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Homem relata troca de brinquedos entre filho e menino encontrado em barril

Renato Siqueira Santos guarda com carinho brinquedo dado ao filho em hospital por menino libertado de barril em Campinas - Felipe de Souza/UOL
Renato Siqueira Santos guarda com carinho brinquedo dado ao filho em hospital por menino libertado de barril em Campinas Imagem: Felipe de Souza/UOL

Felipe de Souza

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

04/02/2021 12h50Atualizada em 04/02/2021 16h49

Antes de ter alta do Hospital Mário Gatti, em Campinas (SP), o menino de 11 anos que foi encontrado dentro de um barril na periferia da cidade fez amizade com um companheiro de internação. O pai do novo amigo conversou com o UOL e contou como viu o processo final de recuperação da vítima de tortura. Os pais seguem presos.

O ajudante de pedreiro Renato Siqueira Santos, 36, levou o filho de 5 anos para o hospital para tratar uma doença respiratória. Anteontem, quando o menino encontrado num barril foi transferido do Hospital Ouro Verde ao Mário Gatti, viu o garoto chegando.

"Ele estava sem camisa, porque saiu da casa sem nenhuma roupa, né? Aí eu doei uma que tinha, que, coincidentemente, servia nele. Foi instantâneo: ele 'grudou' no meu filho e começaram a brincar", afirmou.

Siqueira disse que o menino chegou ainda magro, mas que os pediatras, nutricionistas e nutrólogos se espantaram com a rápida recuperação dele. "Ele já estava brincando, agitado como uma criança de 11 anos. Eu soube que exames foram feitos e não apontaram nenhum problema de saúde mais grave", contou.

'É para você não se esquecer de mim'

Renato guarda com carinho um trator de brinquedo que o garoto deu para o filho dele.

"Foi algo muito bonito, que me emocionou demais. Quando ele estava se despedindo do meu filho, deu esse brinquedo, dizendo que era para meu filho nunca se esquecer dele", lembrou.

"Em troca, ele recebeu um boneco do Hulk. E meu filho disse: 'E isso é para que você não se esqueça de mim'", contou, emocionado.

Investigações continuam

A Polícia Civil deve ouvir o menino nos próximos dias para que ele possa contar o que se lembra, e de quais situações passou até chegar ao barril. O menino está em um abrigo municipal, mas outros detalhes não foram divulgados por conta do segredo de justiça.

Já prestaram depoimento os pais, vizinhos e alguns parentes mais próximos. O inquérito é comandado pela equipe da 1ª Delegacia de Defesa da Mulher da cidade.

Madrasta e meia-irmã foram transferidas na tarde de hoje para a Penitenciária de Tremembé (SP), no Vale do Paraíba. A transferência, segundo a Secretaria de Administração Penitenciária, aconteceu por causa da repercussão do caso.

A prisão abriga em regime fechado mulheres sentenciadas por casos conhecidos nacionalmente, como é o caso de Suzane von Richthofen, condenada por matar os pais em 2002, e Anna Carolina Jatobá, condenada pela morte da enteada Isabela Nardoni.

O Ministério Público ouviu alguns funcionários do Conselho Tutelar, via reunião virtual. O objetivo é saber quais foram as últimas visitas realizadas e todo o processo de atendimento à família da criança. O MP abriu um procedimento interno para apurar possíveis irregularidades e omissões no caso, e determinou a revisão de todos os acompanhamentos à famílias registrados nos últimos três meses.

A Vara da Infância e Juventude começou a analisar o caso para definir o futuro do garoto: se ele vai ficar com a tia que o acompanhou no hospital ou será colocado para adoção. Não há informações sobre o andamento desse processo, também por conta do sigilo garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

Enquanto isso, a investigação interna da Prefeitura de Campinas, determinada pelo prefeito Dário Saadi (Republicanos), continua. O prazo final para a entrega de um relatório com todos os dados é dentro de 60 dias, porém devido à proporção do caso, pode ficar pronto antes.

No abrigo, o garoto está recebendo acompanhamento psicológico, médico e nutricional.