MT: homens são indiciados suspeitos de torturarem mecânico por dívida
A Polícia Civil de Mato Grosso concluiu inquérito policial que investigava o caso de tortura cometida por dois homens contra um mecânico do município de Tangará da Serra (MT), a 241 km de Cuiabá. Os investigados foram indiciados ontem pelos crimes de tortura continuada, roubo qualificado pelo concurso de pessoas e restrição de liberdade da vítima.
Segundo a polícia, os dois homens cometeram três sessões de tortura contra a vítima no mesmo dia. Uma das torturas foi filmada, e o vídeo foi divulgado na internet. O caso ocorreu no último dia 5. O inquérito foi concluído no prazo regulamentar de dez dias e já foi remetido ao Ministério Público Estadual, que analisará se oferecerá ou não a denúncia à Justiça.
Os homens estão presos preventivamente, desde o último dia 8, após cumprimento de mandado de prisão expedido pela 2ª Vara Criminal de Tangará da Serra. Os nomes da vítima e dos indiciados não foram divulgados.
Durante o cumprimento de mandado de prisão, a polícia localizou um dos investigados do crime em uma fazenda localizada a aproximadamente 35 km de Tangará da Serra. O segundo homem foi preso em um hotel localizado na avenida Miguel Sutil, em Cuiabá.
A polícia informou ainda que, na ação criminosa, os investigados também praticaram o crime de roubo qualificado, pois o mecânico foi obrigado a retirar o painel central de um carro de um cliente, que estava na oficina, para colocar a peça no veículo de um dos indiciados.
O delegado responsável pelas investigações, Adil Pinheiro de Paula, contou que durante as investigações foi identificada uma terceira pessoa que foi à oficina junto com os indiciados, "porém este terceiro não sabia do interesse dos suspeitos de agredir a vítima e chegou a intervir para que as agressões contra a vítima cessassem".
"Esse roubo foi praticado exatamente para que a peça fosse colocada no carro do suspeito. A testemunha foi ouvida nos autos e ficou comprovado que ela chegou a impedir que acontecesse algo pior com a vítima", destacou o delegado, em entrevista ao UOL.
No momento que o mecânico estava sendo agredido e torturado, um cliente chegou ao local e percebeu a confusão, mas, segundo a polícia, a testemunha disse que não presenciou as agressões cometidas contra o mecânico.
"Os indiciados permanecem os mesmos suspeitos já identificados e responderão não só pelo crime de tortura, mas também pelo roubo qualificado pelo concurso de pessoas e restrição de liberdade da vítima, tendo em vista que eles fecharam a porta da oficina impedindo que a vítima saísse, assim como que outras pessoas entrassem no local", explicou Adil.
As imagens
Durante as investigações, a Polícia Civil analisou as imagens e afirmou que "os suspeitos aparecem restringindo a liberdade, torturando e causando intenso sofrimento físico como forma de aplicar um castigo na vítima". O suposto motivo do crime seria o fato de a vítima ter uma dívida em dinheiro com os suspeitos.
Na filmagem, a vítima é contida em uma parede, enquanto um homem cobra a dívida e inicia as agressões, e uma pessoa filma sem intervir. O homem empurra a vítima na parede segurando-a pela camisa e indaga sobre o tempo que ela deve o dinheiro. "Por que você está me enrolando até hoje por causa de mixaria?", pergunta o agressor. "Oh, Gustavo, eu não estou te enrolando, velho. Não estou fugindo de te pagar, é porque eu não tenho dinheiro mesmo", explica o mecânico.
O homem dá tapas no rosto da vítima e quebra uma garrafa de cerveja na cabeça dela. "Se ajoelha e pede desculpa, bota a cara aqui que vou te dar um tapa", diz. O homem se ajoelha e continua a ser agredido. "Não adianta você chorar", diz o homem que filma.
Após uma série de tapas no rosto da vítima, o agressor humilha a vítima a ordenando a ficar de quatro no chão, afirmando que aquele modo é uma posição sexual. As agressões físicas pioram quando o homem começa a dar uma série de chutes e socos no rosto e corpo da vítima. "Está defendendo a cara? Eu sou bandido!", diz o agressor.
Na sequência, o agressor desfere chutes contra a vítima, que cai e tenta se desvencilhar. A vítima pede que as agressões parem e explica que não tem dinheiro para pagar a dívida, mas que o homem pode levar o que quiser do local como pagamento. O espaço parece uma oficina mecânica, pois tem diversos veículos a serem reparados.
Mecânico fugiu com medo
O homem agredido está em outra cidade com medo de sofrer represálias, pois, segundo familiares, os homens apontados como agressores participam de uma facção criminosa, inclusive com passagem no sistema prisional do Mato Grosso.
Familiares da vítima informaram ao UOL que não vão comentar sobre o assunto.
A reportagem tentou localizar a defesa dos indiciados, na tarde de hoje, mas não conseguiu. A Polícia Civil informou que durante a prisão e procedimentos para encaminhamento ao sistema prisional, nenhum advogado se apresentou como representante dos indiciados.
Caso eles não constituam advogado durante os trâmites do processo, eles deverão ser assistidos por um defensor público.
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