Filha autista e mãe de 47 anos são aprovadas juntas em universidade pública
Mãe e filha estudaram e foram aprovadas juntas no vestibular da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Elizandra Silva de Moura, de 47 anos, e Eloísa Elena Silva de Moura Lima, de 18 anos, relataram ao UOL a decisão de iniciar a rotina de estudos e o diagnóstico de autismo revelado no ano passado.
Eloísa é autista e ficou desmotivada quando viu que não foi aprovada para o curso de Farmácia, no vestibular de 2019. O resultado insatisfatório despertou gatilhos na mente da jovem, que lembrava constantemente das dificuldades que enfrentou ainda no ensino médio.
"Achei que não conseguiria entrar para a universidade porque eu nunca cheguei a ficar no top 10 da escola — e não por eu ser autista, mas por ter um comportamento diferente das outras pessoas. Diziam 'você é lerda', 'burra', 'por que você não entende isso?', já que eu não conseguia entender algumas coisas simples", conta a jovem de 18 anos.
Elizandra procurou médicos para encontrar respostas sobre o comportamento diferenciado da filha em relação as outras crianças, mas não obteve respostas concretas.
"Percorremos vários tipos de médico e não conseguíamos chegar a um senso. Ela tomou medicamento quando era pequena e depois não procurou mais", conta Elizandra.
Eloísa foi diagnosticada com autismo nível 1 aos 17 anos, mas não desistiu do sonho de estudar Farmácia. Com o fechamento das escolas por conta da pandemia de covid-19, Eloísa não conseguiu ter o mesmo rendimento de outrora no curso preparatório, e precisou da ajuda da mãe para manter o objetivo vivo.
Elizandra é dona de casa desde que a filha nasceu. O marido, caminhoneiro, fica pouco tempo em casa, restando tempo para que as duas se aproximassem. A mãe estimulou a filha para estudar para o vestibular. Consultaram vídeos no YouTube, pré-vestibulares online e outros recursos, mas ainda faltava um empurrãozinho.
"Tive a ideia de fazer o vestibular, e comecei a estudar com ela depois que escolhi prestar para Geografia", conta a mãe. O empenho das duas foi premiado com as melhores posições no vestibular.
O momento da aprovação também tinha que ser especial. Eloísa ligou a câmera do celular, apoiou na mesa próxima ao computador e leu: "2º lugar, Geografia Bacharelada, Elizandra Silva de Moura".
A menina ficou emocionada e ansiosa para descobrir o seu resultado. Em seguida, leu "4º (lugar)", e foi às lagrimas, recebendo o carinho dos pais.
"Sinto que tirei um grande peso das costas passando desse vestibular. Achei que nunca fosse conseguir fazer isso, quando vi que estava no top 5 não consegui acreditar", descreve a estudante de Farmácia.
Em instantes passou um filme pela cabeça da garota, de quando recebeu o diagnóstico do espectro e dos desafios que encontrou no caminho.
"Na hora eu senti que poderia compreender certas coisas que eu fazia, eu fiquei presa naquele estereótipo: 'o que o povo vai pensar de mim', 'eu sou autista', e agora tem gente que se inspira em mim, pois também é representatividade", diz Eloísa, que recebeu mensagens de outros autistas dizendo que se inspiravam nela. "A dificuldade de ser autista na sociedade e de ser mulher são muito grandes", desabafa.
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