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Entregador diz que perdeu emprego após parar para salvar jovem em acidente

Entregador ajudou a salvar vítima de acidente em Bertioga (SP) - Arquivo Pessoal
Entregador ajudou a salvar vítima de acidente em Bertioga (SP) Imagem: Arquivo Pessoal

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

09/02/2021 16h20Atualizada em 09/02/2021 18h14

Um acidente que se transformou em uma história de preocupação com o próximo. Essa foi a experiência vivida na arriscada rodovia Rio-Santos (SP-55) pelo entregador Robsom dos Santos, 35, na manhã de ontem, em Bertioga, litoral de São Paulo.

Morador do bairro Jardim Vicente de Carvalho II, ele se deslocava em sua moto para o trabalho no centro da cidade, entre 10h30 e 11h30, quando foi ultrapassado por um Voyage cor prata, que perdeu o controle da direção e, depois de quase derrubá-lo, capotou diversas vezes em direção à mata que ladeia a estrada.

Foi tudo tão rápido que antes mesmo do entregador ter tempo de "agradecer a Deus por ter salvo a sua vida", ele se viu parando, largando a moto no acostamento e atravessando a pista "feito louco", na intenção de socorrer seja lá quem estivesse no interior do Voyage. A sensação, contou hoje ao UOL, era de que estava como que participando de um filme. Os pensamentos não surgiam com claridade, naquele momento, ele apenas respondia a "um impulso incontrolável de salvar" os passageiros do veículo.

"Eu vi que ele ia se dar mal quando ele tentou me cortar. Percebi que o carro começou a jogar para um lado e para o outro. Foi quando tomei o primeiro susto e quase caí. Ele trouxe o carro com tudo para minha frente, tive que segurar o guidão da moto com força para não perder o controle. Se eu caísse naquele momento, não teria sobrevivido. Mas de repente, foi o carro que tombou na direção da pista da esquerda. E aí ele foi capotando, capotando, umas cinco ou seis vezes até parar numa ribanceira".

Assim que atravessou a pista, o entregador notou que o carro havia caído dentro de um riacho, de água bem escura. Foi quando ele se desesperou ainda mais, pois metade do carro, do lado do passageiro, estava encoberto pela água.

"Eu gritava para o motorista se ele estava bem, se podia falar. E graças a Deus ele começou a responder. Perguntei se tinha alguém com ele, no banco de passageiros, ele disse que não. Nessa hora surgiu um outro cara, que também tinha parado no acostamento para ajudar no socorro, e conseguimos puxar a vítima pela janela, agarrando pelos braços. Era um rapaz de uns 25 ou 35 anos."

O entregador Robsom dos Santos, 35 - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O entregador Robsom dos Santos, 35
Imagem: Arquivo Pessoal

Atrasado para entregas, herói perde o emprego

Robsom conta que, ao sair de casa para dirigir-se ao trabalho, já estava atrasado. E que atravessava os cerca de 5 km que separavam sua casa do serviço preocupado, pois ainda estava no primeiro mês do período de experiência. Porém, ao mesmo tempo, ele diz que não podia deixar o rapaz que se acidentou para trás.

Criado no seio de uma família evangélica, ele acredita ter sido colocado no local e na hora certa pela "mão Divina" para salvar o rapaz do capotamento. Ainda mais porque, no ano passado, foi "guiado" para efetuar um curso de atendimento de primeiros socorros pela Internet.

"Nunca imaginei que um dia iria usar de verdade esse curso de primeiros socorros. Isso é Deus agindo na vida da gente. Bom, mas aí quando a gente conseguiu puxar o cara para fora do carro, meu patrão começou a me ligar. Queria saber onde estava e quanto tempo eu ia demorar. Tirei fotos para mandar para ele, contei toda a história. Ele não gostou muito, não. Daí fiquei mais um tempo com a vítima, conversando e só fui embora quando o guincho chegou".

Robsom conta que seu patrão lhe deu uma bronca pelo atraso, já que uma série de entregas foram interrompidas por conta da demora do entregador em chegar ao trabalho. O empregador, então, teria feito ele realizar todas as entregas atrasadas e, quando chegou a hora do almoço, o dispensou.

"Ele não entendeu minha atitude. Não compreendeu a gravidade do que aconteceu. Mas eu não me arrependo, não. Fazer o quê? Emprego a gente consegue depois, mas a vida de alguém a gente não recupera depois que ela morre".

A prefeitura de Bertioga informou, por meio de nota ao UOL, que o INTS (Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde), responsável pela gestão do Hospital Municipal de Bertioga, registrou que a vítima de acidente de carro deu entrada ontem (8) na unidade, por volta das 11h, levada pelos bombeiros. Ela fez exames clínicos e de imagem e ficou em observação, recebendo alta no final da tarde.