Polícia identifica ligação de PM em morte de bicheiro e apreende 4 fuzis
A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) identificou a participação de um policial militar da ativa e apreendeu quatro fuzis usados no assassinato do contraventor Fernando Iggnácio, genro de Castor de Andrade, atingido por ao menos cinco tiros de AK-47 na tarde de 10 de novembro no estacionamento de um heliporto no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio.
O PM conseguiu fugir e está foragido. Os agentes apreenderam dois fuzis modelo AK-47, um 7.62 e outro calibre 5.56 usados no homicídio. Outros três homens participaram da ação.
O confronto balístico feito por peritos no local do crime confirmou que os disparos que atingiram o contraventor foram feitos pelo fuzil AK-47. O armamento será apresentado hoje à tarde em uma coletiva aberta à imprensa na sede da DHC, na Barra da Tijuca.
Antes de ser morto, Fernando Iggnácio seguiu à risca um hábito adotado sempre que viajava de helicóptero com a esposa Carmem Lúcia de Andrade Iggnácio, filha de Castor de Andrade, morto em 1997.
Depois de voltar de Angra dos Reis (RJ), ele desembarcou sozinho, foi conduzido em um veículo elétrico até o estacionamento e deu os últimos passos até o seu carro após percorrer cerca de 100 m, onde foi baleado. Os atiradores estavam atrás de um muro, a menos de 5 m de distância da vítima.
Segundo fontes na Polícia Civil, o bicheiro costumava descer do helicóptero da família sozinho e voltar de carro até a área da aterrissagem para buscar a esposa e a bagagem. Ao ouvir os disparos, Carmem Lúcia deixou o local na aeronave.
Ao menos três veículos foram atingidos pelos tiros. Entre eles, o próprio carro da vítima, que teve com quatro perfurações na lataria. Os disparos danificaram até mesmo o vidro blindado, que ficou trincado.
Foram encontradas cápsulas calibre 7.62 de ao menos duas armas diferentes no local do crime. Os investigadores analisaram imagens captadas por 64 câmeras de vigilância do heliporto. Um homem portando fuzil que usava uma touca foi visto por uma testemunha.
Após abrir fogo, os criminosos percorreram uma área de mata de 15 mil m² e fugiram pelos fundos, usando uma escada para escalar um muro de 3 m.
Sob a condição de anonimato, uma testemunha ouvida pelo UOL disse ter escutado ao menos dez disparos. "Foi muito tiro. Mas não consegui ver quem atirou, porque há uma área de mata alta pelos fundos. Parece ter sido ação de quem observou a rotina por aqui", disse a testemunha.
Disputa por território do jogo do bicho deixa mais de 50 mortes
A disputa pelo controle da contravenção na zona oeste do Rio é a principal linha de investigação da morte de Iggnácio. Segundo investigações da Polícia Federal, mais de 50 assassinatos até 2007 são atribuídos à guerra da contravenção.
Em 1998, o assassinato de Paulo Andrade, o Paulinho, escolhido como herdeiro do jogo do bicho, fez com que Fernando Iggnácio, seu cunhado, assumisse o lugar dele na disputa.
Meses depois, a polícia identificou como autor dos disparos o ex-PM Jadir Simeone Duarte. Em depoimento, Duarte acusou Rogério de ser o mandante do crime. O próprio Rogério foi vítima de uma tentativa de assassinato.
O próprio Rogério foi vítima de uma tentativa de assassinato em 2001. Em abril daquele ano, o filho de Rogério de Andrade, com 17 anos na época, morreu em um atentado a bomba na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, quando o carro que dirigia explodiu.
Em 2007, Fernando Iggnácio foi preso pela Polícia Civil do Rio. Meses depois, Rogério Andrade foi pego pela Polícia Federal. Naquele mesmo ano, Rogério Andrade e Fernando Iggnácio foram alvo da operação Gladiador, da PF, que investigou o esquema da dupla e a corrupção de policiais no Rio.
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