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Família diz que menino morto no Rio foi retirado da porta de casa pela PM

A família do adolescente Ray Pinto Faria, de 14 anos, acusa policiais pela morte - Arquivo Pessoal
A família do adolescente Ray Pinto Faria, de 14 anos, acusa policiais pela morte Imagem: Arquivo Pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

23/02/2021 10h10

A família do adolescente Ray Pinto Faria, de 14 anos, encontrado morto ontem em um hospital do Rio com ao menos dois tiros, afirma que a criança foi retirada da porta de casa pela PM e morta em seguida. As armas dos policiais militares que participaram da ação foram apreendidas e passarão por perícia, segundo a Polícia Civil.

Ray estava na frente da casa onde mora, no bairro do Campinho, na zona norte do Rio, jogando no aparelho celular, quando foi abordado. De acordo com uma tia do rapaz, que não terá o nome divulgado por questões de segurança, foram horas de buscas pela criança que foi encontrada morta no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, também na zona norte.

No hospital, a família tomou conhecimento que Ray foi levado para a unidade de saúde juntamente com outras duas vítimas. De acordo com a tia, no hospital foi informado que o menino era do Morro do 18 - a quase 5 km de distância da casa dele.

"Ouvimos na comunidade que ele foi retirado da porta de casa, levado para outra comunidade e chegou morto no [hospital] Salgado Filho. A família ficou horas procurando por ele. Perguntaram aos policiais, eles ficaram debochando e dizendo que não haviam pegado ninguém com as características do Ray. Foi um sofrimento. Até que localizaram o Ray morto no hospital", disse ela.

A família negou ainda a ocorrência de confronto entre PM e bandidos na região e que o adolescente tivesse qualquer envolvimento com o tráfico. Segundo a família, o menino tinha duas marcas de tiros no corpo: uma no abdômen e outro na perna.

Um outro parente do adolescente informou à ONG Rio de Paz, que acompanha o caso, que moradores denunciaram ainda que os policiais mexeram em câmeras de segurança de uma padaria perto de onde Ray sumiu para que ação no local não fosse filmada.

"Meu sobrinho não é bandido. Ele era menor de idade, era uma criança, ele não era um bicho, não era um monstro (...) Eles batem em morador, xingam, fazem algazarra e agora vieram e mataram meu sobrinho. Executaram ele, enrolaram ele e levaram para outro lugar", denunciou o tio da criança.

Procurada, a Polícia Civil informou que as investigações estão em andamento pela Delegacia de Homicídios da Capital e que familiares da vítima e os policiais militares envolvidos na operação já prestaram depoimento.

"Diligências estão sendo realizadas para identificar outras testemunhas que ajudem a esclarecer o homicídio. As armas dos policiais militares que participaram da ação foram apreendidas e passarão por perícia. O corpo da vítima foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML), onde passa por exames".

Já a PM informou apenas que o 1º Comando de Policiamento de Área (CPA) e o Comando de Operações Especiais (COE) atuaram ontem na zona norte e parte da zona oeste da cidade, para coibir a ação de grupos criminosos que disputam a região da Praça Seca, na zona oeste. As equipes estiveram ontem em oito comunidades: Caixa D' Água, Camarista Méier, Campinho, Fubá, Lemos Brito, Morro do Dezoito, Morro do Urubu e Saçu. De acordo com a PM, durante as ações, foram apreendidos três fuzis, três pistolas, duas granadas e entorpecentes.

"Três indivíduos foram atingidos e socorridos ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, onde não resistiram. Um quarto suspeito foi detido. Todas as circunstâncias das ações estão sendo apuradas pelo Comando de Operações Especiais (COE) e pelo 1° Comando de Policiamento de Área (CPA)", informou a corporação através de nota.

Ônibus incendiado

Em protesto contra a morte do menino, moradores da região depredaram um ônibus na Avenida Ernani Cardoso, em Cascadura, na zona norte. O motorista do coletivo chegou a ser agredido. A PM interveio na ação e 29 pessoas foram conduzidas à delegacia. À noite, outro ônibus foi incendiado na região.

Duas crianças mortas no RJ

Segundo a "Rio de Paz", duas crianças foram mortas somente neste ano, vítima de armas de fogo. Antes do adolescente Ray, morreu Ana Clara Gomes, de 5 anos, baleada na porta de casa, na comunidade do Monan Pequeno, em Niterói - cidade da região metropolitana do Rio. A família disse que o tiro que atingiu a menina partiu da PM.

Já no começo do ano, morreu a menina Alice, de 5 anos, baleada no Morro do Turano, no Rio Comprido, na zona norte, vítima de bala perdida. Desde 2007, 81 crianças morreram vítimas de arma de fogo no Rio.