Fase mais restritiva do Plano SP amanhece com transporte público lotado
A preocupação com a expansão e um possível contágio da covid-19 não foi suficiente para impedir que trabalhadores madrugassem no extremo leste de São Paulo, na manhã de hoje, e enfrentassem a superlotação no transporte público para se dirigirem ao centro e demais regiões da capital paulista.
Itaquera, que concentra um terminal de ônibus e uma estação interligada entre a CPTM e o Metrô, amanheceu no primeiro dia da fase emergencial do Plano São Paulo, a mais rígida medida restritiva planejada pelo governo paulista contra a pandemia, com coletivos e vagões cheios. No Brás e na Luz, na região central, pontos de baldeação, também havia aglomeração.
Adolescentes, adultos e idosos usavam máscaras no rosto e passavam álcool em gel nas mãos, mas se espremiam aglomerados nos coletivos e vagões com ar-condicionado e sem janelas abertas. As expressões faciais das pessoas já antecipavam à reportagem o que os trabalhadores disseram posteriormente: Há pânico de estar ali, mas, sem auxílio e segurança financeira, a população se arrisca.
Sem fiscalização, a ideia do governo paulista, de sugerir horários diferentes de entrada de funcionários de atividades essenciais — da indústria, serviço e comércio —, para tentar desafogar o transporte público, não deu certo. Apesar de apenas esses serviços essenciais terem permissão de funcionar até 30 de março, com restrições, ainda há trabalhos, sobretudo os informais, a todo vapor.
O assistente administrativo Ivo Alexandre, 49, sai diariamente de Itaquera e vai até o Brás, na região central, onde trabalha em um escritório, e diz que o trem nos últimos dias está bem movimentado. "Não vi queda de passageiro. A movimentação continua praticamente normal. Na pandemia do ano passado, entre abril, maio e junho, estava bem melhor o fluxo", afirma.
Ele relata que, dentro do seu local de trabalho, há distanciamento e higienização constante. No entanto, não consegue escapar de aglomeração no caminho do serviço. "A gente tenta ficar o mais distante possível, mas não tem como por causa do movimento e fluxo de passageiros", diz.
Assim como o assistente administrativo, Eduarda Silva Araújo, 21, também entra no trem em Itaquera diariamente, mas o destino final dela é na Luz. No centro da cidade, ela trabalha em uma lanchonete. Ela afirma que, durante a pandemia, o transporte público está "horrível": "Não adianta nada o que está acontecendo fora [do transporte, sobre medidas de proteção], sendo que dentro é muito apertado."
É muita aglomeração. Muita gente junta. Muita gente em cima da outra.
Eduarda Silva Araújo
Quem utiliza o transporte para se locomover nos bairros, sem ir ao centro, também passa por aglomeração. É o caso de Zézio da Silva, 65, que sai de Ferraz de Vasconcelos e desce em Itaquera onde trabalha em uma gráfica. "A gente tem medo, mas tem que trabalhar. Eu tenho serviço pra entregar pro cliente e, se eu não entregar, como é que fica?", questiona.
Silva diz que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem influência direta na crise sanitária que atinge o Brasil. "Ele fica brincando. Ele não usa máscara. O país não vai desse jeito. Ele não comprou vacina. Os caras ofereceram vacina pra ele o ano passado e ele achou que a pandemia era uma brincadeira", complementa.
Já Antonia Rocha, 55, utilizava o transporte na manhã de hoje para encontrar sua filha que está grávida. Sem conseguir se sentar em um vagão cheio, ela disse que, hoje, o transporte estava mais vazio do que o normal. "É assim mesmo. É a vida. Mas tudo vai passar. É só ter fé, né?".
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