Famílias chefiadas por negros gastam 47% menos do que por brancos
Famílias chefiadas por pessoas pretas ou pardas têm uma despesa total per capita 47% menor do que a de famílias que são chefiadas por pessoas brancas. Enquanto as famílias cujas pessoas de referência são brancas têm despesa total per capita de R$ 2.279,19, para as famílias chefiadas por pretos ou pardos esse valor é de R$ 1.207,11.
Os dados fazem parte de um relatório da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) 2017-2018, com foco no perfil das despesas no Brasil, divulgado hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O levantamento foi realizado entre julho de 2017 e julho de 2018 -antes, portanto, da pandemia do novo coronavírus.
O relatório do IBGE destaca ainda a disparidade existente entre os diferentes tipos de despesa para as famílias chefiadas por negros e brancos. Enquanto nos lares em que a pessoa de referência é preta ou parda as despesas per capita com habitação ficam em R$ 330,72, nas famílias chefiadas por brancos esse valor é de R$ 644,31.
Na assistência à saúde, famílias chefiadas por pretos ou pardos têm uma despesa per capita de R$ 94,99, enquanto nos lares chefiados por brancos esse gasto é de R$ 183,94. Já nos gastos de alimentação, a despesa per capita é de R$ 181,60 em casos de lares em que a pessoa de referência é preta ou parda. Nas famílias chefiadas por brancos, esse gasto é de R$ 269,44.
"As despesas, dentre outras coisas, são também um reflexo dos rendimentos. E as famílias chefiadas por pessoas pretas ou pardas têm rendimentos menores em comparação com as chefiadas por pessoas brancas", afirma Leonardo Oliveira, pesquisador do IBGE.
Famílias gastam mais com habitação, transporte e alimentação
O levantamento mostra ainda que, em geral, as famílias brasileiras dedicaram as maiores fatias de orçamento para gastos com habitação, transporte e alimentação.
Entre o período de 2017 e 2018, a despesa total per capita das famílias brasileiras foi de R$ 1.667,90. Desse total, 93,2% (R$ 1.370,53) são destinados a despesas de consumo, que envolvem gastos com moradia, alimentação, transporte, vestuário, educação e outros serviços.
As despesas com habitação são responsáveis pela maior parcela desses gastos (R$ 466,34). Em seguida, vêm as despesas com transporte (R$ 234,08) e alimentação (R$ 219,44).
Desigualdades regionais e raciais
A pesquisa do IBGE aponta que quase 65% dos brasileiros vivem em famílias em que nenhum dos membros possui plano de saúde, ou seja, que dependem exclusivamente do SUS (Sistema Único de Saúde) ou pagam direto pelo serviços de saúde, quando necessitam.
Entre as famílias em que todos possuem plano de saúde, de acordo com a pesquisa, 6,4% eram chefiadas por pessoas pretas ou pardas, enquanto 11,3% tinham uma pessoa branca como membro de referência.
Nas famílias em que ninguém tem convênio particular, 41,3% eram do grupo de pessoas de referência pretas ou pardas. Entre as famílias chefiadas por brancos, a taxa foi quase a metade: 22,4%.
Das pessoas que vivem em famílias em que todos têm plano de saúde, segundo a pesquisa, a maior parte (10,3%) está região Sudeste, enquanto a menor parte (0,6%) está na região Norte.
Ao mesmo tempo, a região Sudeste também tem a maior parte (23,5%) daqueles que residem em famílias em que ninguém possui plano de saúde. Já a região Centro-Oeste é onde reside a menor parte entre os que vivem em lares onde ninguém tem convênio.
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