Topo

SP: Jovens libertados são recebidos em casa com fogos, funk e estrogonofe

Da esq. para a dir., Kelvin, Alexssandro e Eryk posam com a camiseta da campanha que pediu a liberdade deles - Marcelo Oliveira/UOL
Da esq. para a dir., Kelvin, Alexssandro e Eryk posam com a camiseta da campanha que pediu a liberdade deles Imagem: Marcelo Oliveira/UOL

Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

21/01/2021 10h45

Os jovens Alexssandro Marques do Nascimento, 18; Eryk Bueno Pimentel, 20; e Kelvin Nascimento de Amancio, 22, libertados no fim da tarde de ontem, após dois meses presos por roubo de carga, foram recebidos por pais, amigos e familiares no Capão Redondo, zona sul de São Paulo, com queima de fogos, funk e suas comidas preferidas. Os rapazes e os pais afirmam que eles foram presos injustamente, pois não cometeram o crime.

Eles conseguiram a liberdade após a juíza Maria Fernanda Belli, da 1ª Vara Criminal de São Paulo, analisar fotos capturadas de imagens de câmeras de segurança obtidas pelos pais dos jovens, que investigaram o caso com a ajuda de um advogado e moradores da região e fizeram campanha pela liberdade deles.

Para a juíza, as imagens obtidas pelos pais dos jovens deixaram claro que eles não estiveram no local do roubo, não descarregaram a carga roubada —como apontado pela Polícia Militar— e não usavam as mesmas roupas dos assaltantes. Ela ressaltou também que o motorista da Fiorino roubada com a carga não os reconheceu.

Os três rapazes foram recebidos por amigos e familiares com fogos de artifício e ao som de funk, ao desembarcarem de ônibus no bairro, vindos do CDP I, de Osasco, na Grande São Paulo, a 14 km de onde vivem. O pai de um deles chegou a ir até a cadeia, mas foi informado que o filho já havia deixado o local.

Em dois meses, quatro prisões

Os jovens passaram por quatro prisões: ficaram um dia no 47º DP (Capão Redondo), um dia no 101º DP (Jardim das Imbuias), 15 dias no CDP Belém, na zona leste da capital, e um mês e meio em Osasco.

"No Belém, a lotação era muito grande e havia muita sujeira, ratos e baratas", contou Alexssandro.

O já magro Eryk perdeu sete quilos na cadeia. "Passei vários dias sem comer após a prisão. Depois comi pouquíssimo. Havia muita carne de porco e eu não como", contou. Simone Moraes Nascimento, mãe de Alexssandro, também reparou que o filho emagreceu.

Kelvin, que casou por procuração com Micaele para que ela pudesse visitá-lo na cadeia, disse que a última cela em que ficaram estava menos lotada, com 29 presos além deles três. "A gente dormia no chão."

O UOL entrou em contato com a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) para comentar as condições e aguarda resposta.

Segundo Kelvin, quando chegou a notícia do alvará de soltura do grupo, os colegas de cela comemoraram.

Os jovens, por não terem passagem e serem primários, foram colocados numa ala de periculosidade baixa do CDP I de Osasco, e sem a presença declarada de facções criminosas. Eles também permaneceram juntos durante todo o período em que estiveram presos.

Os três agora terão que ficar em casa das 22h às 6h e comparecer a todos os atos do processo, que continuará aberto até a eventual absolvição.

Como foi a chegada em casa

A agente de saúde Simone correu para aprontar o estrogonofe de frango a tempo de receber o filho, Alexssandro. "Quando fui visitá-lo, há 15 dias, ele me pediu o prato preferido dele", contou.

Já Kelvin foi recebido com um beijo da esposa. Ele afirmou também que estava com saudades do arroz doce da mãe e Eryk, de estar com a família e estudar astronomia. Perguntado se ele tinha uma luneta ou telescópio, ele disse que estuda pelo Google.

Novo pedido de liberdade provisória

A Ouvidoria da Polícia de São Paulo conversou com os pais dos jovens, instaurou procedimento sobre o caso na segunda-feira (18) e cobrou providências da Corregedoria da PM, da Polícia Civil e do Ministério Público.

Ontem (19), o advogado Wagner Souza fez um novo pedido de liberdade provisória dos jovens e juntou o depoimento dos pais à Ouvidoria, além dos vídeos que ele já havia apresentado à Justiça em dezembro, mas que não tinham sido vistos pela juíza. Ela afirmou na decisão de ontem que só conseguiu ver fotos das imagens dos vídeos.

No caso, também foi preso outro amigo dos jovens, Rafael Marques, 21, que está em prisão domiciliar por tratar transtorno bipolar. Na decisão de ontem, a juíza não mencionou se estenderia a liberdade provisória de Alexssandro, Eryk e Kelvin para Rafael.