresa de fundição de alumínio. "Tivemos que comprar um pequeno gerador para conseguir trabalhar a partir da semana que vem e só fomos conseguir adquirir em outro estado porque aqui no Amapá não tem mais pra vender".

O designer gráfico Paulo Tarso Jr, 36, também reclama que está sem trabalhar desde terça-feira por causa do problema de abastecimento de energia, que se soma a outras realidades do Amapá. "A situação aqui é lamentável. Estamos reféns de um estado que tem uma logística ruim, pois as coisas só podem chegar de avião ou de barco. De avião, o frete é caríssimo, e de barco demora dias para chegar."