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Pilotos sumidos desde 2018 podem ter morrido em acidente na rota do tráfico

Aeronaves desmanchadas foram apreendidas pela Polícia Civil, em Anápolis - Divulgação/Polícia Civil de Goiás
Aeronaves desmanchadas foram apreendidas pela Polícia Civil, em Anápolis Imagem: Divulgação/Polícia Civil de Goiás

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis (SC)

18/01/2021 13h38

Uma investigação sobre o desaparecimento de três pilotos de aeronaves levou a Polícia Civil de Goiás a apreender em Anápolis 11 aviões clandestinos em galpões. Os espaços eram usados como base por uma quadrilha que fazia o transporte de drogas da Bolívia para o Brasil.

A suspeita é de que três pilotos desaparecidos desde 2018 tenham perdido a vida durante a rota do tráfico, pois a investigação descobriu que o trio teria sido cooptado a fazer parte do grupo criminoso. De acordo com a Polícia Civil, existem fortes indícios de que os pilotos morreram no percurso do transporte da droga em razão das características dos voos impostos pela quadrilha.

As aeronaves eram modificadas para receber uma carga maior do que a recomendada e com o abastecimento da aeronave no ar por meio de galões. Além disso, os pilotos seguiam em alturas baixas para não serem identificados por radares e sem o uso de transponder — aparelho para contato com as torres de controle aéreo.

"Essas aeronaves precisavam ter a capacidade de carga aumentada e com o abastecimento em voo. São voos extremamente arriscados porque se deslocam sem transponder, apenas com uma coordenada de GPS de uma pista na Bolívia. Temos indícios de que os três pilotos se acidentaram nisso", comentou hoje o delegado Thiago Martimiano, do Grupo Antissequestro.

A investigação foi revelada hoje pela Polícia Civil, cinco dias depois de os agentes terem apreendido as aeronaves nos galpões de Anápolis. Duas pessoas foram presas temporariamente e contaram a dinâmica do transporte da carga para o Brasil. A suspeita é de que a quadrilha operava há pelo menos cinco anos.

De acordo com o delegado Thiago Martimiano, o alvo dos criminosos eram pilotos inexperientes. Um dos presos na operação de 13 de janeiro confessou à Polícia Civil que levou um dos desaparecidos, o piloto Ivo Benassi Billegas, de 39 anos, até São Félix do Xingu, no Pará, de onde partiu para a Bolívia. A vítima não chegou ao destino.

Nos galpões, a Polícia Civil encontrou aeronaves danificadas. Os investigadores sugerem que sejam aviões acidentados durante o percurso ao longo dos anos. A quadrilha escondia os corpos das vítimas e levava as aeronaves para reparos, com uso de peças importadas do exterior.

"O avião caía, a quadrilha não notificava as autoridades por serem voos ilegais, fazia o reparo clandestino e o mais preocupante: o piloto tinha o corpo ocultado. São três pilotos desaparecidos somente de Goiás", frisou o delegado-geral Odair José Soares.

Na operação, foram apreendidas sete aeronaves em um galpão do aeroporto de Anápolis dos seguintes modelos: Piper Sêneca, Piper PA18, Embraer Minuano, Paulistar Experimental, El Commando Agrícola e duas unidades do Embraer Sêneca.

Já em um bairro residencial, ocorreu a apreensão de mais quatro aeronaves em reformas, o que impossibilitou a identificação dos modelos. A Polícia Civil informou que as investigações continuam para encontrar mais suspeitos da quadrilha. Eles devem ser indiciados pelos crimes de organização criminosa, tráfico de drogas e associação para o tráfico.