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'Ele gosta de humilhar pessoas', diz atendente que acusa Wassef de racismo

A atendente de pizzaria Danielle contou que, em outubro, Wassef já teria se negado a ser atendido por ela no estabelecimento - Reprodução/TV Globo
A atendente de pizzaria Danielle contou que, em outubro, Wassef já teria se negado a ser atendido por ela no estabelecimento Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo*

16/11/2020 08h28

A atendente de pizzaria Danielle da Cruz de Oliveira, que acusa o advogado Frederick Wassef de racismo após ser chamada de "macaca" dentro do estabelecimento, disse em entrevista ontem que acredita que o homem gosta de humilhar as pessoas. Wassef, que já atuou para a família do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), nega as acusações e diz ser "vítima" de um plano que visa uma "futura ação indenizatória".

"Eu acho que ele [Wassef] gosta de humilhar as pessoas por ele ser, digamos assim, de "alto padrão [financeiro]", disse a atendente ao Fantástico, da TV Globo. À emissora, Danielle relembrou que, em outubro, Wassef já teria se negado a ser atendido por ela no estabelecimento, que fica localizado em Brasília (DF).

"Ele [Wassef] disse que não queria ser atendido por mim porque eu era negra e disse que eu tinha cara de sonsa e não saberia anotar o pedido dele."

Já em novembro, o advogado teria voltado ao restaurante e chamado Danielle de "macaca".

"Ele [Wassef] quis vir até onde eu estava, que era o balcão, onde eu só fecho as mesas e aí ele veio do meio da pizzaria até onde eu estava. Falou que a pizza estava uma bost*, perguntou se eu tinha comido a pizza, eu falei que não. Mas aí ele começou a falar 'ah, mas você é uma macaca. Você come o que derem para você comer'."

A atendente ainda contou que assim que o superior dela ficou sabendo do caso, ele ligou para um advogado e informou que a funcionária "tinha todo o apoio" para fazer um boletim de ocorrência contra o advogado porque "eles [restaurante] não aceitam que pessoas façam isso com outras pessoas".

O boletim de ocorrência lavrado por Danielle no início do mês contra o advogado foi registrado como injúria racial e três funcionários do estabelecimento são testemunhas do caso.

"Sim, eu sou negra. Com toda a certeza, eu sempre me reconheci como uma", disse Danielle contra as falas do advogado que a chama de 'branca'. "Eu acho que ele [Wassef] gosta de humilhar as pessoas por ele ser, digamos assim, de "alto padrão [financeiro]."

Wassef diz ser 'vítima'

Wassef afirmou ao programa que Danielle disse mentiras e que a atendente foi prepara para incriminá-lo. O advogado ainda comentou que é uma "vítima".

"Isso tudo que essa mocinha disse são mentiras. Essa menina foi treinada e preparada por advogado e terceiras pessoas que ficaram três dias preparando-a para um depoimento falso e criminoso. Essa moça não é negra, essa moça é branca. A vítima sou eu e não a mocinha", disse.

O Wassef foi à outra delegacia e fez um boletim de ocorrência por denunciação caluniosa, quando uma pessoa acusa outra injustamente, contra a atendente. No boletim, o advogado pediu que a polícia buscasse as imagens da câmera de segurança para analisar do caso, mas a rede de pizzaria informou que as câmeras da unidade "se encontram desligadas".

Na última semana Wassef também concedeu uma entrevista à coluna de Bela Megale, no jornal O Globo, no qual explica que não é racista porque até "já namorou uma negra".

"Já namorei uma negra, o meu avô, pai de meu pai, era mulato, meio mulato. Não sou racista. Inclusive, meu pai mesmo tem o cabelo bem pixaim, encaracolado. Estão mentindo e armando para destruir a minha imagem e minha reputação, me incriminar. Jamais na minha vida destratei qualquer pessoa, não sou nem fui racista, tenho grandes amigos irmãos negros", ponderou.

Procurado pelo UOL no dia 12, Wassef afirmou que não chamou ninguém de "macaca" e se disse "vítima de uma farsa e armação montada".

"Sou vítima de uma farsa e armação montada. Sou vítima de denunciação caluniosa que foi organizada sob orientação de terceiros visando futura ação indenizatória para ganhar dinheiro através desta fraude arquitetada. Não chamei ninguém de macaco. A funcionária não é negra e mentiu afirmando que eu a chamei de negra e por isto não queria ser atendido por ela."

Racismo x injúria racial

A Lei de Racismo, de 1989, engloba "os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". O crime ocorre quando há uma discriminação generalizada contra um coletivo de pessoas. Exemplo disso seria impedir um grupo de acessar um local em decorrência da sua raça, etnia ou religião.

O autor de crime de racismo pode ter uma punição de 1 a 5 anos de prisão. Trata-se de crime inafiançável e não prescreve. Ou seja: no caso de quem está sendo julgado, não é possível pagar fiança; para a vítima, não há prazo para denunciar.

Já a injúria racial consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem a fim de atacar a dignidade de alguém de forma individual. Um exemplo de injúria racial é xingar um negro de forma pejorativa utilizando uma palavra relacionada à raça. A pena prevista para injúria racial é o pagamento de multa ou de 1 a 3 anos de detenção.

*Com informações de Stella Borges para o UOL, em São Paulo