Topo

Esse conteúdo é antigo

RJ: PM e viúva do miliciano Adriano da Nóbrega são alvos de operação

Foram encontrados R$ 75 mil com Carla Chaves Fontan durante Operação Gárgula do Ministério Público do Rio - Divulgação/MPRJ
Foram encontrados R$ 75 mil com Carla Chaves Fontan durante Operação Gárgula do Ministério Público do Rio Imagem: Divulgação/MPRJ

Rai Aquino

Colaboração para o UOL, no Rio

22/03/2021 09h05Atualizada em 22/03/2021 21h43

O soldado da Polícia Militar do Rio de Janeiro Rodrigo Bitencourt Fernandes Pereira do Rego foi preso hoje durante a Operação Gárgula, que o MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) faz contra movimentação financeira de recursos do miliciano e ex-PM Adriano da Nóbrega. A viúva de Nóbrega, Julia Emilia Mello Lotufo, também é procurada e já é considerada foragida.

Adriano da Nóbrega foi morto em confronto com forças de segurança da Bahia em fevereiro do ano passado, em um sítio onde se escondia na cidade de Esplanada. Ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), ele era tido como chefe do grupo de matadores de aluguel conhecido como "Escritório do Crime", que age em Rio das Pedras e adjacências, na Zona Oeste da capital fluminense.

Além de prender o soldado Bitencourt, a Operação Gárgula apreendeu com ele uma Mercedes-Benz Ago e um Toyota Corolla sem placa. Na casa de outra investigada, Carla Chaves Fontan, foram encontrados R$ 75 mil em espécie.

Outras duas pessoas são procuradas e ao todo 27 mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos. Todos os mandados foram expedidos pela I Vara Criminal Especializada da Capital.

A Justiça também autorizou o sequestro do haras Fazenda Modelo, que fica em Guapimirim, na Região Metropolitana do Rio, automóveis e bloqueio de bens que equivalem a R$ 8,4 milhões, correspondentes ao valor mínimo constatado em movimentações pelos criminosos.

Alvos dos mandados de prisão

  • Rodrigo Bitencourt Fernandes Pereira do Rego: PM preso hoje
  • Julia Emilia Mello Lotufo: Viúva de Adriano
  • Daniel Haddad Bittencourt Fernandes Leal
  • Luiz Carlos Felipe Martins (conhecido como Orelha): Sargento da PM morto no último sábado (20)

Outros investigados (com pedidos de medidas cautelares de prisão)

  • Carla Chaves Fontan
  • Carolina Mandin Nicolau
  • Jefferson Renato Candido da Conceição (o Sapo)
  • David de Mello Lotufo
  • Lucas Mello Lotufo

Empréstimos

De acordo com o MPRJ, a organização criminosa alvo da operação de hoje é responsável pela movimentação financeira e lavagem de dinheiro de Adriano da Nóbrega. A ação é um desdobramento da Operação Intocáveis, realizada em janeiro de 2019 e que prendeu cinco pessoas suspeitas de envolvimento com o grupo paramilitar.

Os alvos da operação, segundo o MP, fazem parte de uma rede de apoio de Nóbrega que seria responsável por lavar o dinheiro obtido por ele em seus crimes. Ainda de acordo com o Ministério Público do Rio, sob o comando do ex-capitão do Bope, os nove denunciados praticaram crimes de agiotagem e lavagem de dinheiro em favor do miliciano. As manobras procuravam a ocultação e dissimulação da origem do dinheiro ilegal.

A denúncia do MPRJ, oferecida à Justiça em 20 de dezembro do ano passado, aponta que a partir de 2017 até 9 de fevereiro de 2020, Rodrigo Bittencourt, Julia Lotufo, Carolina Nicolau, Daniel Haddad, Carla Fontan e Luiz Carlos Martins, sob as ordens de Adriano, atuaram na concessão de empréstimos a juros exorbitantes a terceiros (até 22%). Eles usavam empresas de fachada na atuação.

Um dos carros apreendido na operação - Divulgação/MPRJ - Divulgação/MPRJ
Um dos carros apreendido na operação
Imagem: Divulgação/MPRJ

O dinheiro investido para esses empréstimos, diz a denúncia, vinha dos lucros obtidos pelo miliciano com os crimes da organização paramilitar, além de seu envolvimento na contravenção. As atividades, segundo o Ministério Público, lhe rendiam valores significativos que justificam sua incompatível evolução patrimonial como ex-capitão da PM.

Também de acordo com a investigação, a origem do dinheiro usado para a concessão de empréstimos era dissimulada por essas empresas, com o auxílio dos agora denunciados, responsáveis pelas operações financeiras do miliciano.

Laranjas

Uma das empresas utilizadas para a lavagem de dinheiro, segundo o MP, era a Cred Tech Negócios Financeiros LTDA, que tem como sócios o soldado Bittencourt e Carolina Mandin. As investigações apontaram que a empresa de fachada movimentou, de 1º de agosto de 2019 a 28 de abril de 2020, R$ 3.624.531,00.

Jefferson da Conceição e Daniel Haddad Leal são suspeitos de atuarem como "laranjas" no esquema de lavagem de dinheiro. Os bens dos devedores da Cred Tech eram confiscados por eles e passados para seus nomes, ainda segundo o MPRJ. Após a morte de Adriano, não houve movimentação pela empresa.

Daniel foi alvo de busca e apreensão em fevereiro de 2020, quando foi apreendido com ele R$ 124,6 mil, pertencentes à organização criminosa.

Um dos carros apreendido na operação - Divulgação/MPRJ - Divulgação/MPRJ
Um dos carros apreendido na operação
Imagem: Divulgação/MPRJ

Luiz Carlos Felipe Martins é apontado pelo MP como homem de confiança de Adriano e que o auxiliava na administração dos valores que seriam colocados na "praça" para os empréstimos. Ele é suspeito de ser o responsável por levar valores a familiares e prestadores de serviços do ex-PM e pelo pagamento das despesas pessoais dele com aluguel, carros e cartões de crédito. A ação penal em relação a ele será extinta por causa de sua morte no sábado.

Atuação da viúva

Já a viúva de Adriano, Julia Lotufo, é apontada pelo MP como a responsável pela contabilidade e gestão financeira dos lucros obtidos nas atividades criminosas de Adriano, como a liderança da milícia de Rio das Pedras. Segundo a investigação, era a ela, também, que Rodrigo, Daniel e Luiz Felipe se reportavam para prestar contas sobre os valores pertencentes do então chefe, que eram oferecidos nos empréstimos ou para a constituição de outra sociedade empresária, a Lucho Comércio de Bebidas, suspeita de ter sido utilizada para a lavagem de dinheiro, cujos sócios eram Rodrigo Bittencourt e Carla Fontan.

O MPRJ também diz que, alguns meses após a morte de Adriano, Rodrigo e Carla transferiram todo o capital social da Lucho a Lucas Lotufo e David Lotufo, irmãos de Julia. A alteração contratual evidencia, segundo os investigadores, que Julia permaneceu agindo para ocultar e administrar o patrimônio de Adriano, beneficiando-se diretamente do resultado dos crimes por ele praticados.

A investigação aponta também que Julia, assim como Luiz Carlos Felipe, atuou na dilapidação do patrimônio de Adriano com a venda imediata de ativos de alta liquidez.