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Idosa vai parar na UTI depois de falsa acusação de furto de chinelos no DF

Milta de Jesus Oliveira foi acusada, mas consulta a câmeras de vigilância negaram crime - Acervo pessoal
Milta de Jesus Oliveira foi acusada, mas consulta a câmeras de vigilância negaram crime Imagem: Acervo pessoal

Vinícius Rangel

Colaboração para o UOL, em Vitória (ES)

30/11/2020 17h31

Era para ser uma simples tarde de compras, mas que por pouco não acabou em fatalidade. Uma idosa de 74 anos, foi acusada injustamente de furtar um par de chinelos dentro de uma rede atacadista em Brasília. Milta de Jesus Oliveira passou mal e acabou indo parar na UTI de um hospital.

O caso aconteceu no final da tarde do último sábado, 28. Acompanhada das duas filhas e de dois netos, a idosa finalizava as compras no valor de R$ 600,00 quando foi abordada grosseiramente por uma atendente, que não a deixou sair do local antes da chegada da segurança. A colaboradora acusou a cliente de furto no próprio estabelecimento.

"A atendente não deixou a minha avó sair do caixa, (dizendo) 'a senhora roubou esses chinelos e tem que pagar, não vai pagar por eles não?'. E a minha avó disse que era a filha dela que tinha comprado em outra loja e dado de presente. Tinha nota fiscal. É muito desrespeitoso esse tipo de abordagem", contou Johnny Rodrigues, neto de Milta, ao UOL.

A idosa negou o crime, e a abordagem gerou revolta entre outros clientes. Após confirmar as imagens de segurança, viram que Milta não era a criminosa procurada. A funcionária pediu desculpas à idosa. A família foi até uma delegacia registrar um boletim de ocorrência. No local, a senhora começou a sentir dores no peito, fadiga e ânsia de vômito.

Imediatamente os familiares a levaram para a UPA de São Sebastião. No local, foi atestado a gravidade do caso de Milta. Ela estava prestar a ter um infarto e precisava urgentemente de uma vaga na UTI. Mesmo com o relatório médico em mãos, os parentes não estavam conseguindo um leito na capital.

"O médico disse que, se a gente tivesse demorado mais cinco minutos, a minha avó poderia não estar mais viva. Ela foi estabilizada, mas precisava da vaga de UTI. Fizemos uma campanha nas redes sociais e depois de muita luta conseguimos a vaga", explicou Johnny.

Hoje de madrugada, no dia em que completou 75 anos, a idosa foi transferida para a UTI do Hospital Universitário de Brasília. Durante o dia, passou por procedimentos e amanhã deve fazer um cateterismo. O quadro de saúde é estável, porém sem previsão de alta.

Funcionária é afastada; atacadista abre investigação interna

O departamento jurídico do Grupo Super Adega, a empresa atacadista envolvida no incidente, informou que resolveu afastar a funcionária do caixa assim que tomou ciência da situação. Uma investigação interna foi aberta para verificar o fato ocorrido no final de semana. Por meio de uma nota, a empresa disse que prestou toda a assistência à cliente e lamentou o caso.

"Sentimentos muito pelos fatos relatados e, desde já, pedimos desculpa pelo ocorrido. A nossa empresa preza pelo bom relacionamento e gentileza com nossos clientes, é um grupo sério e não compactua ou incentiva qualquer tipo de ação ou omissão que possa causar constrangimento ou gerar situação discriminatória, vexatória, de injúria ou racismo aos nossos clientes", diz o comunicado.

A nota dizia ainda que "o Grupo Super Adega repudia, veementemente, toda e qualquer atitude passível de provocar e/ou promover constrangimento e/ou discriminação".

"A empresa sente profundamente pela situação e informa que a senhora Milta e sua família possuem canal direto com os diretores do nosso Grupo, que estão à disposição para atender quaisquer demandas", acrescenta o texto.

Policia Civil vai ouvir envolvidos nessa semana

O episódio ocorrido na rede atacadista será investigado pela Polícia Civil. O delegado responsável pelo caso, Ulysses Luz, da 30° Departamento de Polícia, afirmou que essa semana vai começar a ouvir os envolvidos no caso.

"Os fatos já foram registrados, culminando na abertura de uma investigação, e está agendado a oitiva dos familiares que acompanhavam a senhora para amanha. Naturalmente, também serão ouvidos as pessoas do mercado", informou.

Questionado sobre qual crime a atendente poderia responder, ao final do inquérito policial, o delegado ressaltou que, no momento, ainda é cedo para dizer.

"A princípio, injúria, sem prejuízo. Com o desenrolar das investigações, podem surgir novos fatos que tipifiquem outros delitos. Mas é muito prematuro, por hora, fazer essa análise", explicou.